segunda-feira, 21 de julho de 2014

Política do consentimento ou o liberalismo contra a família



Por D. Williamson
Traduzido por Andrea Patrícia




Janeiro é o mês da Sagrada Família, pois hoje é a Festa da Sagrada Família. Essa festa foi instituída pelos Papas Leão XIII e Bento XV um pouco menos de cem anos atrás para defender a família contra o ataque violento do Liberalismo.

Pois de fato a família é o instrumento projetado por Deus para a criação do homem, da concepção à vida adulta. Então para desfazer o homem, o demônio vai atacar a família, e para redimir ou refazer a humanidade, o Divino Salvador começou sendo um sublime exemplo, estendido por trinta anos, de vida familiar. Eis o que o Papa Leão XIII ensinou em 1892:

“Ninguém está desavisado de que a prosperidade privada e pública depende principalmente da constituição da família. O bem estar da comunidade será mensurado pelas virtudes que se enraizaram na família e pela dimensão do zelo dos pais por inculcar em seus filhos – pela doutrina, pelo exemplo – os preceitos da religião. Por isso é de grande importância que a sociedade doméstica não seja somente firmemente constituída, mas também que seja governada pelas leis sagradas, e que o espírito religioso e os princípios da vida Cristã sejam cuidadosamente e constantemente desenvolvidos. É evidente para esse propósito que o misericordioso Deus – desejando cumprir a tarefa de restauração da humanidade esperada há muito tempo – preparou tanto os detalhes e o modo da Redenção que desde o início essa obra apresentaria ao mundo a augusta forma da família divinamente constituída, na qual todos os homens poderiam contemplar o mais perfeito modelo de vida familiar e um exemplo de cada virtude e santidade.

Assim era a família de Nazaré...constituída de tal maneira que todos os Cristãos, de todas as condições e raças, possam com um pouco de atenção, facilmente encontrar ali um motivo para praticar cada virtude e um convite para fazer isso. De fato pais de família tem um excelente exemplo de vigilância e proteção paternal em José; a Santíssima Mãe de Deus é um admirável exemplo e modelo de amor, modéstia, do espírito de submissão e perfeita fé para as mães; na pessoa de Jesus “que estava sujeito a eles”, as crianças tem um modelo divino de obediência para ser admirado, venerado e imitado”.

Esses papéis familiares, distintos mas complementares, estão tão profundamente inscritos no modo que os humanos são, que todo o bom senso, natureza e tradição levantam-se contra a emasculação do pai, a desfeminização da mãe, e o desmantelamento da responsabilidade dos pais. Aqui está o próprio Deus ensinando através das palavras do apóstolo o que a Sagrada Família ensinou pelo exemplo: “Esposas, sejam submissas aos seus maridos, porque isso convém no Senhor; Maridos, amem suas esposas e não sejam amargos com elas; crianças obedeçam seus pais em todas as coisas: porque isso agrada ao Senhor. Pais, não provoquem raiva nos seus filhos; que eles não sejam desencorajados” (Colos. 3,18-21).

Aí está a própria carta de Deus para a família, portanto reescrever isso é uma insanidade. E se objetarem que há milhares de razões pelas quais as esposas não podem ser tratadas com carinho ou os maridos não obedecidos, porque as mulheres de hoje não podem ficar em casa e cuidar e importar-se com os bebês que Deus mandou para elas, então a única resposta é que há milhares de boas razões pelas quais nossa presente civilização não pode sobreviver. Em toda criatividade não há nada comparado com criar pessoas, como Deus obviamente planejou para as mulheres fazerem, o que não toma somente nove meses e sim dezenove anos, e um pouco mais. Porém, permitem às mulheres que, ou fazem com que, elas sintam que para serem "criativas" elas devem colocar as crianças em creches e "realizar suas personalidades" em empregos no mercado de trabalho, juntamente com os homens? Eis o suicida desejo de morte, mais uma vez, do Liberalismo.


A punição por discordar do plano de Deus para a família está à nossa volta. O testemunho mais interessante veio recentemente de um professor da Universidade de Chicago, Allan Bloom, analisando seu surpreendente Best-seller “The Closing of American Mind” [2], sobre o porquê dos estudantes de hoje serem mais ou menos incapazes de cumprir com o que quer que a universidade realmente ofereça. Sendo absolutamente livres, democráticos, e iguais, eles tem a mente tão aberta a todas as ideias, ele nota, que suas mentes estão fechadas para a existência de qualquer verdade – daí o título de seu livro. O mais interessante é que Bloom é um esquerdista, e ainda assim ele traça a dissolução dos seus estudantes individuais, até a falta da vida familiar, à dissolução da autoridade na sociedade em geral pelo democrático Liberalismo. Como o princípio da autoridade na política foi substituído pelo princípio do consentimento, então tanto a autoridade paternal quanto a parental na família são inevitavelmente enfraquecidas; ao passo em que a liberdade e a revolução são glorificadas, os laços e vínculos de família são progressivamente desacreditados; como a igualdade nivelou por baixo a posição social, então a hierarquia e a obediência na família foram ainda mais diminuídas. Da democracia, a família do consentimento – “Joãozinho, ponha seus sapatos, por favor”, da liberdade, a “revolução sexual”; da igualdade, liberação da mulher e feminismo.

Portanto o que começou com a política do consentimento, Bloom obervou que levou à desintegração da família a uma geração de solitários sociais, inacreditavelmente “agradáveis”, livres, iguais, mas sem raízes, ineptos, sem objetivo, incapaz de comprometer-se embora ansiando por compromisso. Os estudantes que Bloom encontrou mais típicos dessa solidão social, e os mais dignos de pena, foram os filhos de divorciados. Algumas poucas citações:

“O divórcio tem uma profunda influência em nossas universidades porque mais e mais estudantes são produtos disso, e eles não têm problemas apenas com eles mesmos, mas também afetam outros estudantes e a atmosfera geral. Embora... as pessoas queiram e precisem criar uma vontade geral fora das vontades particulares, essas vontades particulares constantemente se reafirmam. Há uma busca, mas ainda mais desesperada, para arranjos e maneiras de colocar as peças quebradas juntas novamente. A tarefa é equivalente a tornar o círculo quadrado, porque todo mundo ama mais a si mesmo, mas quer que os outros o amem mais do que amam a si mesmos. Essa é particularmente a demanda das crianças contra a qual os pais estão agora se rebelando...

As crianças podem ter ouvido muitas vezes que seus pais tem o direito de ter suas próprias vidas, que elas irão desfrutar de um tempo de qualidade em vez de quantidade de tempo, que elas serão realmente amados por seus pais mesmo após o divórcio, mas elas não acreditam em nada disso. Elas pensam que tem o direito à total atenção e acreditam que seus pais devem viver para elas. Não há outra explicação para elas, e qualquer coisa menos que isso inevitavelmente produz indignação e um inextirpável senso de injustiça.”

Bloom continua:
“Eu não estou argumentando aqui que os antigos arranjos de família eram bons ou que deveríamos voltar a eles. Eu estou apenas insistindo que se nós não nublemos nossa visão de tal forma que acreditemos que há substitutos viáveis para eles somente porque nós queremos ou precisamos deles...Todas as nossas reformas (liberais) ajudaram a tirar os dentes das nossas engrenagens, que não podem mais engrenar. Elas rodam ociosamente, lado a lado, incapazes de colocar a máquina social em movimento. É para esse exercício de futilidade que os jovens tem que olhar quando eles pensam sobre seu futuro.”

Um testemunho eloquente de um esquerdista, da destruição forjada pelo Liberalismo! Ele não ousa defender a antiquada família, mas ao menos ele é honesto o bastante para reconhecer e relatar a tragédia de sua dissolução.

Jovens, antes de casar, cresçam o bastante para perceber que o estilo Hollywoodiano de romance água com açúcar dura pouco mais que três semanas, três meses se você tiver sorte, e que quando acabar você precisará ter muito em comum com o seu parceiro, se o seu o casamento é para durar; e por último, deve, em primeiro lugar, obedecer a Deus, em segundo lugar evitar destruir espiritualmente seus filhos. Portanto, escolha um parceiro não só pela fantasia, mas também pela razão, um com quem acima de tudo você compartilhe a fé, de modo que você nunca irá aceitar o que quer que discorde sobre os filhos que Deus lhe envia, nem sobre um de vocês ser o ganha-pão e o outro a obediente dona de casa. Então case-se sacramentalmente para obter a bênção de Deus e a graça indispensável para a sua união, e quando você casar-se, reze o Rosário todas as noites e prepare-se para uma vida de sacrifício, em que você vai colocar na família mais do que você tirar dela, dando vida e educação para seus filhos, e uma casa eventualmente, até mesmo aos seus próprios pais. Você não quer ter nada a ver com imaturidade, Hollywood, o Juiz de Paz, a contracepção, escolas públicas, ou asilos! E quando você não estiver esgotado, você vai perceber que você é tão feliz quanto você pode ser neste vale de lágrimas, pois o nosso destino não está aqui embaixo, mas no Céu! E para os velhos: nunca cansem-se de soprar essas verdades antigas nos ouvidos jovens! Allan Bloom disse tudo quando disse em tantas palavras que a verdadeira família é uma escola de abnegação, enquanto as ideias modernas são o egoísmo sistematizado. Reze para que um dia ele receba o dom da Fé Católica.

Carta de 10 de janeiro de 1988. [1]

Traduzido de: Bishop Richard Williamson. Letters from the Rector of Saint Thomas Aquinas Seminary, Volume 1. True Restoration Press. Pg. 233 a 238.


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Notas da tradutora:
[1] Nessa época D. Williamson era somente padre.
[2] Editado em língua portuguesa como “O Declínio da cultura ocidental: da crise da universidade à crise da sociedade”.



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