Mater
eius conservabat omnia verba haec in corde suo – “Sua Mãe conservava todas
estas palavras em seu coração” (Luc. 2, 51).
Sumário. Todas as qualidades que nos
dias anteriores contemplamos no Coração de Jesus acham-se, com as devidas
proporções, também no Coração de Maria, sua Mãe. Durante os trinta anos que a
Virgem Santíssima conviveu com Jesus, não fez senão estudar continuamente no
livro do Coração do Filho. Se, pois, amamos deveras a Maria e queremos ser seus
dignos filhos, estudemos igualmente o Coração de Jesus e aprendamos de Nossa
Senhora a praticarmos a humildade e o amor para com Deus e para com o próximo.
I. Depois
da Encarnação do Verbo, a ocupação habitual de Maria Santíssima foi estudar o
grande livro do Coração amabilíssimo de Jesus e nesta escola divina fez
progressos tão grandes, que se tornou uma imagem fiel de Jesus. Pelo que todos
os dotes que nos dias anteriores contemplamos no Coração do Filho, acham-se
também, observadas as devidas proporções, no Coração da Mãe.
Com
efeito, que coração há mais amável que o Coração de Maria? Coração todo
puro, santo, imaculado, perfeito; Coração, em suma, no qual Deus acha as suas
delícias, as suas complacências. – Coração ao mesmo tempo tão amante dos
homens, que, se todas as criaturas unissem as suas forças, nem de longe
conseguiriam igualar o amor de Maria: Amat nos amore invicibili (1) – “Ela
nos ama com amor inexcedível”. Este amor de Maria para com o gênero humano,
rivalizando com o do Eterno Pai, levou-a a fazer o sacrifício doloroso,
de entregar à morte seu Filho inocente. Leva-a continuamente a compadecer-se
com ternura maternal das nossas misérias; a socorrer-nos generosamente
em nossas necessidades; a ser-nos reconhecida e recompensar fielmente
qualquer obra boa feita por seu amor, qualquer palavra dita para glória sua,
cada bom pensamento que lhe agrada.
Como
retribuição de todos os benefícios que a divina Mãe nos dispensou e ainda
continuamente nos dispensa, não exige senão nosso amor; porquanto seu coração,
à semelhança do de Jesus, é um coração desejoso de ser amado. – Vê,
portanto, quanta aflição deve sentir vendo-se pago com desprezos. Não
sejas tu do número daqueles ingratos que assim afligem a nossa terna Mãe.
II. Imitatores
mei estote, sicut et ego Christi (2) – “Sede meus imitadores, como eu o
sou de Cristo”; é o que, com mais razão do que São Paulo, nos diz a divina
Mãe. Se, pois, amas a Maria, deves, à sua imitação, estudar continuamente no
livro do Coração de Jesus Cristo, afim de nele aprender todas as virtudes,
especialmente as que te sejam mais necessárias como, por exemplo, o desapego da
terra, a humildade, a mansidão, a resignação e sobretudo o amor para com Deus e
para com o próximo. – Se não tens a coragem de estudar em tão grande livro,
pede-a à divina Mãe.
Ó Coração
de Maria, Mãe de Deus e Mãe nossa; Coração amabilíssimo, objeto da complacência
da adorável Trindade, de toda a veneração e amor dos anjos e dos homens;
Coração mais semelhante ao de Jesus, do qual sois imagem perfeita; Coração
cheio de bondade e todo compassivo com as nossas misérias: dignai-vos tirar a
frieza de nossos corações e fazei que sejam transformados à semelhança do
Coração do divino Salvador. Infundi-lhes o amor a vossas virtudes; abrasai-os
no fogo feliz, que está continuamente ardendo em vosso Coração.
Abrangei
a santa Igreja, guardai-a e sede-lhe sempre doce asilo e torre inexpugnável
contra todos os assaltos dos seus inimigos. Sede-nos o caminho para irmos a
Jesus e o canal pelo qual nos venham todas as graças necessárias para nossa
salvação. Sede nosso socorro nas aflições, nosso conforto nas tentações, nosso
refúgio nas perseguições, nosso auxílio em todos os perigos, especialmente nos
últimos combates de nossa vida na hora da morte, quando todo o inferno se
desencadear contra nós para roubar nossas almas, naquele momento terrível do qual
depende a eternidade. Ó Virgem piedosíssima, deixai-nos experimentar então a
doçura do vosso coração maternal e a eficácia do vosso poder para com o Coração
de Jesus, abrindo-nos nesta fonte mesma da misericórdia um abrigo seguro, no
qual possamos um dia chegar a bendizê-lo no paraíso por todos os séculos dos
séculos.
Conhecidos,
louvados, benditos, amados, servidos e glorificados, sejam sempre e por toda
parte o diviníssimo Coração de Jesus e o puríssimo Coração de Maria.
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1. S. Petr. Dam.
2. 1 Cor. 4, 16.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do
Ano: Tomo Segundo: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de
Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 175-178.)
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