São José Cafasso nasceu em
Castelnuovo d’Asti (hoje Castelnuovo Dom Bosco) em 1811. Uma sua irmã foi mãe
de outro santo, São José Alamano, fundador da comunidade dos Padres da
Consolata. Desde pequeno José era chamado pelos seus concidadãos de il Santeto,
por causa de sua atração para a virtude e coisas santas. Aos 16 anos entrou para
o seminário e vestiu por primeira vez a sotaina. Assim o descreve Dom Bosco,
que o encontrou nessa idade: “De pequena estatura, olhos brilhantes, ar afável
e rosto angelical”.
Providencial encontro com São
João Bosco
Dom Bosco o viu na porta da
igreja de sua cidade, durante uma quermesse, e impressionado com a aparência do
jovem seminarista, quis conversar com ele. Propôs-se então a mostrar-lhe algum
dos espetáculos da feira. E narra deste modo o episódio:
“[José Cafasso] fez-me um sinal
para eu me aproximar, e começou a perguntar-me minha idade, meus estudos; se
havia já recebido a Primeira Comunhão; com que freqüência me confessava; aonde
ia ao catecismo, e coisas semelhantes. Fiquei como encantado ante aquela
maneira edificante de falar; respondi com gosto a todas as suas perguntas;
depois, quase como para agradecer sua afabilidade, repeti meu oferecimento de
acompanhá-lo a visitar qualquer espetáculo ou novidade.
Quem abraça o estado
eclesiástico entrega-se ao Senhor, e nada de quanto teve no mundo deve
preocupá-lo, mas sim aquilo que pode servir para a glória de Deus e proveito
das almas”
São José Cafasso era ótimo
estudante, e precisou pedir dispensa para ser ordenado mais cedo do que o
normal, aos 21 anos de idade, em setembro de 1933. Em vez de aceitar inúmeros
convites de paróquias, quis aprofundar seus estudos no Convicto (internato)
eclesiástico São Francisco de Assis, de Turim. Nessa espécie de academia
eclesiástica ele passou alguns anos de intensa formação intelectual e
espiritual, sendo nomeado professor da cátedra de moral. Trabalhou junto ao
Cônego Guala, um dos fundadores do estabelecimento e seu reitor. Seu programa
era santificar-se cada vez mais e auxiliar os outros para que também se
santificassem. Todos admiravam nele esse empenho para em tudo procurar a maior
glória de Deus e a santificação própria e dos outros.
Ao morrer o Cônego Guala, José
foi aclamado por unanimidade para substituí-lo, e manteve esse cargo durante 12
anos, isto é, até sua morte. Propôs-se como modelos São Francisco de Sales e
São Felipe Néri. Muitos diziam que, na jovialidade e uniformidade de
espírito, ele muito se assemelhava a esses santos.
Combate ao jansenismo e ao
rigorismo
O Padre Cafasso combateu
tenazmente duas filosofias que haviam então penetrado na Itália: uma defendia
que só a pessoa muito santa deveria aproximar-se dos sacramentos,
principalmente da Eucaristia (jansenismo); e outra se centrava mais na justiça
de Deus, quase abstraindo de sua misericórdia, sem procurar ver o equilíbrio
existente entre esses dois atributos divinos (rigorismo). O Papa Pio XI, por
ocasião do decreto De tuto para a beatificação de José Cafasso, assinado
em 1º de novembro de 1924), afirmou: “Bem depressa logrou Cafasso sentar praça
de mestre nas fileiras do jovem clero, inflamado de caridade e radiante de
saníssimas idéias, disposto a opor aos males do tempo os oportunos remédios.
Contra o jansenismo, levantava um espírito de suave confiança na divina
bondade; frente ao rigorismo, colocava uma atitude de justa facilidade e
bondade paterna no exercício do ministério; desbancava por fim o regalismo, com
uma dignidade soberana e uma consciência respeitosa para com as leis justas e
as autoridades legítimas, sem claudicar jamais, antes bem dominado e conduzido
pela perfeita observância dos direitos de Deus e das almas, pela devoção
inviolável à Santa Sé e ao Pontífice Supremo, e pelo amor filial à Santa Madre
Igreja”.
Para contrapor-se ao jansenismo
e ao rigorismo, ele apresentava a Religião sob seus mais belos aspectos,
concebida como um exercício de amor a um Deus de bondade e misericórdia, que
padeceu e morreu para nos salvar. Sem descuidar as verdades essenciais, ele
punha o acento naquelas mais belas e acessíveis ao comum dos cristãos, para que
praticassem as virtudes. Como se vê, utilizava a tática religiosa preconizada
séculos antes por Santo Inácio de Loyola, do adere contra, isto é, agir sempre
contra os erros e vícios da época.
Levava seus alunos sacerdotes
para visitar os cárceres e os bairros mais pobres da cidade, a fim de despertar
neles uma grande sensibilidade para com os deserdados da fortuna.
São João Bosco estava ainda no
seminário e não podia prosseguir seus estudos por falta de recursos, o Pe.
Cafasso pagou-lhe meia bolsa e obteve dos dirigentes do seminário facilitar-lhe
a outra metade, servindo o jovem seminarista como sacristão, remendão e
barbeiro. E quando ele se ordenou, custeou-lhe o curso no Convicto para sua
pós-graduação.
Depois ajudou-o em seu apostolado com os
meninos, e, mesmo quando todos abandonaram Dom Bosco, continuou seu acérrimo
defensor. Ajudou-o também na recém-fundada Sociedade Salesiana, sendo
considerado pelos salesianos um dos seus maiores benfeitores.
Turim era a capital do Reino da
Sabóia e uma cidade em grande desenvolvimento, atraindo toda espécie de
aventureiros. Em conseqüência, os cárceres estavam cheios de criminosos de toda
ordem, abandonados por todos. Esse foi um dos campos de apostolado preferido
por Dom Cafasso. Ele entregava aos prisioneiros roupa, comida, material de
asseio e outras coisas. Ia visitá-los, e com paciência e doçura acabava fazendo
com que muitos se confessassem e começassem a levar uma vida mais decente. Sua
visita semanal era esperada com sofreguidão por aqueles párias da sociedade.
Muito diferente dos que hoje pregam os “direitos humanos” dos bandidos, que não
buscam a conversão dos mesmos, mas apenas proporcionar-lhes regalias humanas,
mantendo-os na mentalidade criminosa.
O maior e mais heróico
apostolado exercido por José Cafasso era com os condenados à morte. Quando um
criminoso recebia a sentença de morte, o sacerdote preparava-o nos dias que a
antecediam, para converter-se e confessar-se, e depois o acompanhava até o
lugar do suplício, incutindo-lhe religiosos sentimentos. De 68 condenados que
ele acompanhou assim até o derradeiro suplício, nenhum morreu sem confessar-se
e mostrar-se verdadeiramente arrependido.
Quando o criminoso ouvia a pena
de morte, geralmente exclamava: “Que o Padre Cafasso esteja a meu lado na hora
da morte, é o meu último desejo”. Chamavam-no mesmo de outras cidades, para
esse benemérito apostolado. Hoje em dia, onde estão os criminosos que pedem
assistência espiritual e os bons sacerdotes que queiram dá-la? Como decaímos!
Certo dia o Pe. Cafasso levou
Dom Bosco, ainda jovem sacerdote, em uma dessas visitas. Este, só ao ver a
forca, caiu desmaiado... O que mostra o domínio que Dom Cafasso deveria ter
sobre si mesmo para familiarizar-se com tão difícil apostolado. Mas então
tratava-se de salvar uma alma no último momento, e isso bastava para dar-lhe
forças.
Um dom que José Cafasso recebeu
em alto grau foi o da prudência. À sua porta batiam desde altos eclesiásticos
até gente miúda do povinho, à procura de um conselho para resolver situações
delicadas. E ele sempre tinha a palavra exata, o conselho certo, a solução
definitiva.
Outras qualidades que nele
sobressaíam de maneira especial eram sua tranqüilidade imutável e exemplar
paciência. No rosto, tinha sempre um sorriso amável para atender as pessoas.
Como ele era muito baixo, diziam: “É pequeno de corpo, mas um gigante no
espírito”.
A devoção do Padre Cafasso à
Santíssima Virgem era fora do comum. Ele a nutria desde pequeno e falava d’Ela
com entusiasmo. Dedicava os sábados em sua honra, e não havia o que se lhe
pedisse num desses dias ou em alguma festa de Nossa Senhora, que ele não
atendesse.
Ele dizia constantemente que
tinha três amores: a Jesus Sacramentado, à Santíssima Virgem e ao Papa. Esta
afirmação era tanto mais importante numa época em que o Papa estava sendo
despojado dos Estados Pontifícios.
Num de seus sermões sobre Nossa
Senhora, Dom José Cafasso exclamou arrebatado: “Que feliz dita a de morrer num
sábado, dia da Virgem, para ser levado por Ela ao Céu!”. Realmente, essa foi a
graça que ele obteve, falecendo no sábado, 23 de junho de 1860, aos 49 anos de
idade.
José Cafasso foi beatificado por
Pio XI em 3 de maio de 1925, e canonizado por Pio XII em 22 de junho de 1947.
São José Cafasso, rogai por nós.
Fonte: Escravas de Maria
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