1. Jesus: Filho, mais me agradam a paciência e
humildade nos reveses que a muita consolação e fervor nas prosperidades. Por
que te entristece uma coisinha que contra ti disseram? Ainda que fosse maior,
não te devias ter perturbado. Deixa passar isso agora, não é novidade; não é a
primeira vez, nem será a última, se muito tempo viveres. Mas valoroso és,
enquanto te não sucede alguma adversidade. Sabes até dar bons conselhos e
acalentar os outros com tuas palavras; mas quando bate, de improviso, à tua
porta a tribulação, logo te falta conselho e fortaleza. Considera tua grande
fraqueza, que tantas vezes experimentas nas pequenas coisas; todavia, é para
tua salvação que isso e semelhantes coisas acontecem.
2. Procura esquecer isso como melhor souberes, e,
se te impressionou, não te abale nem te perturbe muito tempo. Sofre ao menos
com paciência o que não podes sofrer com alegria. Ainda que te custe ouvir esta
ou aquela palavra e te sintas indignado, modera-te, e não deixes escapar da tua
boca alguma expressão despropositada, com que os pequenos se poderiam
escandalizar. Logo se acalmará a tempestade em teu coração, e a dor se
converterá em doçura, com a volta da graça. Eu ainda vivo, diz o Senhor, pronto
para te ajudar e consolar, mais do que nunca, se em mim confiares e me
invocares com fervor.
3. Sê mais corajoso, e prepara-te para suportar
coisas maiores. Nem tudo está perdido por te sentires a miúdo tribulado e
gravemente tentado. Homem és e não Deus; carne és e não anjo. Como poderás tu
perseverar sempre no mesmo estado de virtude, se tal não pôde o anjo no céu,
nem o primeiro homem no paraíso? Eu sou que levanto os aflitos e os salvo,
elevo à minha divindade os que conhecem as suas fraquezas.
4. A alma: Senhor, bendita seja a vossa palavra,
mais doce na minha boca que um favo de mel ( Sl 18,11; 118, 103). Que seria de
mim em tantas tribulações e angústias, se vós me não confortásseis com vossas
santas palavras? Contanto que chegue afinal ao porto de salvação, que importa o
que e quanto tiver sofrido? Concedei-me bom fim, ditoso trânsito deste mundo.
Lembrai-vos de mim, meu Deus, e conduzi-me pelo caminho reto ao vosso reino!
Amém.
(Imitação de Cristo -
Livro 3 Capítulo 57)
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