O mundo moderno detesta a penitência e a
mortificação, apregoando a necessidade de gozar-se a vida. Mas Cristo começou
sua pregação com um convite à penitência: “Fazei penitência” (Mt. 3,2) e
com uma advertência que é uma verdadeira ameaça: “Se não fizerdes
penitência, todos perecereis” (Lc. 13,5).
Aliás, o estado em que nos deixou o pecado original exige de nós a mortificação, para conter as paixões e submeter-nos à vontade de Deus.
Obrigando-nos ao jejum e à abstinência, a Igreja não nos cria nenhuma obrigação nova, mas obriga ao cumprimento de um dever que está na doutrina de Cristo e nas nossas próprias necessidades, regulamentando-o apenas.
O jejum
1 – O jejum foi, em todos os
tempos, um dos mais praticados meios de penitência.
a) No Antigo Testamento, jejuaram
Moisés e Elias 40 dias (Ex. 24,18 e 3Rs. 19,8); havia dias obrigatórios de
jejum (Lv. 16,29-31).
b) No Novo Testamento, Jesus começa
a vida pública por 40 dias de jejum no deserto (Mt. 4,2); São Paulo fala dos
seus muitos jejuns (2 Cor. 11,27); os cristãos jejuavam (At. 13,2).
2 – Sempre se atribuíram ao jejum
os mais variados e salutares efeitos.
a) No Antigo Testamento, jejuavam
para evitar castigos divinos (Rs. 21, 27-29), para expiar os pecados (Jn.
3,4-10), para alcançar graças (Est. 4,16-17), para ser espiritualmente forte (I
Rs. 7,6-11), etc.
b) No Evangelho diz Jesus que pelo
jejum se reprimem os demônios (Mt. 17,20).
c) A Igreja ensina que o jejum
reprime os vícios, eleva as mentes, concede a virtude (Prefácio da Quaresma). A
Liturgia chama-o de remédio ao pecado, purificação, penhor de perseverança,
etc. (Ver no Missal numerosas referências ao jejum, principalmente nas Missas
da Quaresma).
Como se jejua
1 – A essência do jejum está em se
tomar uma única refeição pleno no dia, permitindo-se ligeira refeição pela
manhã e à tarde.
2 – Na refeição plena pode-se
comer quanto o apetite pedir. No café da manhã pode-se tomar leite ou café com
uma regular quantidade de pão com manteiga. Na refeição da tarde, à hora do jantar,
pode-se tomar a metade do que se costuma nas refeições comuns.
3 – Líquidos não quebram o jejum,
salvo os que se tomam à moda de alimento, e não de simples bebida, como leite,
chocolate, caldos de carne, etc.
4 – Nos dias de jejum sem abstinência, pode-se comer carne em uma das refeições apenas.
O preceito do jejum
1 – Estão obrigados ao jejum todos os fiéis, desde os 21 anos feitos aos 60 começados. A razão é que a Igreja não impõe a ninguém ônus superior ou nocivo a suas forças.
2 – O jejum, como a abstinência, é
uma lei grave que obriga sob pena de pecado mortal, admitindo parvidade de
matéria e casos de dispensa.
3 – São dias de jejum com
abstinência:
a) quarta-feira de cinzas;
b) sexta-feira santa; [1]
Abstinência
1 – A abstinência proíbe o uso de
carnes e caldos de carnes.
2 – Estão obrigados à abstinência
todos os fiéis que tiverem completado 14 anos [2] e não tiverem justa
causa de dispensa.
3 – São dias de abstinência todas
as sexta-feiras do ano (exceto as que caem em festas de preceito, inclusive
durante a Quaresma). [3]
4 – Estão dispensados da
abstinência:
a) os mendigos que só têm para comer o que recebem de esmola;
b) os doentes que não podem
alimentar-se de outra coisa;
c) os operários que se ocupam de
trabalhos muito pesados;
d) os que recebem alimentação
coletiva, quando não lhes fornecerem outro alimento;
e) os que viajam, se não tiverem
outro alimento.
Dispensa do jejum
1 – Estão dispensados do jejum:
a) os mendigos;
b) os doentes e convalescentes;
c) as pessoas realmente fracas, que
se sentiriam gravemente mal se jejuassem;
d) os que trabalham em trabalhos
pesados, como cavar a terra, lavrar pedra, etc.;
e) as senhoras que estão grávidas
ou amamentando;
f) os professores que dão 4 a 5
horas de aula por dia.
2 – Os que não tiverem certeza de
que estão dispensados peçam dispensa à autoridade competente, que pode ser:
a) o Papa para todos os fiéis;
b) o bispo para seus diocesanos;
c) o vigário para seus paroquianos.
Para viver a doutrina
1 – O espírito do mundo é de gozo
da vida. Não se fala no mundo em outra coisa. Vivemos no meio do mundo.
Facilmente nos contagiamos. Mesmo sem sentir, ficamos pensando como pagãos, de
modo anticristão. Mas o espírito de Cristo é um espírito de penitência, de
mortificação, e de renúncias. Se queremos ser discípulos de Cristo, não temos
outro caminho: é segui-Lo. “Se alguém quer ser meu discípulo, tome a sua
cruz e siga-me”.
2 – Infelizmente, alguns não
querem mais crer no valor da penitência. Nem mesmo os preceitos da Igreja
querem observar. É lamentável a facilidade com que desobedecem à lei do jejum e
da abstinência, apesar de saberem que constitui pecado mortal.
Se não tenho ainda obrigação de jejuar, tenho de me
abster de carne nos dias determinados. E hei de fazer isto, custe o que custar.
Darei um bom exemplo, além de cumprir o meu grave dever de consciência.
3 – Não acreditemos facilmente nas
escusas para a penitência. Principalmente quando se trata de jejum e
abstinência de preceito. Pessoas tão fracas para jejuar têm tanta resistência
para esportes, para as noites de baile, para os caprichos da moda, etc. Antes,
devemos temer que isto seja uma diminuição do espírito religioso, perda de fé,
indiferença às coisas espirituais, falta de resistência à gula. Não é tanto a
fraqueza do corpo, mas sim a fraqueza espiritual.
4 – Só nos acostumaremos à
penitência obrigatória, se nos acostumarmos à voluntária. O hábito da
temperança, longe de ser nocivo à saúde, é benéfico. E muito mais benéfico
ainda ao espírito. Alimentar-se sempre com moderação, tomar os alimentos de que
não gosta, servir-se de tudo o que vem à mesa, são hábitos que nenhum prejuízo
trazem, mas trazem grandes benefícios. Nunca permitamos que a nossa alma se
escravize ao corpo; antes sujeitemos a carne ao espírito.
5 – A desobediência à lei da abstinência e do jejum está precisando de um corretivo. Em parte é a ignorância religiosa: muitos pensam que só vale jejuar quando se tem vontade. Não se lembram de que são obrigados por obediência. Em parte é a fraqueza da vontade. E a submissão ao espírito do mundo. Não querem fazer penitência, mas gozar a vida. Façamos contra isso o nosso apostolado.
6 – Não esqueçamos os frutos do jejum mesmo para o corpo. Já hoje a medicina está curando certos males pelo jejum. Digam os homens de estudo, se o jejum não é um poderoso auxiliar da inteligência, cuja força se alimenta com a moderação do comer e beber e se enfraquece com os excessos da mesa.
(Excertos do livro: O Caminho da vida – Pe. Álvaro
Negromonte - Edição de 1954)
PS: Com
base na Constituição Apostólica Panitemini, de Paulo VI, publicada em 17
de fevereiro de 1966 (AAS 54 [1966] 177-185}, essas alterações foram feitas no
texto:
[1] Retirei: "c) as vigílias de Natal e da assunção."
[2] Alterei a idade, de 7 para 14 anos.
[3] Acrescentei o que está entre parênteses.
[2] Alterei a idade, de 7 para 14 anos.
[3] Acrescentei o que está entre parênteses.
FONTE: A Grande Guerra
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