Mosteiro da Santa Cruz, Nova Friburgo, 22 de Março de 2015
Domingo da Paixão – Sermão do Padre René Trincado
“Tempus faciendi domine,
dissipaverunt legem tuam (É tempo de atuar, Senhor, vossa fé será
violada). Já é tempo de fazer que foi prometido. Violada está a vossa divina
lei; abandonado está o vosso Evangelho; torrentes de iniqüidade inundam toda a
terra e arrastam aos vossos mesmos servos. Desolada está a terra, a impiedade
se assenta nos tronos (Comentário do Padre Trincado: a Democracia),
vosso santuário é profanado, a abominação está no lugar santo. Deixarás tudo
abandonado assim, Senhor justo, Deus das vinganças? Tudo chegará a ser como
Sodoma e Gomorra? Calarás-te para sempre? Seguirás suportando a tudo?” São
palavras proféticas de São Luis Maria Grignon de Montfort, que descrevem a
inauguração do último concílio. E nesse espantoso panorama de
devastação geral, somente um cego pode negar ou colocar em dúvida a
necessidade, mais urgente que nunca na história da Igreja, de se ter bispos que
nos dêem a doutrina Católica íntegra, a Verdade salvadora.
Acusa-se a Resistência de causar a
divisão dos que devem estar unidos, de soberba e de desobediência. Antes
acusaram a Monsenhor Lefebvre exatamente do mesmo. Os que nos acusam de romper
a unidade padecem desses sonhos pacifistas tão característicos dos liberais.
Nossa resposta está nas palavras eternas de Cristo: “Não vim para trazer a
paz, mas sim a espada e a divisão” (Mt. 10,34; Lc.
12,51). “Eu vos deixo a paz, eu vos dou a minha paz; não como vos dá o
mundo, Eu vo-los dou.” (Jn 14,27).
Nosso Senhor nos ensina que uma é a paz
do mundo e outra é a paz de Cristo. Que há uma paz boa e uma paz má, e que há
uma divisão boa e uma divisão má. “A paz de Cristo é a união que Ele
estabelece entre o céu e a terra por sua Cruz” (Col. 1), diz São Cirilo citando a São Paulo, e acrescenta que toda paz que
separa do amor divino é má. E São João Crisóstomo, falando da boa espada ou boa
divisão, diz que o médico, a fim de salvar o resto do corpo, corta o que se tem
de incurável. Acrescenta também que uma divisão boa terminou com a má paz da
Torre de Babel e que São Paulo, por sua parte, dividiu a todos os que se haviam
unido contra ele (Hch. 23). São João Crisóstomo assinala que
Cristo veio para dar início à guerra católica e São Eusébio
ensina que Nosso Senhor, fazendo-nos o exército do Reino dos Céus, dispôs-nos
para o combate contra os inimigos. Estas citações provam a mentira do pacifismo
dos liberais.
Agora bem, logo depois de quase
vinte séculos de guerra, de resistência da Igreja entre duros combates, veio o
demônio finalmente com a sua obra mestra, o Concílio Vaticano II, para destruir
a vontade de lutar dos soltados de Cristo. Com efeito, o liberalismo,
batizado no concílio, acabou com a guerra: firmou-se por fim a paz com o
demônio, o mundo e a carne.
Contra este engano diabólico
levantou-se valorosa e resolutamente o nosso fundador, Monsenhor Marcel
Lefebvre, mas 40 anos depois vemos a congregação que lutava
gloriosamente em defesa de Cristo, abandonando gradualmente a trincheira,
deixando paulatinamente de combater e mendigando migalhas à seita conciliar.Perdida
a esperança na conversão de Roma pelo poder divino (coisa que parece impossível
aos que deixaram de confiar inteiramente em Deus) e esquecendo-se que esta
guerra não é dos homens, mas sim de Deus; busca-se um auxílio humano, uma
aliança adúltera com os liberais moderados, a ajuda de supostos “novos amigos em
Roma”(Cor Unum 101), pretende-se um acordo de paz com o
inimigo, pensa-se que entrando na estrutura oficial, os tradicionalistas
converterão pouco a pouco aos modernistas e, desse modo, a Igreja estará
restaurada. Mas tudo isso não é mais que uma horrorosa ilusão de origem
indubitavelmente diabólica, ilusão que está fazendo baixar os braços àqueles
que combatiam valorosamente por Cristo: “Não se vêem mais na Fraternidade os
sintomas dessa diminuição na profissão da Fé?”, diziam os três bispos ao
Conselho Geral na sua carta de Abril de 2012. O combater pela fé diminui na
mesma medida que o fumo de Satanás (o liberalismo) se introduz na Tradição por
uma brecha aberta a partir do lado de dentro e pela cabeça. Por isso, agora
a Fraternidade busca uma paz que não é a de Cristo.
No que nos diz respeito, saibamos viver
e morrer na trincheira que está ao pé de Cruz. Que não una o homem o
que Deus separou! Esta é a guerra de Deus, é a única guerra declarada por Deus. Com
efeito, ensina São Luis Maria Grignon de Montfort no seu “Tratado da Verdadeira
Devoção”, que “Deus não fez nem formou jamais mais que uma única inimizade –
e inimizade irreconciliável – que durará e aumentará até o fim; e é entre Maria
e o diabo; entre os filhos e servidores da Santíssima Virgem e os filhos e
seqüazes de Lucífer”. E disse Deus: “Eu colocarei inimizade entre ti e a
mulher e entre a tua descendência e a sua” (Gen. 3, 15). Aqui está a declaração de guerra. É Deus aquele que declarou a
guerra. É a sua guerra, não nos pertence, não temos direito a pactuar a paz, a
terminar com ela. Nosso dever é combater sem pretender pôr fim a esta guerra.
Não temos direito a nos render. Temos o dever de pelejar, de combater, não de
vencer, mas para os soldados de Cristo, combater é vencer. “Aos
soldados compete combater e a Deus dar a vitória”, dizia Santa Joana D’Arc.A
vitória virá ao final. Deus revelou o resultado da guerra: “Eu
colocarei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua descendência e a sua... e
ela te esmagará a cabeça”. “Ipsa cónteret” (ela te esmagará).
Essas duas palavras são precisamente o lema escolhido por Monsenhor Faure. Ipsa
cónteret caput tuum: Ela, demônio maldito, pai do modernismo, do
liberalismo, de todas as heresias, das covardias, das traições e de todos os
pecados; te esmagará a cabeça, e te vencerá.
“Fidelis inveniatur”
(sejam aliados fiéis) (1 Cor 4,2) é o lema de
Monsenhor Williamson. Longe de ser “pura retórica”, ela explica o ódio e a
perseguição universal de que ele é objeto. Porque Deus suscitou
inimizades, antipatias e ódios... – sigo citando a São Luis
M. G. De Montfort – entre os verdadeiros filhos e escravos do
demônio... os filhos de Belial, os escravos de Satanás... perseguirão
incessantemente... e perseguirão entretanto mais... àqueles... que pertençam à
Santíssima Viregem, assim como em outro tempo Caim perseguiu a seu irmão Abel e
hoje à Neo-Fraternidade, Roma apóstata e os obscuros poderes mundiais perseguem
a Dom Williamson e a Monsenhor Faure, os bispos fiéis da Resistência, e a Dom
Tomás e seus monges, e a todos os demais verdadeiros soldados de Cristos.
Que pela intercessão da Nossa Mãe
Santíssima, Deus nos conceda combater até o final com o valor e a força do leão
e com a humildade e mansidão do cordeiro, às ordens de nossos dois bispos e sob
nosso único estandarte: a Cruz de Cristo.
Consultar como complemento, recomendado
pelo Padre René Trincado e o Monsenhor Faure:
«Prière embrasée»
- São Luis Grignon de Montfort :
Corajosas palavras do padre René que merecem serem refletidas
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