Sua importância e deveres
A
educação é a própria obra de Jesus Cristo sobre a terra; os pais são os Seus
continuadores e auxiliares; é a obra por excelência!
Mas,
ai! Como são raros os que pensam neste dever ou que desejam cumpri-lo! Não se
preparam para isto. A educação é uma obra eminentemente difícil. "Não só
requer dedicação, mas muito tato, saber, experiência e observação. Quais são os
rapazes e raparigas que pensam seriamente nisto, antes do seu casamento e se
preparam eficazmente?...
Preparai
vossos filhos e vossas filhas; meus senhores, para serem educadores Preparam-se
para serem oficiais, magistrados, professores, industriais, sábios; preparam-se
para todas as funções sérias, durante anos de trabalho, e porque os futuros
pais e as futuras mães se não hão de preparar para a mais difícil de todas as
tarefas; - a educação?
Não
se preparam porque não se querem incomodar com isto. Logo que as crianças
nascem confiam-nas a cuidados mercenários; assim que podem, para se verem
livres deles, colocam-nos em colégios, ou os abandonam sem fiscalização a
professores ou a professoras; e continuam a vida de prazeres, de festas, a vida
mundana e egoísta.
Os
enjeitados têm a caridade para recebê-los; têm religiosos ou religiosas que
lhes servem de admiráveis pais e de extremosas mães. Há crianças de famílias
ricas, de famílias que se dizem cristãs, que não são tão bem tratadas e que,
seus pais, para livremente se divertirem as confiam a criados que, na maior
parte dos casos, as corrompem e depravam.
Naturalmente,
nem um pai nem uma mãe se devem isolar da sociedade, mas é necessário que o
tempo que deve ser empregado nos cuidados e educação dos filhos, não seja
absorvido pelos entretenimentos e outras preocupações mundanas.
O
contrário significa um abatimento moral, o desprezo do maior dever dos pais,
cuja desordem e infelicidade não se poderiam lastimar bastante, e recear as
consequências perniciosas.
Mas
supondo um pai que compreenda a gravidade do seu dever e esteja preparado para
cumpri-lo, decidido a fazer os sacrifícios necessários, a trabalhar quanto for
necessário, seriamente, pessoalmente, na educação de seus filhos; que deverá
fazer?
Tudo
se pode resumir nos pontos seguintes: a correção, a religião, o exemplo, a
preservação, a última educação, o futuro.
O
dever de correção é consequência imediata da queda original.
O
homem não nasce naturalmente bom, como afirma Rousseau: nasce mau, depravado,
com uma vontade propensa para o mal, com terríveis paixões em gérmen; em uma
palavra, com o que a Igreja chama a concupiscência, que o Batismo, tornando-o
filho de Deus, enfraquece, contrabalança, mas não suprime. São estes instintos
perversos que a correção combate, ou antes, ensina à criança a combater por si
mesma. Visto não os poder suprimir e não dever ceder-lhes, será preciso que os
domine, para vencê-los mais tarde.
A
correção exige do pai e da mãe quatro qualidades: a perspicácia, a firmeza, a
bondade e a concórdia mútua.
A
correção exige a perspicácia porque é
uma obra de luz e de sapiência, em que, primeiro que tudo, é preciso ver
lucidamente.
É
preciso conhecer-se bem o fim proposto; necessitam-se ideias nítidas;
princípios sólidos, e pensar em educar as crianças para Deus e não para si
mesmo. Se os pais não estão certos do que creem ou querem, como poderão
corrigir seus filhos?
É
preciso conhecer nas próprias crianças o que elas são; pois que nem todas são
semelhantes; as suas naturezas físicas e morais são essencialmente diferentes.
Tratá-las todas do mesmo modo, é um engano e um erro.
É
preciso estudar, em especial, a natureza de cada criança; o seu caráter, as
suas qualidades, os seus defeitos, para se saber como se há de tratar, o que se
poderá exigir dela, a medida de esforços de que poderá dispor, o que ela tem de
mais importante a combater ou a desenvolver.
Para
isto, é necessário força de vontade para ver sem paixão; porém, bem poucos pais
são capazes de assim proceder em virtude da cegueira a que os leva a afeição
natural. Diz-se que a cegueira das mães, no que diz respeito às filhas, não se
pode comparar senão à cegueira dos maridos, no que diz respeito a suas
mulheres. Pode dizer-se o mesmo, dum modo geral, da cegueira dos pais para com
seus filhos; é profunda e como incurável. Os educadores sabem-no e lamentam-no;
os mais ilustres têm-no afirmado mais de cem vezes. Os pais defendem os filhos
quando os mestres os repreendem, e dão razão aos filhos. Muito poucos pais
querem reconhecer os defeitos dos filhos, saber a verdade a seu respeito.
Com
a perspicácia desaparece esta cegueira da alma e morrem todas as suas ilusões.
É o fruto do verdadeiro amor: illuminatos óculos cordis. A correção é obra de
luz, requer a perspicácia.
E
obra de força, requer firmeza. Esta
falta ainda mais do que a perspicácia.
Porque
é mais difícil querer do que saber; e se os pais não querem saber, é porque o
saber condená-los-ia a querer. Quem não tem querer, não sabe mandar nem
proibir, nem, o que é capital, obrigar as crianças a quererem.
Não
só na infância, mas ainda mais tarde e sempre, lhes fazem física e moralmente,
todas as suas vontades. Em toda extensão do termo, educam-nas mal, isto é,
corrompem-nas.
Adulam
o corpo e a alma, a carne e o espírito; alimentam as paixões; excitam-lhes a
vaidade, o orgulho; honram-nas, adoram-nas.
Cedem-lhes
tudo; habituam-nas a vencerem os outros, a dominarem, a fazerem a sua própria
vontade. É o sistema de concessão levado até à mais deplorável fraqueza. Veem-se
moços que chegam a ser os verdadeiros donos da casa, a mandarem em tudo, e a
aniquilarem os próprios pais que, para conservarem uma aparência de dignidade,
dizem amém a tudo.
Mas
a criança não quer obedecer, e não quererá, objetam! Então porque sois pais,
meus senhores, senão para quererdes com sabedoria, e fazerdes querer com a
vossa autoridade?
Mas
ele tem quinze anos, já se não pode obrigar! O Evangelho resume a vida de Jesus
Cristo em casa de Seus pais, por uma só palavra: erat subditus illis.
Obedeceu
até aos trinta anos. É o exemplo que deveis apresentar a vossos filhos. Aos
quinze, aos vinte anos, os vossos filhos devem obedecer-vos.
Mas
a firmeza não é o arrebatamento a brutalidade, a frieza, o capricho, a paixão,
a injustiça.
A
firmeza deve ser justa e paciente. Justa para mandar, segundo o dever, o bem,
as forças da criança: deve ser uma firmeza elevada, sobrenatural,
proporcionada. Os pais devem combater o próprio mal e não os efeitos que os
incomodam; devem corrigir as inclinações da criança, porque são viciosas e não
porque os fazem sofrer.
A
firmeza deve ser paciente, isto é moderada, senhora de si; é preciso saber
esperar, e não querer fazer tudo de uma só vez.
Firmeza
justa e paciente, não há nada que seja mais recomendando aos pais pelas
Escrituras Sagrada: "Aquele que não emprega a vara, diz ela, trata a
criança como se a odiasse.”
À
firmeza é preciso juntardes a bondade, para que as crianças vos amem. Sem ela,
a firmeza seria odiosa e repelida, ou sofrida como escravidão.
"Qual
é o vosso segredo para terdes tanta influência sobre as crianças?"
perguntavam a um célebre educador, ao que ele respondia: "Começo por me
fazer amar". É preciso fazer-se amar pelas crianças, levá-las pelo
coração, e cuidar-lhes sempre do coração.
Não
é por uma bondade de concessão ou de
fraqueza, que tem sido definida: A arte de desenvolver, numa criança, todos os
defeitos que recebeu da natureza, e juntar-lhe todos os que a natureza se
esqueceu de dar-lhe. Isto seria a destruição da firmeza, a ruína da educação.
Não
é também, da parte do pai, uma bondade demasiadamente familiar uma bondade de
camarada. Antigamente, havia talvez distância demais e como cerimônia e frieza
entre o pai e o filho. Hoje é excessivamente o contrário cai-se na camaradagem,
o que é um mal: traz a ideia da igualdade e enfraquece o poder paternal. Os
maiores mestres da antiguidade, como Platão e Cícero, e os dos tempos modernos,
no que diz respeito à educação, pronunciaram-se claramente sobre este ponto. A
camaradagem prejudica o respeito e a autoridade.
É
preciso uma bondade digna e forte, firme e sem fraqueza, e que não veja em tudo
senão o bem da criança; uma bondade que seja o reflexo e como que a imagem da
de Deus, a única que merece ser chamada a bondade paternal.
Enfim,
porque sois dois, porque há a mãe ao lado do pai, a mãe que tem a sua grande parte
na educação e autoridade também sobre a criança, é essencial que haja entre os
dois uma concordância mútua. Isto é
muito raro. Os pais, muitas vezes, censuram-se, contradizem-se, brigam diante
dos filhos.
Mas
a criança não escapa à tentação de julgar os que fazem dela testemunha de suas desavenças;
a sua consciência sente-se ferida, a autoridade é atacada e fica diminuída a
seus olhos.
Fazei
as vossas observações mútuas em particular, nunca em presença das crianças. Não
mineis a vossa própria autoridade. Não mostreis diante delas senão uma união constante
e um acordo perfeito: é a condição para manterdes intacta a autoridade, inviolável
e sagrada.
Com
a concordância mútua, a bondade, a firmeza, a perspicácia, far-se-á a obra de
correção, todavia com a condição de estar aí a Religião para inspirar tudo,
animar tudo, vivificar tudo.
(Livro O marido, o pai e o apóstolo - Escravas de Maria)
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