Por D. Williamson*
Traduzido por Andrea Patrícia
Caros Amigos e Benfeitores,
Desde o tiroteio de 20de abril na escola em Littleton,
Colorado, americanos angustiados tem se perguntado: “O que há de errado com
nossas crianças? O que há de errado com nossa cultura?”. Caros americanos, não
há nenhuma esperança de encontrar a verdadeira resposta até que vocês
perguntem: “O que há de errado com nossa religião?”.
O tiroteio no Colorado foi meramente o mais recente e
sangrento numa série de tiroteios que tem irrompido em nossas escolas por todo
os Estados Unidos nos últimos anos. Desta vez 12 alunos foram
assassinados, muitos outros feridos, e um professor morreu. Então os dois
assassinos, rapazes de 17 e 18 anos de idade, aparentemente normais e de boa
aparência, moradores de um subúrbio branco rico de Denver, após terem
transformado sua escola num abatedouro repleto de fumaça e sangue e cadáveres,
voltaram as armas para si mesmos. Qual é o problema?
Todos os liberais e políticos de esquerda usaram Littleton
para clamar por mais leis de controle de armas. Ora, cada avanço da tirania
pode ser bem merecido por um povo tornando-se de outro modo ingovernável, mas o
controle de armas permanece a mais estúpida das soluções para Littleton – os
americanos ganharam sua República através das armas, e eles têm mantido armas
em casa por mais de 200 anos sem que suas crianças saíssem por aí matando umas
as outras. Obviamente o problema não é com as armas, mas com a
mentalidade de quem quer que as maneje. De onde vem a mentalidade assassina?
Uma solução menos estúpida, mas ainda relativamente
superficial, é culpar as mentes jovens sendo formadas para assassinar por causa
da violência em toda parte encontrada nos filmes de Hollywood, televisão e
jogos de computadores. Realmente, isso tudo é cheio de violência, mas nada
disso – ainda – leva muitas pessoas a assassinar de fato. Se tantos suburbanos
[1] estão presentemente chafurdando em tal fantasia de violência, não será
porque eles alcançaram seu alto grau de segurança e conforto apenas por
eliminar de sua existência Dilbertiana tanto da vida e interesse, que agora
eles precisam da fantasia de violência até mesmo para sentirem-se vivos? Ainda,
quanto mais eles são entretidos, mais eles não se tornam profundamente
entediados? Então em vez de culpar os assassinos dos videogames, não seria mais
realista culpar tanto os assassinos e videogames na natureza das grandes
cidades de hoje ou no modo suburbano de vida que é tão insatisfatório para os
seres humanos? Estamos chegando mais perto, porque em vez de culpar
coisas, nós estamos começando a situar o problema onde todos os verdadeiros
problemas humanos pertencem, no coração humano pecador. Mas o que há de
pecaminoso na cultura suburbana?
Para começar, as escolas públicas que geram boa parte desta
cultura. No “Summit Journal” (P.O. Box 207, Manitou Springs, Colorado 80829,
USA), há uma admirável análise na edição de junho sobre como, se alguém quer
produzir assassinos de escolas, o atual currículo nas escolas públicas
americanas dificilmente poderia ser melhor planejado! O autor, Dr. David
Noebel, sabe do que está falando. Através dos anos ele construiu uma
organização altamente efetiva para contra-atacar o ateísmo das escolas
públicas, ao ensinar os princípios anti-modernos da piedade protestante a
adolescentes que de outra forma estariam indefesos contra a perversão
habilidosa forjada em suas mentes e corações por essas escolas que, até onde a
educação vai, tornaram-se perfídia organizada. Algum instinto de que isso é
assim mesmo certamente explica em parte porque os assassinos de Littleton
jogaram sua raiva sobre sua escola.
Entretanto, se os assassinos de escola tivessem lares
saudáveis – realmente saudáveis – a traição que eles sofreram na escola
inspiraria neles tal raiva assassina? Certamente não. Com certeza a esse
respeito o verdadeiro mal da cultura suburbana ou moderna é o que foi feito à
família e ao lar. Por anos – vocês leitores devem saber – essa Carta vem aqui
tentando tocar o sino de alarme fora dos muros. Tem recorrido a linguagem
“chocante” (sonhos não secos), pessoas “chocantes” (Unabomber), músicos
“chocantes” (Pink Floyd), condenações “chocantes” (a “Noviça
Rebelde” é muito desafinada) e fatos “chocantes” (crianças de ambos
os sexos sendo comumente violadas em casa pelos seus próprios pais “Mas, mamãe,
você se veste desse jeito!”), para socar alguma realidade para dentro das
mentes católicas, onde ela pertence. (Deus os abençoe, caros leitores,
certamente a maioria de vocês já assinou [para receber esta carta] para
continuar sendo socado, apesar do desafio vagamente mordaz para fazer isso,
escrito por mim, apenas assinado pela Sra. Mehren! Ela é inocente!)
Eis aqui mais do mesmo. Nos últimos dias nós aprendemos (não
no confessionário) sobre o caso de uma garota de 15 anos de idade aqui na
pequena cidade de Winona sendo repetidamente violada e finalmente engravidada
pelo seu pai bêbado, que para todas as aparências, sinceramente! – clama que
ele não sabia o que estava fazendo! A mãe trabalha à noite talvez para evitar a
bebedeira dele, então ela alega que não tinha ideia do que estava acontecendo!
A garota recebeu ajuda para fugir para uma casa de adoção numa cidade próxima
de tamanho médio, levou sua irmã de 13 anos de idade com ela na esperança de
continuar a protegê-la (todas essas crianças têm umas as outras!), apenas para
descobrir que sua irmãzinha partilha de sua condição! América ACORDE! SUAS
CRIANÇAS ESTÃO GRITANDO!
Eu sinto muito, caros leitores, mas se vocês querem uma
religião Minnie Mouse, vocês não devem ser católicos. O guardião da casa de
adoção disse (mas por quanto tempo mais haverá adultos sadios para serem
guardiões?). “Imagine se isso acontece aqui em nossa cidade de tamanho médio, o
que dirá nas cidades grandes!”. Imagine também a raiva no coração da garota
mais velha, que está convencida de que desapontou sua irmã caçula! Ora, em
dramas domésticos como esse, ou em toda cultura que os gera, não há explicação
proporcional para a raiva, por exemplo, manifestada ao mundo inteiro no website
do líder dos dois assassinos de Littleton? Por gerações, mas especialmente
desde os demoníacos anos 60, os pais modernos perderam a arte de educar, as
casas não são mais verdadeiros lares, e há uma frieza e um vazio devastador nos
corações das crianças, dificilmente crianças ainda.
O que aconteceu com a família? O átomo é firmemente unido
por forças naturais, mas uma vez que é separado, essas forças criam uma
explosão devastadora. Os laços da família natural são enormemente fortes, mas
uma vez que eles são cortados, eles causam uma devastação incalculável. Então
como os avós (e bisavós) ficam afastados dos netos quando cada um tem tanto de
humano a dar que o outro precisa? Como os pais perderam tanto a arte de serem
pais (isso pode ser recuperado), e começaram a tratar seus filhos como adultos
ou bebês, em qualquer caso não como crianças? Como marido e esposa perderam
todo o senso de diferença entre homem e mulher e de suas naturezas e necessidades
complementares?
Resposta: a família foi despedaçada há mais de cem anos
pelos mesmos falsos deuses que revolucionaram a sociedade ao longo de cem anos
antes disso: liberdade, igualdade, direitos humanos, democracia. Se eu estou
atado, eu não sou livre, então a liberdade rompe os laços familiares. A
igualdade extermina a complementaridade. A democracia destrói toda hierarquia
ou ordem, como crianças honrando os pais enquanto os pais cuidam das crianças,
esposa obedecendo ao marido enquanto o marido ama carinhosamente a esposa. Os
direitos humanos bloqueiam os deveres humanos, especialmente com relação a
Deus, e sem Deus, nada humano como a família pode dar certo por muito tempo.
Então toda a cultura da nossa sociedade revolucionária transforma a família em
grupos de indivíduos meramente vivendo sob o mesmo teto. São esses não-lares
que fazem os corações dos assassinos.
E de onde vem essa adoração antinatural ao individualismo, e
como isso pode ter tanto poder? O Cristianismo ensinou para a humanidade o valor
de cada homem. O individualismo que corre solto na sociedade ocidental moderna
é daquele Cristianismo sem Cristo. Seu poder vem da Igreja Católica, seu correr
solto vem diretamente do esmagamento desta Igreja, ou seja, o protestantismo.
Se, como disse Lutero, eu não preciso de uma sociedade sobrenatural como a
Igreja Católica para fazer a mediação entre eu e Deus para minhas necessidades
eternas, como justificação ou salvação, por que eu deveria precisar de qualquer
sociedade natural para qualquer das minhas necessidades menores? Eu, que lido
diretamente com Deus, me sustento por minha própria conta!
E assim entre sociedade e indivíduo, embora projetados por
Deus um para o outro, seja a comunhão dos santos no céu, ou a prática da
justiça e da caridade na terra, foi introduzida uma dialética antinatural, uma
oposição fatal, emergindo claramente a vista na famosa peça de Shakespeare,
“Hamlet” (a qual retornaremos), e vindo à tona no sangue em Littleton. Então um
protestante decente com sua decência e uso reto da Escritura (que é católica)
pode fazer um bom trabalho no caminho de volta à verdadeira e única solução
possível (que é católica) do conflito artificial do mundo moderno entre
sociedade e indivíduo, entre uma péssima escola e um assassino enfurecido, mas
de qualquer forma ele ainda partilha do falso culto do individualismo,
Luteranismo ou Liberalismo, e dessa maneira ele só pode ajudar a perpetuar o
conflito.
Dr. Noebel, o senhor tem feito um excelente trabalho ao
armar milhares de crianças abandonadas contra os demônios de sua deseducação.
Só falta o senhor jogar fora o pai da maioria desses demônios: Martinho Lutero.
No entanto quais chances o Dr. Noebel tem de discernir hoje
o que a Igreja Católica verdadeiramente ensina, quando o próprio Vaticano faz
uma Declaração Conjunta com os luteranos para dizer que eles chegaram a um
acordo, e em seguida lança um Esclarecimento sobre a Declaração para dizer que
isso não é um acordo? Que confusão! Mas isso é assunto para outra carta.
Doutor, tudo o que posso dizer enquanto isso é que a Igreja Católica hoje é
como Nosso Senhor carregando a Sua Cruz. Nesse Caminho da Cruz, como deve ter
sido difícil reconhecê-lo como Deus, mas Ele era verdadeiramente Deus!
Paciência, queridos leitores. Nossa Fé Católica é nossa vitória
sobre todos os problemas a nossa volta, e nossa plataforma de lançamento para
uma eternidade de felicidades.
*Carta de junho de 1999.
Traduzido de:
Bishop Richard Williamson. Letters from the Rector of Saint Thomas Aquinas Seminary, True
Restoration Press.
Fonte: Maria Rosa Mulher
Nenhum comentário:
Postar um comentário