TRÊS
CONTRARIEDADES E DUAS REAÇÕES
Se
pensarmos um pouco, analisando o que se passa conosco, perceberemos que
costumamos padecer de três tipos de contrariedades e que, em face delas, temos dois
tipos de reações.
Existem
as contrariedades provocadas pelos outros: eles têm aqueles modos desagradáveis
de falar, de olhar ou não olhar, de retrucar ou não responder, de esquecer ou
estar lembrando-nos certas coisas a toda a hora, de dirigir carro – dirigir? –,
de se atrasar, de impor... Existem depois as contrariedades procedentes de nós
mesmos: “Não me aguento, voltei a deixar a chave de casa no escritório!”, “Por
que sempre gaguejo ao falar na sala de aula?”, “Não consigo contar uma piada que
faça rir a ninguém!” E, por último, as que decorrem das circunstâncias: “Já faz
sete meses que estou sem emprego!”, “Desde que apanhei aquela bronquite, nunca
mais deixei de tossir!”, “Justamente quando fui tirar férias, veio aquela
frente fria estacionária e não parou mais de chover!” De fato, quase todas as
contrariedades se enquadram em algum desses três capítulos.
Ora, ao lado dessas três espécies de
contrariedades, existem, como mencionávamos acima, dois modos diferentes, ainda
que muito “aparentados”, de reagir. Vale a pena focalizá-los.
O
primeiro modo é a impaciência. É preciso dizer desde já que a impaciência, em
si mesma, na sua essência mais íntima, consiste em não saber sofrer.
Precisamente a palavra paciência deriva do verbo latino pati, que significa padecer. Por isso, a virtude da paciência é a
capacidade de padecer dignamente, a arte de sofrer bem, e mais concretamente a
paciência cristã é a virtude que nos dá, com a graça divina, a capacidade de
sofrer, de suportar as contrariedades e a dor – especialmente quando se prolongam
– com fé, esperança e amor.
Uma
vez esclarecido isto, pode também ficar claro que a irritação, a brusquidão, a
raiva ou a cólera não fazem parte, propriamente falando, da impaciência – ainda
que muitas vezes a acompanhem –, mas da ira. É bem verdade que a ira – a que
nos referiremos daqui a instantes – e a impaciência convivem muitas vezes no
nosso dia-a-dia como duas irmãs siamesas.
Mas
é útil não perder de vista, na leitura
destas páginas dedicadas à paciência, que a impaciência se dá – mesmo que não
se faça acompanhar de nenhuma emoção ou explosão – simplesmente quando não
sabemos aceitar ou aceitamos de má vontade aquilo que nos contraria ou nos faz
sofrer.
A
impaciência é rica em apresentações. Pode-se manifestar quer no nosso interior,
quer externamente, de maneiras muito variadas. Com muita frequência, aflora em
forma de queixas internas (quando a pessoa se lamenta no íntimo, sentindo-se
vítima), ou de reclamações ásperas ou lamurientas com os outros, ou de
cobranças insistentes, ou de suspiros lastimosos, ou de trejeitos e desabafos
reveladores de cansaços morais (“Já não suporto mais! Cheguei ao limite! Isto é
superior às minhas forças!”).
Também são frutos da impaciência os comentários
de desânimo e os olhares de tristeza... É interessante saber que um dos
principais efeitos da paciência, mencionado por São Tomás de Aquino, é expulsar
a tristeza do coração[NOTA DE RODAPÉ: Suma Teológica, II-II, q. 136, a. 2, 1.].
(Livro
A Paciência, Francisco Faus)
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