QUARTA
PORTA: A EMBRIAGUEZ
“Não
erreis: os bêbados não herdarão o reino de Deus”, diz S. Paulo.
A
embriaguez é um dos vícios mais vergonhosos e funestos. O seu efeito
imediato é privar o homem do uso da razão e até de seus membros. Este
pecado ultraja a Deus porque mancha e apaga no homem a imagem de Deus.
Pela sua alma o homem é a imagem de Deus. Como Deus, a alma conhece, ama e
quer. Vede agora o escravo da bebida. Onde está a imagem de Deus? O embriagado
é incapaz de formar uma ideia. Semelhante ao animal, não é capaz de exprimir seu
pensamento. Onde estão seus sentimentos? Só tem instinto de bruto. Onde está
sua liberdade? Faz o que não quer e não faz o que quer. Chega a ponto de não
poder ficar de pé, de não poder dirigir seus passos, de cair.
Um dia, um bêbado caiu numa
sarjeta. Chega um cão, olha, fareja-o festejando-o com a cauda. O cachorro
parecia satisfeito por encontrar um colega. Mas depois o cachorro foi-se
embora, e o bêbado ficou deitado na lama, porque não podia arredar-se do lugar.
Deus fez o homem grande, diz a Escritura, mas, pelo vício, o homem nivelou-se
ao bruto.
O alcoólico é inimigo de sua
alma, porque calca aos pés todos os mandamentos da lei de Deus. Amai a
Deus sobre todas as coisas, diz o primeiro mandamento. O escravo da embriaguez
é do número daqueles que S. Paulo estigmatiza, quando diz: “Seu ventre é seu
Deus”. O bêbado blasfema frequentemente, roga pragas, jura falso, profana o dia
do Senhor, é mau filho, mau pai, mau esposo, briga, fere, às vezes mata. Como é
raro dois embriagados separarem-se sem trocar uns murros e se estragar a cara.
Quanto
ao sexto mandamento, são obscenidades de toda espécie, pensamentos, desejos,
palavras, olhares, ações, brutalidades que os próprios irracionais
ignoram. No vinho está a luxúria, diz o Espírito Santo.
O
alcoólico é inimigo de seu corpo. O álcool é um veneno, acaba sempre por
estragar e matar. Exerce um efeito funesto sobre o estômago, o coração, os
rins. Os médicos contam até vinte doenças quase todas mortais, causadas
pelo álcool. De 120.000 pessoas que morrem cada dia, 20.000 morrem diretamente
pelos excessos alcoólicos.
O
alcoólico é inimigo de sua família. Uma boa moça regozijava-se na doce
esperança de em breve achar-se ao lado de um moço, o preferido do seu
coração, para levar com ele uma vida cheia de alegria e de felicidade. Por
ele deixou pai e mãe, a ele dá sua mocidade, seu coração, suas forças, seu
trabalho, sua vida. E o moço lhe promete torná-la feliz, promete-o, jura-o,
até, ao pé do altar. E, agora, escravo da embriaguez chega em casa bêbado,
envergonha sua esposa, a contrista, a descompõe, a maltrata, e, às vezes,
deixa-lhe faltar o estrito necessário. Que ingratidão, que traição!
Este
pecado levanta contra ele um brado de maldição, arrancado de um coração
esmagado. O eco desta maldição subirá até ao trono de Deus, para bradar
vingança contra o violador do amor conjugal.
Mau
esposo, talvez pai pior ainda. Filhos idiotas, raquíticos, epilépticos, eis,
geralmente, a descendência do alcoólico. E estas pobres criaturas geralmente
nascem predispostas ao vício. O fruto não cai longe da árvore, diziam os
antigos.
Que
educação dará aliás tal pai a seus filhos? Que ouvem os filhos? Palavras
obscenas, conversas ímpias. Que veem? brigas, escândalos. Pai miserável, que
responderás no dia do juízo, quando Deus te perguntar qual o exemplo que deste
a teus filhos?
Renunciai
ao vício, cristãos, e gozareis as satisfações da virtude e da abundância,
os encantos da vida de família, tão puros e tão santos. Que alegria ver-se
objeto da afeição de uma esposa, ter filhos sadios e bem educados! Fugi,
pois, do maldito vício da embriaguez. Rezai, frequentai os sacramentos,
afastai-vos da ocasião, principalmente, lembrai-vos da palavra de S. Paulo: “Os
bebedores não entrarão no céu”.
(O
Pequeno Missionário - Manual de Instruções, Orações e Cânticos coordenado pelo
Pe. Guilherme Vaessen, Missionário da Congregação da Missão - 6a. Edição,
Editora Vozes, 1953).
FONTE: A Grande Guerra
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