O CULTO DOS SANTOS NA IGREJA PRIMITIVA
1 – Sendo os
Santos amigos de Deus pela santidade, e nossos, pela sua
perfeita caridade, é justo que lhes tributemos os louvores que,
sob esse duplo título, merecem; e que nos recomendemos à sua
intercessão junto de Deus. É justo, visto que neles também se realiza,
embora em grau bem menor, mas bem verdadeiro, o que disse de Si mesma, mas
cheia do Espírito Santo, a mais santa que todos os Santos, Maria
Santíssima: “Todas as gerações me proclamarão bem-aventurada,
porque fez em mim grandes coisas o Todo-Poderoso.” (Lc 1,48-49)
2 –Vê-se, por essas palavras
inspiradas, que o louvor dos Santos redunda em louvor e glória de Deus, pois os
Santos são obras-primas da sua sabedoria, bondade e poder.
Quando os louvamos, é a seu Autor que louvamos. De fato, sendo “Deus
admirável em tudo o que é Santo” (Salmo), e sendo os Santos,
principalmente, obra de sua graça, Deus os ama de modo especial. Aliás,
no preceito de “amar e honrar a Deus” está incluído o
de amar e honrar o que Ele ama e honra; e segundo a ordem com
a qual Ele o faz. E Deus ama, de modo especial, os seus Santos: a Jesus
Cristo enquanto Homem, depois a Nossa Senhora, depois aos Anjos e a todos
os Santos da glória; e às santas almas do Purgatório; e aos que ainda pelejam
neste mundo.
3 – Eis porque, já nos dois
primeiros séculos do Cristianismo, encontramos registrada a prática de um culto
prestado aos Santos, especialmente aos heróis da fé, os mártires
cristãos. É útil conhecer alguns documentos históricos dessa época, que
atestam remontar às origens do Cristianismo a prática do culto aos Santos. Já
provamos que ela lança raízes no Antigo Testamento. (Cf. Folhetos Católicos, nº 03)
A – Documentos de autores dessa época
4 – Bem no começo do 2º século
(ano 107), Santo Inácio Mártir, que foi discípulo
direto dos Apóstolos e Bispo de Antioquia, quando era levado cativo a Roma,
aonde ia ser devorado pelas feras por causa da fé católica, afirma em uma carta
que escreveu aos fiéis de Éfeso: “Sou vossa vítima, e me ofereço em
sacrifício por vossa Igreja.” (Carta aos efésios, nº
21) É este um testemunho da fé da Igreja no valor do martírio sofrido por causa
da fé.
5 – Uma carta
com data do ano 156, enviada pelos fiéis da comunidade cristã de Esmirna
à comunidade da Frígia (Filomélia), dá notícia de reuniões
religiosas e cultuais dos cristãos de Esmirna, realizada no túmulo (“relíquias
mais preciosas que o ouro e pedras preciosas” – diz a carta) de seu
Bispo e Mártir, São Policarpo, por ocasião dos aniversários de seu
martírio. (Padres Gregos, 5, 1029-1045) É já a prática da
Igreja ao festejar o aniversário do triunfo dos Mártires e dos
Santos.
6 – Também Orígenes, que viveu
no século II e começo do III, atesta a fé da Igreja Católica na
intercessão dos Santos, nesses termos: “O Pontífice não é o único a se
unir aos orantes; os Anjos e as almas dos justos também se
unem a eles na oração.” (Em “De Oratione”)
7 – E em outro
livro dá Orígenes o fundamento dessa mediação: “Eles conhecem os que
são dignos da amizade de Deus, e auxiliam os que querem honrá-lO.” (Em
“Contra Celsum”)
O mesmo ensinamento encontramos em São
Cipriano, Bispo de Cartago, martirizado no ano 256. Em carta ao Papa São
Cornélio, afirma: “Se um de nós partir primeiro deste mundo, não
cessem as nossas orações pelos irmãos.” (Carta 57)
B – As Atas dos Mártires
8 – A mesma
verdade é atestada pelas Atas autênticas do suplício dos mártires. Assim, Santa
Teodósia, em Tiro, pedia aos mártires, na hora em que iam para o suplício,
que se lembrassem dela quando tivessem recebido a recompensa. E Santa
Pantomina, em Alexandria, na hora de seu próprio martírio, prometeu ao
soldado que a conduzia que ia pedir por ele quando estivesse junto de Deus. (Em
“Eusébio”,1.6, c. 2; apud Lúcio Navarro (Monsenhor), “A legítima
interpretação da Bíblia, p. 542)
9 – Também em Tarragona, o
Bispo Mártir São Frutuoso, na hora do suplício, vendo que muitos
fiéis faziam fila e lhe pediam a mesma graça de que não se esquecesse deles
quando estivesse junto de Deus, falou para todos em voz alta:“Sim, eu devo
ter em mente toda a Igreja espalhada pelo mundo, do Oriente ao Ocidente.” (Acta
Fructuosi, 1,7)
10 – Fiquemos com
esses exemplos, por brevidade. Mas notemos que, transcorrido o tempo das
perseguições sangrentas que banharam a terra com o sangue generoso dos heróis
da fé, era normal que continuasse a ser lembrada com carinho e espírito de fé,
a memória de sua fé e santidade. E especialmente no dia de seu nascimento para
a glória, como era chamado o seu “dies natalis” (o dia
natalício para a glória), se lhe prestasse culto especial.
C – Documentos Arqueológicos
11 – A fé dos cristãos dos três
primeiros séculos nessa verdade está também registrada em muitas
inscrições gravadas nos túmulos de santos cristãos e mártires da fé. Eis alguns
exemplos:
– No Cemitério de São Pânfilo: “Mártires
santos, bons e benditos, ajudai a Ciríaco”;
– No Cemitério de Aquiléia: “Santos
Mártires, lembrai-vos de Maria”;
– Na Via Salária lemos
também esta inscrição: “Genciano, fiel em paz… Que em tuas orações,
rogues por nós porque sabemos que estás em Cristo”;
– No Cemitério de Gordiano esta
outra: “Sebácio, doce alma, pede e roga por teus irmãos e companheiros”;
– E no de São Calixto:
“Vicência, pede em Cristo por Febe e seu esposo”.
– No Cemitério de Priscila: “Anatólio…
teu espírito descanse em Deus. Pede por tua mãe”.
São alguns registros apenas. Ver outros
em Lúcio Navarro –Ibidem, pg. 541-542- Recife, PE.
12 – Foi
certamente com base em documentos com esses acima transcritos, e em muitos
outros, que o sábio Leibnitz – protestante, mas que estudou com lealdade esse
assunto – deixo-nos o seguinte e importante depoimento: “É certo que já no
segundo século da Igreja Cristã, eram celebradas as festas dos mártires, e que
em seus túmulos se reuniam assembléias religiosas.” (Em “Syst. Theol.”, p. 70)
13 – Note-se que a expressão “assembléias
religiosas” indica as “reuniões cultuais” dos
primeiros cristãos para celebrar os Mistérios Eucarísticos, ou Santa Missa, e
que na época das perseguições religiosas, era também celebrada sobre os túmulos
dos mártires nas catacumbas. Eis a razão da “pedra d´ara” dos nossos altares,
que contém relíquia dos mártires, e sobre a qual se celebra a Santa Missa.
14 – Conclusão: A devoção ou
culto dos Santos, como é praticado na Igreja Católica – e não nas
superstições espíritas e folclóricas – teve sua origem na Igreja
Primitiva ou Apostólica, que era dirigida, ou pelos
Apóstolos diretamente, ou pelos santos Bispos que os Apóstolos mesmos
estabeleceram para substituí-los, e não tardiamente, no século IV, como
falsamente pretendem os protestantes.
15 – Eis os
motivos de garantia da legitimidade da devoção aos Santos. Eis
como a única Igreja de Cristo (Mt 16,18), a que unicamente tem a promessa de
sua assistência divina (Mt 28,20), explicitou os textos sagrados que
contêm a verdade bíblica da intercessão dos Anjos e Santos. (Cf “Folhetos Católicos”, nº 3) Ela
orientou assim os fiéis a festejar o dia de seus natalícios para o Céu, a
pedir-lhes auxílio junto de Deus, e a se esforçarem por imitar-lhes as virtudes
cristãs.
Maravilhoso post que merece ser lido amorosamente e atenciosamente. Que o bom Deus nos ajude.
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