Sem
a Religião não há educação possível. Os menos religiosos reconhecem-no, quando são
sinceros, quero dizer, quando não fazem obra de sectários, mas obra de pais,
quando se trata de seus próprios filhos.
Diderot
ensinava ele mesmo o catecismo a sua filha; e respondeu a um amigo que se admirava
disto: "Ainda não se encontrou melhor meio de educação."
Littré
consentiu que sua mulher educasse cristãmente sua filha, sob a condição de encarregar-se
da educação dela, segundo os seus métodos, quando esta tivesse dezesseis anos.
E, quando chegou aos dezesseis anos, o coração do pai, ainda ligado ao
positivismo, foi mais forte e mais perspicaz do que as suas teorias, e Littré
não ousou tocar no trabalho de sua mulher, que havia feito de sua filha uma
menina modelo.
Quantos
pais, hoje, são ímpios por interesse, por espírito de partido, por ambição, e
põem em segredo, ou poriam, se tivessem coragem para isso, suas filhas em casas
de religiosas e seus filhos em casa de religiosos? É porque o coração de pai,
meus senhores, quando não é desnaturado, é um santuário sagrado, onde se
encontram, não obstante todos os desvarios, como em asilo inviolável, a
verdade, a sinceridade, a inteligência de tudo o que é grande e santo, justo e
bom, quando se trata dos interesses de seus filhos!
É,
desde a idade mais tenra, que se deve imprimir fortemente o sentimento
religioso na alma da criança. As primeiras noções, os primeiros sentimentos que
ela recebe são os mais tenazes, os mais indestrutíveis.
Na
sua alma nova, imprimem-se com tal força estes sentimentos, que nada, nada os poderá
apagar.
As
paixões, os erros poderão perturbar a superfície; a religião, se tiver sido
ministrada como um culto, que é, desde a infância, firme e invulnerável, ficará
como uma rocha de granito.
Desde
o primeiro despertar da razão, falai às crianças a linguagem da razão e da Fé e
compenetrai-as das grandes idéias que fazem o homem e o cristão. Em vez de lhes
meterdes medos ridículos, ou ameaças, dizei-lhes que são vigiadas por Deus, que
Jesus Cristo morreu por elas. Falai-lhes do julgamento de Deus, do Céu, do
Inferno, do Purgatório, da Paixão de Jesus Cristo.
Inculcai-lhes
profundamente o amor e culto do dever, da pátria, da Igreja, da virtude, da justiça,
da caridade, da Virgem Santíssima, de Jesus Cristo, de Deus.
Que
as suas orações sejam sempre feitas seriamente, e nunca por brinquedo, nem
diante de estranho, só para mostrarem o que sabem fazer, é o que cumpre
indicar-lhes.
Tornai-as
piedosas, contando-lhes a vida de Jesus Cristo, cuja infância deve servir-lhes de
modelo.
Conduzi-as
cedo ao catecismo, porque aí, por instruções ao seu alcance, encontrarão
exortações cristãs. Os pais não têm melhor auxiliar do que o padre na obra da
educação moral. O padre não pode recusar-se, mas elas também não o podem
recusar.
A
primeira confissão deve ser, para as crianças, um negócio grave, um ato que
nunca deverão esquecer.
Que
a sua primeira Comunhão receba toda a preparação e seja rodeada de todas as medidas
necessárias para que se torne o ponto central e como que o eixo de toda a sua vida,
é indispensável.
Urge
que entre os doze e os vinte ou vinte e cinco anos, enquanto dependerem de vós,
o estudo da religião tenha o primeiro lugar em seu pensamento, como nas vossas
três ocupações. Se uma educação religiosa, não confirma sempre, infelizmente, o
triunfo da moral, uma educação sem religião assegura a sua derrota
irremediável.
Dai-lhes
uma religião sólida, esclarecida, bem arraigada, escolhendo-lhes com o maior
cuidado os cursos, os pregadores, os livros de religião.
Fazei
consciências indomáveis que não capitulem, caracteres de aço que não obedeçam senão
a Deus.
Fazei
com que sejam homens de convicção e de Fé. São as idéias, as convicções, que governam
o mundo: é a Fé que o levanta e transforma. Mas é necessário uma Fé que faça parte
de nós mesmos, que esteja no sangue, e como segunda natureza: é a obra da
educação!
A
religião não penetraria na alma das crianças, a correção não corrigiria nada,
se ambas não fossem apoiadas pelos vossos exemplos. Vós bem o reconheceis, meus
senhores; se não praticais o que exigis, não podeis exigir com força e
convicção, aquilo que não está em vosso coração. A vossa hipocrisia paralisará,
queimará os vossos lábios: achar-vos-eis sem autoridade, sem força. O orador,
diziam os antigos, é o homem de bem, que fala bem; é a definição do pai: ele só
falará bem, se for homem de bem; só mandará bem no que souber praticar.
Como
escapar ao olhar, ao ouvido da criança, à sua finura, ao seu espírito de observação?
Se a vossa vida depuser contra as vossas lições, destruí-las-á. A criança lembrar-se-á
dos exemplos e esquecerá as lições. "Toma cuidado, diz o Sábio, que a tua vida
não seja a causadora da morte de teu filho."
Se,
pelo contrário, o exemplo confirmar a lição, a criança ficará vencida.
Dai
o exemplo a vossos filhos, meus senhores. Que vos vejam rezar, ao menos algumas vezes,
é do maior alcance.
Quando
a criança vê seu pai de joelhos, compreende melhor a oração parece-lhe que há alguma
coisa da majestade do próprio Deus que desce sobre a fronte de seu pai.
Respeita mais; e quer mais ao mesmo tempo, a seu pai da terra e a seu pai do
Céu.
Fazei
com que os vossos filhos vos vejam na Santa Missa em atitude silenciosa, de respeito
e de oração e vos vejam comungar, quando mais não seja, pela Páscoa; ou pelo menos,
que saibam que vós cumpris este sagrado preceito. A criança que não vê seu pai
comungar, que sabe que seu pai não comunga, sofrerá mais cedo ou mais tarde, em
sua consciência, assaltos terríveis, e tanto maiores quanto mais respeitar seu
pai; a sua Fé ficará abalada.
Deixai
que vossos filhos sejam testemunhas diárias da vossa paciência, da vossa humildade,
da vossa bondade, da vossa mortificação, da vossa caridade, das vossas boas obras,
do bem que fazeis, da paz e alegria que espalhais ao redor de vós por vossos exemplos
e vossas virtudes!
Felizes
dos que encontram em seus pais, o modelo do que devem seguir, e aos quais não se
pode dar melhor conselho do que dizer-lhes: "Meus filhos, olhai para os
vossos pais e fazei como eles!"
Estes
exemplos são fáceis, meus senhores, se compreenderdes a sua importância; se penetrardes
no santuário de vosso coração paterno, para nisto refletirdes; se tomardes o costume,
antes de agirdes, de pedir conselho ao berço ou ao futuro de vossos filhos.
Mas
não sois os únicos a ter influência sobre vossos filhos. Outras influências há
que poderiam impedir ou destruir a vossa obra. Deveis preservá-los pela
vigilância.
Preservai-os
contra os perigos dos colégios e escolas, escolhendo com escrúpulo os estabelecimentos,
os mestres a quem ides confiá-los.
A
vossa responsabilidade a este respeito é grande. Não podeis ir ao acaso, nem contentar-vos
com informações vagas e indeterminadas. Deveis ver vós mesmos e assegurar-vos
de que tudo é correto. Deveis seguir a criança no ensino que recebe, sobretudo
nas classes altas, e nunca abdicar do vosso direito de vigilância e de censura.
Preservai
vossos filhos das conversações dos estranhos, dos amigos, dos criados. As
crianças ouvem tudo, porque escutam tudo. Uma palavra, uma observação poderá
ser o veneno lançado em sua alma. Vós deveis defendê-los e a vossa vigilância
tendo sido surpreendida, se o mal foi praticado, devereis descobri-lo e
remediá-lo.
Quando
a criança parecer perturbada, não receeis mandá-la repetir o que tiver ouvido, para
lhe mostrardes a sua falsidade e o perigo que daí pode advir.
Preservai
os vossos filhos de leituras perigosas. A leitura tem lugar preponderante na formação
do espírito, do coração e da alma. É do vosso dever proibir-lhes leituras perniciosas;
e, se os estudos os obrigarem a fazê-las, devereis corrigir e destruir o seu
efeito.
Sois
vós que deveis indicar-lhes os livros que eles devem ler, - livros úteis e
bons, fortificadores do espírito e retemperadores da alma, e em que possam
aprender tudo o que é necessário para serem felizes e agradáveis a Deus.
Afastai
os vossos filhos das más companhias que, muitas vezes, começam na infância com
a imoralidade dos cuidados mercenários, e mais tarde com os amigos corrompidos.
As más companhias ainda perdem mais a mocidade do que essas leituras
prejudiciais.
A
influência que um companheiro de maus costumes ou caráter baixo pode exercer sobre
outro que é puro, ingênuo e bom, é tão extraordinária quanto perigosa. Começa o
mau por se iniciar no espírito do bom, fazendo-lhe a apologia das suas falsas
teorias ou dos seus péssimos costumes. Aquele que é bom, a princípio, resiste,
depois, ou por timidez ou por fraqueza, deixa-se arrastar para o mal, para o
crime... E ei-lo perdido para a sociedade, para a família e para Deus!
Afastai,
pois, de vossos filhos, e sem piedade, os maus companheiros, e fazei por aproximá-los
dos bons que serão para eles uma proteção, um amparo, uma segurança.
Preservai-os
da ociosidade. Se vos achais em posição modesta, serão, obrigados a trabalhar,
o que será uma felicidade. Se fordes ricos, ou se eles estiverem destinados a
sê-lo, será um grande perigo. A ociosidade é funesta: desideria occiduntpigrum diz
a Escritura. A ocupação útil, o trabalho, é a lei da vida para todos, tanto
para os ricos como para os pobres. Os acidentes da vida não se fazem muitas
vezes esperar, obrigando todo o mundo a trabalhar; e em quanto isto não
acontece, para que vossos filhos estejam preparados, obrigai-os ao trabalho. Se
não seguirem qualquer carreira, fazei com que empreguem bem o tempo e que
pratiquem o bem.
Impeli-os
a praticarem obras de caridade, e a cumprirem os deveres sociais. É nisto que eles
encontrarão um magnífico papel a desempenhar, e a mais útil das influências; e,
pelo que a experiência tem demonstrado, aí encontrarão o melhor preservativo
contra o mal.
A última
educação do moço, não é a menos importante. Trata-se de premuni-lo contra os perigos
que vai encontrar na vida; contra os assaltos, até aí desconhecidos, das suas próprias
paixões, contra o arrebatamento de tudo o que é novo e sedutor.
Mas
ainda não é o momento de dizer: Tudo está concluído; não resta senão rezar. Sem
dúvida; é preciso que redobrem as orações, mas é também preciso agir, não ficar
em inação.
A
autoridade deverá ser exercida com mais brandura, com mais ponderação e deve revestir-se
de mais doçura, tato e circunspeção; mas deverá conservar-se vigilante e firme,
não se conformar com o mal, dizendo: todo o mundo faz assim é preciso passar a
mocidade; mas dizer, pelo contrário: "Não! O meu filho, não será como toda
essa gente: é preciso que a sua mocidade, o seu sangue e a sua virtude se
conservem intactos, para Deus, para a pátria e para a família que, por sua vez,
há de constituir".
Falai-lhe
dos seus futuros deveres, de sua família, de seus filhos e de sua esposa! Em tudo
isto há uma fonte de sentimentos nobilíssimos, muito poderosos, que, maravilhosamente,
hão de vir em socorro da religião, que há de sustentá-lo nas terríveis lutas
que vai sofrer e assegurar-lhe a vitória. Fazei pairar, com antecipação, sobre
a sua vida, a imagem da terna e inocente donzela e a dessas nobres criaturas
que se lhe assemelharão, e das quais ele será pai.
Dar-lhe-eis
deste modo, força maravilhosa, e assim o protegereis e o preservareis...
Se
cair, não penseis que está tudo perdido; não desespereis, para que não fique
com vontade de desesperar-se também. Sede bons, perdoai-lhe, levantai-o; nunca
o façais perder a confiança em vós, em vosso coração.
Mas
sede firmes e sem fraquezas. Há horas em que só o pai pode salvar o filho; só
ele é que terá bastante autoridade e força para isso. Só a voz da natureza e do
sangue será bastante poderosa para ser atendida.
Enfim,
ajudai vossos filhos na questão grave do futuro, que não podem decidir a sós. Tratando-se
de vocação religiosa, sondai-lha com prudência; mas não lhe ponhais obstáculos.
Se a vocação não for de Deus, cairá por si perante estas prudentes medidas. Se for
de Deus, que mal e que erro seria a vossa oposição a Deus! Que conseqüências
para o futuro de vossos filhos!
Tratando-se
de casamento, ponde de parte a ambição, a avareza, o egoísmo, e colocai-vos
francamente sob o ponto de vista do verdadeiro bem de vossos filhos, e sob o
ponto de vista cristão. Assegurai-vos da moralidade e sentimentos religiosos,
da saúde, do caráter, do gênero de educação e da família. Tomai bem as
informações, nunca serão demasiadas; sede desconfiados e não crédulos.
Em
seguida, deixai a palavra ao interessado; não precipiteis nada; dai tempo para
se verem e tornarem a ver: para se conhecerem, para saberem se são do agrado um
do outro; nunca forceis um coração; as conseqüências poderiam ser desastrosas.
Tratando-se,
finalmente, duma carreira a seguir, esclarecei e auxiliai-o com os vossos conselhos,
mas guiai-vos sempre por vistas elevadas e por motivos nobres e cristãos; depois
deixai o rapaz seguir livremente a sua inclinação e as suas aptidões; não lhe imponhais
nunca a vossa vontade pessoal.
É
na Escritura Sagrada, meus senhores, que deveríeis ler a importância do pai, e de
seus deveres, as bênçãos permitidas aos que os cumprem, as infelicidades e os
castigos dos que os desprezam. Deixo isto ao vosso cuidado. Vereis que não há
palavras mais surpreendentes em qualquer outro assunto, do mesmo modo que não
há palavra mais temível do que a que o Salvador dirige àqueles que fazem mal às
crianças: "Aquele que houver escandalizado um destes pequenos, seria
melhor que lhe atassem uma pedra ao pescoço e fosse lançado ao fundo do
mar".
Como
será terrível no dia do juízo a responsabilidade dos pais! Ah! Que bênçãos para
aqueles que houverem compreendido os seus deveres, e os tiverem preenchido
digna e corajosamente, para aqueles que tiverem sido os salvadores de seus
filhos, e, por eles, de inúmeras gerações!
Mas
que maldições cairão sobre aqueles que tiverem desprezado os mais santos e mais
sagrados de todos os deveres; sobre aqueles que tiverem sido o escândalo e a
perdição de seus filhos, e, por eles, de muitos outros!
Se,
em nossos dias, há um espetáculo que entristeça profundamente os que se
importam com a virtude e o bem, com o futuro da religião e do país, é o
espetáculo da decadência da autoridade paterna. Têm-se atacado a autoridade e
os direitos de Deus, a paternidade divina; têm-se exaltado os direitos do
homem, o direito dos filhos, nos escritos, nos discursos, nas leis, de todos os
modos. Um sopro forte de independência passou sobre as novas gerações. A
autoridade paterna tem sido profundamente abalada nos costumes e nas leis,
minada pela base, descoroada, desarmada! Os mais ilustres pensadores
disseram-no, e soltaram o brado de alarme.
Os
filhos já não querem obedecer: querem mandar antes do tempo; elevam-se acima dos
pais, e acham-se superiores em tudo. Acabou-se a autoridade, acabou-se o
respeito, acabou-se a submissão, acabou-se a família. E o individualismo
excessivo; é a sociedade que se pulveriza.
Quem
nos tornará a dar homens? Quem tornará a fazer cristãos, para que a sociedade
se erga? São as famílias cristãs, os lares cristãos, os únicos capazes de
fazerem reflorescer ainda a autoridade, o respeito, a obediência.
São
os guardas do lar, os chefes de família; são os pais!
Disseram
bem: "Os filhos são a colheita dos pais." Seja não temos homens, ou
pelo menos se não temos bastantes; se a colheita é demasiadamente rara, se os
celeiros da França estão vazios, é porque nos faltam pais, pais cristãos.
E
eis porque, na tormenta que nos agita, todos os que, pensando no futuro não se
querem desanimar, todos os que guardam no coração uma confiança invencível e
esperanças imortais, se voltam para os pais, e lhes rogam que se conheçam a si
mesmos, para compreenderem a grandeza de seus deveres e a sua influência
soberana, e para lhes dizerem: "É de vós, ó chefes de família, ó
representantes de Deus, ó dispensadores da vida, ó guardas da infância, é de
vós, ó pais cristãos que dependem neste mundo, os bens e os males, a virtude e
o vício, a grandeza e a decadência, a vida e a morte da família e da sociedade,
dos indivíduos e do Estado, da Santa Igreja e da França!"
(Livro
O marido, o pai e o apóstolo – Escravas de Maria)
Excelente post que nos mostra o quanto os pais são importantes na educação dos filhos.
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