Parece
que as relíquias dos santos de nenhum
modo devem ser adoradas.
1.
— Pois não devemos fazer nada que seja ocasião de erro. Ora, adorar as relíquias
dos mortos parece constituir um erro dos gentios, que prestavam honorificência
aos mortos. Logo, não devemos honrar as relíquias dos santos.
2. Demais. —
E estulto adorar uma coisa insensível. Ora, as relíquias dos santos são
insensíveis. Logo, é estulto venerá-las.
3. Demais. —
O corpo morto não é da mesma espécie que o vivo, e por consequência não é
numericamente idêntico a ele. Logo, parece que depois da morte de um santo, não
lhe devemos adorar o corpo.
Mas,
em
contrário, Genádio: Cremos sincerissimamente, que devem ser honrados os
corpos dos santos e sobretudo os dos santos mártires. E depois acrescenta: Quem
não o admitir não é considerado Cristão, mas Eumoniano e Vigilanciano.
SOLUÇÃO. — Como diz Agostinho, se as vestes
paternas, um anel ou coisas semelhantes tanto mais queridas são dos filhos,
quanto maior o afeto que tinham pelos pais, de modo nenhum devemos desprezar o
corpo que nos é muito mais familiar e muito mais unido, do que qualquer roupa
que usemos; pois, o corpo pertence à própria natureza humana. Por onde é claro,
que quem tem afeto por outrem venera-lhe também o que dele resta, depois da
morte; e não só o corpo ou partes do corpo, mas também certos bens exteriores,
como as vestes e outros semelhantes. Ora, é manifesto que devemos venerar os
santos de Deus, como membros de Cristo, filhos e amigos de Deus e nossos
intercessores, Por isso, devemos lhes venerar quais relíquias, com a honra
devida, em memória deles; e sobretudo os seus corpos, que foram os templos e os
órgãos do Espírito Santo; que neles habitou e operou, e hão de assemelhar-se
ao. corpo de Cristo pela glória da ressurreição. Por isso, o próprio. Deus
honra convenientemente essas relíquias, fazendo. milagres na presença delas.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — A razão de Vigilância, cujas palavras são
citadas por Jerônimo no livro que contra ele escreveu, é a seguinte: Vemos
introduzido, diz, a pretexto de religião, o costume mais ou menos igual ao dos
Gentios, de adorar, beijando-os, não sei que pósinhos encerrados em um vaso
envolto em pano precioso. Contra o que diz Jerônimo : Afirmo que não adoramos
as relíquias dos Mártires como não adoramos o sol nem a lua nem os anjos, isto
é, com adoração de latria. Mas, honramos as relíquias dos mártires, para
adorarmos aquele a quem eles pertenceram; honramos os servos, para que a honra,
a eles tributada redunde para o Senhor. Assim, pois, honrando as relíquias dos
santos, não incidimos no erro dos Gentios, que prestavam culto de latria aos
mortos.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — O corpo insensível não o adoramos, em si mesmo, mas por causa da
alma, que lhe esteve unida e que agora frui de Deus; e por causa de Deus, de
que foram os ministros.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — O corpo de um santo morto não é numericamente idêntico ao de
quando vivia, por causa da diversidade da forma, que é a alma; mas, é lhe
idêntico pela identidade da matéria, que deve de novo unir-se à sua forma.
(Suma Teológica, part III,
quest. 25, art 6)
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