quarta-feira, 5 de março de 2014

O que há de errado com as nossas crianças?





Por D. Williamson*
Traduzido por Andrea Patrícia

Caros Amigos e Benfeitores,

Desde o tiroteio de 20de abril na escola em Littleton, Colorado, americanos angustiados tem se perguntado: “O que há de errado com nossas crianças? O que há de errado com nossa cultura?”. Caros americanos, não há nenhuma esperança de encontrar a verdadeira resposta até que vocês perguntem: “O que há de errado com nossa religião?”.

O tiroteio no Colorado foi meramente o mais recente e sangrento numa série de tiroteios que tem irrompido em nossas escolas por todo os Estados Unidos nos últimos anos.  Desta vez 12 alunos foram assassinados, muitos outros feridos, e um professor morreu. Então os dois assassinos, rapazes de 17 e 18 anos de idade, aparentemente normais e de boa aparência, moradores de um subúrbio branco rico de Denver, após terem transformado sua escola num abatedouro repleto de fumaça e sangue e cadáveres, voltaram as armas para si mesmos. Qual é o problema?

Todos os liberais e políticos de esquerda usaram Littleton para clamar por mais leis de controle de armas. Ora, cada avanço da tirania pode ser bem merecido por um povo tornando-se de outro modo ingovernável, mas o controle de armas permanece a mais estúpida das soluções para Littleton – os americanos ganharam sua República através das armas, e eles têm mantido armas em casa por mais de 200 anos sem que suas crianças saíssem por aí matando umas as outras.  Obviamente o problema não é com as armas, mas com a mentalidade de quem quer que as maneje. De onde vem a mentalidade assassina?
Uma solução menos estúpida, mas ainda relativamente superficial, é culpar as mentes jovens sendo formadas para assassinar por causa da violência em toda parte encontrada nos filmes de Hollywood, televisão e jogos de computadores. Realmente, isso tudo é cheio de violência, mas nada disso – ainda – leva muitas pessoas a assassinar de fato. Se tantos suburbanos [1] estão presentemente chafurdando em tal fantasia de violência, não será porque eles alcançaram seu alto grau de segurança e conforto apenas por eliminar de sua existência Dilbertiana tanto da vida e interesse, que agora eles precisam da fantasia de violência até mesmo para sentirem-se vivos? Ainda, quanto mais eles são entretidos, mais eles não se tornam profundamente entediados? Então em vez de culpar os assassinos dos videogames, não seria mais realista culpar tanto os assassinos e videogames na natureza das grandes cidades de hoje ou no modo suburbano de vida que é tão insatisfatório para os seres humanos?  Estamos chegando mais perto, porque em vez de culpar coisas, nós estamos começando a situar o problema onde todos os verdadeiros problemas humanos pertencem, no coração humano pecador. Mas o que há de pecaminoso na cultura suburbana?

Para começar, as escolas públicas que geram boa parte desta cultura. No “Summit Journal” (P.O. Box 207, Manitou Springs, Colorado 80829, USA), há uma admirável análise na edição de junho sobre como, se alguém quer produzir assassinos de escolas, o atual currículo nas escolas públicas americanas dificilmente poderia ser melhor planejado! O autor, Dr. David Noebel, sabe do que está falando. Através dos anos ele construiu uma organização altamente efetiva para contra-atacar o ateísmo das escolas públicas, ao ensinar os princípios anti-modernos da piedade protestante a adolescentes que de outra forma estariam indefesos contra a perversão habilidosa forjada em suas mentes e corações por essas escolas que, até onde a educação vai, tornaram-se perfídia organizada. Algum instinto de que isso é assim mesmo certamente explica em parte porque os assassinos de Littleton jogaram sua raiva sobre sua escola.


Entretanto, se os assassinos de escola tivessem lares saudáveis – realmente saudáveis – a traição que eles sofreram na escola inspiraria neles tal raiva assassina? Certamente não. Com certeza a esse respeito o verdadeiro mal da cultura suburbana ou moderna é o que foi feito à família e ao lar. Por anos – vocês leitores devem saber – essa Carta vem aqui tentando tocar o sino de alarme fora dos muros. Tem recorrido a linguagem “chocante” (sonhos não secos), pessoas “chocantes” (Unabomber), músicos “chocantes” (Pink Floyd), condenações “chocantes” (a “Noviça Rebelde” é muito desafinada) e fatos “chocantes” (crianças de ambos os sexos sendo comumente violadas em casa pelos seus próprios pais “Mas, mamãe, você se veste desse jeito!”), para socar alguma realidade para dentro das mentes católicas, onde ela pertence. (Deus os abençoe, caros leitores, certamente a maioria de vocês já assinou [para receber esta carta] para continuar sendo socado, apesar do desafio vagamente mordaz para fazer isso, escrito por mim, apenas assinado pela Sra. Mehren! Ela é inocente!)

Eis aqui mais do mesmo. Nos últimos dias nós aprendemos (não no confessionário) sobre o caso de uma garota de 15 anos de idade aqui na pequena cidade de Winona sendo repetidamente violada e finalmente engravidada pelo seu pai bêbado, que para todas as aparências, sinceramente! – clama que ele não sabia o que estava fazendo! A mãe trabalha à noite talvez para evitar a bebedeira dele, então ela alega que não tinha ideia do que estava acontecendo! A garota recebeu ajuda para fugir para uma casa de adoção numa cidade próxima de tamanho médio, levou sua irmã de 13 anos de idade com ela na esperança de continuar a protegê-la (todas essas crianças têm umas as outras!), apenas para descobrir que sua irmãzinha partilha de sua condição! América ACORDE! SUAS CRIANÇAS ESTÃO GRITANDO!

Eu sinto muito, caros leitores, mas se vocês querem uma religião Minnie Mouse, vocês não devem ser católicos. O guardião da casa de adoção disse (mas por quanto tempo mais haverá adultos sadios para serem guardiões?). “Imagine se isso acontece aqui em nossa cidade de tamanho médio, o que dirá nas cidades grandes!”. Imagine também a raiva no coração da garota mais velha, que está convencida de que desapontou sua irmã caçula! Ora, em dramas domésticos como esse, ou em toda cultura que os gera, não há explicação proporcional para a raiva, por exemplo, manifestada ao mundo inteiro no website do líder dos dois assassinos de Littleton? Por gerações, mas especialmente desde os demoníacos anos 60, os pais modernos perderam a arte de educar, as casas não são mais verdadeiros lares, e há uma frieza e um vazio devastador nos corações das crianças, dificilmente crianças ainda.

O que aconteceu com a família? O átomo é firmemente unido por forças naturais, mas uma vez que é separado, essas forças criam uma explosão devastadora. Os laços da família natural são enormemente fortes, mas uma vez que eles são cortados, eles causam uma devastação incalculável. Então como os avós (e bisavós) ficam afastados dos netos quando cada um tem tanto de humano a dar que o outro precisa? Como os pais perderam tanto a arte de serem pais (isso pode ser recuperado), e começaram a tratar seus filhos como adultos ou bebês, em qualquer caso não como crianças? Como marido e esposa perderam todo o senso de diferença entre homem e mulher e de suas naturezas e necessidades complementares?

Resposta: a família foi despedaçada há mais de cem anos pelos mesmos falsos deuses que revolucionaram a sociedade ao longo de cem anos antes disso: liberdade, igualdade, direitos humanos, democracia. Se eu estou atado, eu não sou livre, então a liberdade rompe os laços familiares. A igualdade extermina a complementaridade. A democracia destrói toda hierarquia ou ordem, como crianças honrando os pais enquanto os pais cuidam das crianças, esposa obedecendo ao marido enquanto o marido ama carinhosamente a esposa. Os direitos humanos bloqueiam os deveres humanos, especialmente com relação a Deus, e sem Deus, nada humano como a família pode dar certo por muito tempo. Então toda a cultura da nossa sociedade revolucionária transforma a família em grupos de indivíduos meramente vivendo sob o mesmo teto. São esses não-lares que fazem os corações dos assassinos.

E de onde vem essa adoração antinatural ao individualismo, e como isso pode ter tanto poder? O Cristianismo ensinou para a humanidade o valor de cada homem. O individualismo que corre solto na sociedade ocidental moderna é daquele Cristianismo sem Cristo. Seu poder vem da Igreja Católica, seu correr solto vem diretamente do esmagamento desta Igreja, ou seja, o protestantismo. Se, como disse Lutero, eu não preciso de uma sociedade sobrenatural como a Igreja Católica para fazer a mediação entre eu e Deus para minhas necessidades eternas, como justificação ou salvação, por que eu deveria precisar de qualquer sociedade natural para qualquer das minhas necessidades menores? Eu, que lido diretamente com Deus, me sustento por minha própria conta!

E assim entre sociedade e indivíduo, embora projetados por Deus um para o outro, seja a comunhão dos santos no céu, ou a prática da justiça e da caridade na terra, foi introduzida uma dialética antinatural, uma oposição fatal, emergindo claramente a vista na famosa peça de Shakespeare, “Hamlet” (a qual retornaremos), e vindo à tona no sangue em Littleton. Então um protestante decente com sua decência e uso reto da Escritura (que é católica) pode fazer um bom trabalho no caminho de volta à verdadeira e única solução possível (que é católica) do conflito artificial do mundo moderno entre sociedade e indivíduo, entre uma péssima escola e um assassino enfurecido, mas de qualquer forma ele ainda partilha do falso culto do individualismo, Luteranismo ou Liberalismo, e dessa maneira ele só pode ajudar a perpetuar o conflito.

Dr. Noebel, o senhor tem feito um excelente trabalho ao armar milhares de crianças abandonadas contra os demônios de sua deseducação. Só falta o senhor jogar fora o pai da maioria desses demônios: Martinho Lutero.

No entanto quais chances o Dr. Noebel tem de discernir hoje o que a Igreja Católica verdadeiramente ensina, quando o próprio Vaticano faz uma Declaração Conjunta com os luteranos para dizer que eles chegaram a um acordo, e em seguida lança um Esclarecimento sobre a Declaração para dizer que isso não é um acordo? Que confusão! Mas isso é assunto para outra carta. Doutor, tudo o que posso dizer enquanto isso é que a Igreja Católica hoje é como Nosso Senhor carregando a Sua Cruz. Nesse Caminho da Cruz, como deve ter sido difícil reconhecê-lo como Deus, mas Ele era verdadeiramente Deus!

Paciência, queridos leitores. Nossa Fé Católica é nossa vitória sobre todos os problemas a nossa volta, e nossa plataforma de lançamento para uma eternidade de felicidades.

*Carta de junho de 1999.

Traduzido de:
Bishop Richard Williamson. Letters from the Rector of Saint Thomas Aquinas Seminary, True Restoration Press.



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