Qui
manducat meam carnem, et bibit meum sanguinem, habet vitam aeternam – “Quem come minha carne e bebe
meu sangue tem a vida eterna” (Io. 6, 55).
Sumário. Como o pão terrestre sustenta a
vida do corpo, assim o pão celeste da santíssima Eucaristia sustenta a vida da
alma, fazendo-a perseverar na graça de Deus. Mais, é este o efeito principal do
Santíssimo Sacramento: alimentar a caridade e comunicar à alma grande vigor
para progredir na perfeição e resistir a todos os inimigos. Se, pois, desejas a
graça preciosa da perseverança, resolve comungar freqüentes vezes com as devidas
disposições e nunca deixar de fazê-lo por qualquer negócio terrestre. Que
negócio pode haver mais importante do que o da salvação eterna?
I. Quando
Jesus visita uma alma pela santa comunhão, lhe traz todos os bens, todas as
graças e especialmente a graça da santa perseverança. O efeito principal do
Santíssimo Sacramento do altar é: alimentar com este sustento da vida a alma
que O recebe, comunicando-lhe grande vigor para progredir na perfeição e
resistir aos inimigos que desejam a nossa morte eterna. Por isso é que Jesus
escondido no Sacramento se chama pão celeste: Ego sum panis vivus qui de
coelo descendi (1) – “Eu sou o pão vivo, que desci do céu”.
Como o
pão terrestre sustenta a vida do corpo, assim este pão celeste sustenta a vida
da alma, fazendo-a perseverar na graça de Deus. Com esta vantagem, porém: o pão
material sustenta e prolonga a vida do corpo até certo ponto e detém a morte só
por breve tempo; por muito que alguém se alimente, afinal há de morrer. Ao
contrário, Jesus disse que, se a alma se alimentar devidamente com o pão
eucarístico, vivera eternamente e nunca mais estará sujeita à morte espiritual,
que consiste na perda da graça: Este é o pão que desce do céu, para que o
que dele comer, não morra (2).
Numa
palavra, a comunhão, como nos ensina o santo Concílio de Trento (3), é a
medicina que nos livra dos pecados veniais e nos preserva dos mortais.
E
Inocêncio III acrescenta que, pela sua Paixão, Jesus Cristo nos livra dos
pecados cometidos e pela Eucaristia dos que podemos cometer. – Pelo que diz São
Boaventura que os pecadores não se devem afastar da comunhão pela razão que
forem pecadores; muito antes, por terem sido pecadores devem tomá-la com mais
frequência; pois, quanto mais alguém se sente doente, tanto mais precisa de
médico: Magis eget medico, quanto quis senserit se aegrotum.
II. Se
desejas obter a graça preciosa da perseverança e assegurar a tua salvação
eterna, resolve-te a comungar as mais vezes que te for possível, conforme o
conselho de teu diretor e a nunca deixar por causa de algum negócio terrestre.
Lembra-te que não há negócio mais importante que o da salvação eterna. Se não
pertences a uma ordem religiosa e vives no mundo, terás ainda mais precisão de
te aproximar de Jesus Cristo, porque estás exposto a tentações mais graves e
corres mais risco de cair.
Não
basta, porém, só o comungar: se queres tirar proveito da comunhão, mister é que
a recebas com as devidas disposições. São Luiz Gonzaga empregava três dias em
preparar-se para comungar e outros três dias para dar ações de graças ao
Senhor; por isso é que se tornou santo.
Infeliz
de mim, ó Senhor! Porque me queixo da minha fraqueza ao ver as minhas quedas
tão freqüentes? Como podia eu resistir aos assaltos do inferno, afastando-me de
Vós, que sois a nossa fortaleza? Se me tivesse chegado mais à santa comunhão,
não teria sucumbido tantas vezes diante de meus inimigos. Para o futuro não há
de ser mais assim. In te, Domine, speravi, non confundar in aeternum (4)
– “Em ti, Senhor, esperei, não serei jamais confundido”. Não quero mais
fiar-me em meus propósitos; a minha esperança sois Vós, meu Jesus; Vós me
deveis dar a força para não recair no pecado. Eu sou fraco, mas pela santa
comunhão me tornareis forte contra os meus inimigos.
Meu
Jesus, perdoai-me todas as injúrias que Vos fiz e que agora detesto de toda a
minha alma. Antes quero morrer do que tornar a ofender-Vos e pela vossa Paixão
espero que me ajudarei a perseverar na vossa graça até à morte: Em ti,
Senhor, esperei, não serei jamais confundido. – É o que com São Boaventura
vos digo também, ó minha Mãe Maria: Senhora, em vós ponho todas as minhas
esperanças e não serei jamais confundido. (*II 407.)
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1. Io. 6, 51.
2. Io. 6, 50.
3. Sess. 13, c. 2.
4. Ps. 70, 1.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do
Ano: Tomo Segundo: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de
Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia,
1921, p. 188-191.)
Fonte: São Pio V
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