Por D.
Williamson
Traduzido por
Andrea Patrícia
Janeiro é o mês
da Sagrada Família, pois hoje é a Festa da Sagrada Família. Essa festa foi
instituída pelos Papas Leão XIII e Bento XV um pouco menos de cem anos atrás
para defender a família contra o ataque violento do Liberalismo.
Pois de fato a
família é o instrumento projetado por Deus para a criação do homem, da
concepção à vida adulta. Então para desfazer o homem, o demônio vai atacar a
família, e para redimir ou refazer a humanidade, o Divino Salvador começou
sendo um sublime exemplo, estendido por trinta anos, de vida familiar. Eis o
que o Papa Leão XIII ensinou em 1892:
“Ninguém está
desavisado de que a prosperidade privada e pública depende principalmente da
constituição da família. O bem estar da comunidade será mensurado pelas
virtudes que se enraizaram na família e pela dimensão do zelo dos pais por
inculcar em seus filhos – pela doutrina, pelo exemplo – os preceitos da
religião. Por isso é de grande importância que a sociedade doméstica não seja
somente firmemente constituída, mas também que seja governada pelas leis
sagradas, e que o espírito religioso e os princípios da vida Cristã sejam
cuidadosamente e constantemente desenvolvidos. É evidente para esse propósito
que o misericordioso Deus – desejando cumprir a tarefa de restauração da
humanidade esperada há muito tempo – preparou tanto os detalhes e o modo da
Redenção que desde o início essa obra apresentaria ao mundo a augusta forma da
família divinamente constituída, na qual todos os homens poderiam contemplar o
mais perfeito modelo de vida familiar e um exemplo de cada virtude e santidade.
Assim era a
família de Nazaré...constituída de tal maneira que todos os Cristãos, de todas
as condições e raças, possam com um pouco de atenção, facilmente encontrar ali
um motivo para praticar cada virtude e um convite para fazer isso. De fato pais
de família tem um excelente exemplo de vigilância e proteção paternal em José;
a Santíssima Mãe de Deus é um admirável exemplo e modelo de amor, modéstia, do
espírito de submissão e perfeita fé para as mães; na pessoa de Jesus “que
estava sujeito a eles”, as crianças tem um modelo divino de obediência para ser
admirado, venerado e imitado”.
Esses papéis
familiares, distintos mas complementares, estão tão profundamente inscritos no
modo que os humanos são, que todo o bom senso, natureza e tradição levantam-se
contra a emasculação do pai, a desfeminização da mãe, e o desmantelamento da
responsabilidade dos pais. Aqui está o próprio Deus ensinando através das
palavras do apóstolo o que a Sagrada Família ensinou pelo exemplo: “Esposas,
sejam submissas aos seus maridos, porque isso convém no Senhor; Maridos, amem
suas esposas e não sejam amargos com elas; crianças obedeçam seus pais em todas
as coisas: porque isso agrada ao Senhor. Pais, não provoquem raiva nos seus
filhos; que eles não sejam desencorajados” (Colos. 3,18-21).
Aí está a própria
carta de Deus para a família, portanto reescrever isso é uma insanidade. E se
objetarem que há milhares de razões pelas quais as esposas não podem ser
tratadas com carinho ou os maridos não obedecidos, porque as mulheres de hoje
não podem ficar em casa e cuidar e importar-se com os bebês que Deus mandou
para elas, então a única resposta é que há milhares de boas razões pelas quais
nossa presente civilização não pode sobreviver. Em toda criatividade não há
nada comparado com criar pessoas, como Deus obviamente planejou para as
mulheres fazerem, o que não toma somente nove meses e sim dezenove anos, e um
pouco mais. Porém, permitem às mulheres que, ou fazem com que, elas sintam que
para serem "criativas" elas devem colocar as crianças em creches e
"realizar suas personalidades" em empregos no mercado de trabalho,
juntamente com os homens? Eis o suicida desejo de morte, mais uma vez, do
Liberalismo.
A punição por
discordar do plano de Deus para a família está à nossa volta. O testemunho mais
interessante veio recentemente de um professor da Universidade de Chicago,
Allan Bloom, analisando seu surpreendente Best-seller “The Closing of
American Mind” [2], sobre o porquê dos estudantes de hoje serem mais ou
menos incapazes de cumprir com o que quer que a universidade realmente ofereça.
Sendo absolutamente livres, democráticos, e iguais, eles tem a mente tão aberta
a todas as ideias, ele nota, que suas mentes estão fechadas para a existência
de qualquer verdade – daí o título de seu livro. O mais interessante é que
Bloom é um esquerdista, e ainda assim ele traça a dissolução dos seus
estudantes individuais, até a falta da vida familiar, à dissolução da
autoridade na sociedade em geral pelo democrático Liberalismo. Como o princípio
da autoridade na política foi substituído pelo princípio do consentimento,
então tanto a autoridade paternal quanto a parental na família são inevitavelmente
enfraquecidas; ao passo em que a liberdade e a revolução são glorificadas, os
laços e vínculos de família são progressivamente desacreditados; como a
igualdade nivelou por baixo a posição social, então a hierarquia e a obediência
na família foram ainda mais diminuídas. Da democracia, a família do
consentimento – “Joãozinho, ponha seus sapatos, por favor”, da liberdade, a
“revolução sexual”; da igualdade, liberação da mulher e feminismo.
Portanto o que
começou com a política do consentimento, Bloom obervou que levou à
desintegração da família a uma geração de solitários sociais,
inacreditavelmente “agradáveis”, livres, iguais, mas sem raízes, ineptos, sem
objetivo, incapaz de comprometer-se embora ansiando por compromisso. Os
estudantes que Bloom encontrou mais típicos dessa solidão social, e os mais
dignos de pena, foram os filhos de divorciados. Algumas poucas citações:
“O divórcio tem
uma profunda influência em nossas universidades porque mais e mais estudantes
são produtos disso, e eles não têm problemas apenas com eles mesmos, mas também
afetam outros estudantes e a atmosfera geral. Embora... as pessoas queiram e
precisem criar uma vontade geral fora das vontades particulares, essas vontades
particulares constantemente se reafirmam. Há uma busca, mas ainda mais
desesperada, para arranjos e maneiras de colocar as peças quebradas juntas
novamente. A tarefa é equivalente a tornar o círculo quadrado, porque todo
mundo ama mais a si mesmo, mas quer que os outros o amem mais do que amam a si
mesmos. Essa é particularmente a demanda das crianças contra a qual os pais
estão agora se rebelando...
As crianças podem
ter ouvido muitas vezes que seus pais tem o direito de ter suas próprias vidas,
que elas irão desfrutar de um tempo de qualidade em vez de quantidade de tempo,
que elas serão realmente amados por seus pais mesmo após o divórcio, mas elas
não acreditam em nada disso. Elas pensam que tem o direito à total atenção e
acreditam que seus pais devem viver para elas. Não há outra explicação para
elas, e qualquer coisa menos que isso inevitavelmente produz indignação e um
inextirpável senso de injustiça.”
Bloom continua:
“Eu não estou
argumentando aqui que os antigos arranjos de família eram bons ou que
deveríamos voltar a eles. Eu estou apenas insistindo que se nós não nublemos
nossa visão de tal forma que acreditemos que há substitutos viáveis para eles
somente porque nós queremos ou precisamos deles...Todas as nossas reformas
(liberais) ajudaram a tirar os dentes das nossas engrenagens, que não podem mais
engrenar. Elas rodam ociosamente, lado a lado, incapazes de colocar a máquina
social em movimento. É para esse exercício de futilidade que os jovens tem que
olhar quando eles pensam sobre seu futuro.”
Um testemunho
eloquente de um esquerdista, da destruição forjada pelo Liberalismo! Ele não
ousa defender a antiquada família, mas ao menos ele é honesto o bastante para
reconhecer e relatar a tragédia de sua dissolução.
Jovens, antes de casar, cresçam o bastante para perceber que
o estilo Hollywoodiano de romance água com açúcar dura pouco mais que três
semanas, três meses se você tiver sorte, e que quando acabar você precisará ter
muito em comum com o seu parceiro, se o seu o casamento é para durar; e por
último, deve, em primeiro lugar, obedecer a Deus, em segundo lugar evitar
destruir espiritualmente seus filhos. Portanto, escolha um parceiro não só pela
fantasia, mas também pela razão, um com quem acima de tudo você compartilhe a
fé, de modo que você nunca irá aceitar o que quer que discorde sobre os filhos
que Deus lhe envia, nem sobre um de vocês ser o ganha-pão e o outro a obediente
dona de casa. Então case-se sacramentalmente para obter a bênção de Deus e a
graça indispensável para a sua união, e quando você casar-se, reze o Rosário
todas as noites e prepare-se para uma vida de sacrifício, em que você vai
colocar na família mais do que você tirar dela, dando vida e educação para seus
filhos, e uma casa eventualmente, até mesmo aos seus próprios pais. Você não
quer ter nada a ver com imaturidade, Hollywood, o Juiz de Paz, a contracepção,
escolas públicas, ou asilos! E quando você não estiver esgotado, você vai
perceber que você é tão feliz quanto você pode ser neste vale de lágrimas, pois
o nosso destino não está aqui embaixo, mas no Céu! E para os velhos: nunca
cansem-se de soprar essas verdades antigas nos ouvidos jovens! Allan Bloom
disse tudo quando disse em tantas palavras que a verdadeira família é uma
escola de abnegação, enquanto as ideias modernas são o egoísmo sistematizado.
Reze para que um dia ele receba o dom da Fé Católica.
Carta de 10 de
janeiro de 1988. [1]
Traduzido de: Bishop Richard Williamson. Letters
from the Rector of Saint Thomas Aquinas Seminary, Volume 1. True
Restoration Press. Pg. 233 a 238.
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Notas da
tradutora:
[1] Nessa época D. Williamson era somente padre.
[2] Editado em língua portuguesa como “O Declínio da cultura
ocidental: da crise da universidade à crise da sociedade”.
Fonte: Maria Rosa Mulher
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