sábado, 22 de junho de 2013

Exercícios Espirituais para Crianças - Pecado (Segunda parte)




Fr. Manuel Sancho, 
Exercícios Espirituais para Crianças
1955

PARTE PRIMEIRA
A conversão da vida do pecado à vida da graça
(Vida Purgativa. — 1.ª semana)



3. — Considerai, meus filhos, outra coisa mui lastimável e muito para ser recogitada com angústia de nosso coração. Jesus, Deus e homem, infinito, santíssimo, sem culpa, morre numa cruz entre horríveis tormentos. Por que morre? Acaso porque o mundo desaba? Acaso porque o obrigam a isso? Não, ninguém o obriga: Ele morre voluntariamente. Mas então por que morre? Oh! meus filhos, eu quisera neste momento apoderar-me dos vossos coraçãozinhos para lhes fazer sentir intensamente esta verdade: Jesus morre por causa do pecado, só por causa do pecado!

Meu Deus, que mal espantoso é este, quando Vós, o Imortal, o eternamente feliz, padeces e morres como um facinoroso por nossos pecados! Chegai-vos ao Calvário, mirai aquele corpo pendente na cruz, de mem­bros dilacerados, coberto de sangue, de olhar vidrado, de cabelos pegajosos numa pasta com o sangue, rasgadas as Suas fontes com espinhos...; dolorido todo Ele e oprimido de mortais angústias...; e, nos estertores da agonia, olhai como Ele diz com voz trêmula de amor para com os pecadores: “Meu Pai, perdoai-lhes, porque eles não sabem o que fazem”. Aos pés de Jesus Sua Mãe, a Virgem Maria, nossa Mãe desde então, sofre a dor mais tremenda que jamais sofreu criatura humana, porque a morte dolorosíssima de Seu Filho lhe repercute no coração. Meus filhos, o vosso coração não estremece e não palpita mais depressa em vendo morrer assim Jesus, em vendo assim penar a Virgem? Ficai sabendo que os vossos pecados causaram a morte do Filho e as dores da Mãe.

Um pintor moderno fez um quadro que representa Jesus na cruz. Não estão ao redor os soldados romanos que O guardam, nem Sua Mãe, nem as outras santas mulheres com São João em volta da cruz; rodeia Jesus moribundo uma turba de gente atual: cavalheiros de sobrecasaca, operários de blusão, mulheres do povo e até crianças. Todos O insultam e mofam d’Ele; fazem-Lhe gestos iracundos... Há até um menino que apanha no chão uma pedra para Lhe atirar!... São os pecadores de agora; os insultos são atirar-Lhe pedras; crucificá-lO, são os pecados. Em vez de Lhe darem água com que aplacar a Sua sede, insultam-nO.

É horrível este quadro, mas é a verdade: com os vossos pecados crucificais de novo Jesus. E haveis de crucificá-lo outra vez? Nunca, nunca jamais; acabou-se o pecar.

Agora recolhei-vos dentro de vós mesmos, e dizei: “Então eu, com aquele pecado fui causa da morte de Jesus e das dores de Sua Mãe e minha Mãe? Então, aquele palavrão, aquele insulto a Deus, aquela raiva, aquele não ouvir missa, aquele pecado de que me envergonho, foram causa da morte de meu Deus? Sim, meus filhos, esses pecados foram causa da morte do nosso bom Jesus. Quanto me agradariam agora umas lágrimas nos vossos olhos! Com que prazer eu vos veria agora, comovidos, chorar os vossos pecados! Porque não há nada, nem inferno, nem morte, nem outros males que assim façam ver a malícia do pecado como a morte de Jesus Cristo. Pensai um pouco nesta passagem do Calvário, e pedi ao bom Jesus, por intercessão de sua Mãe Dolorosa, que faça nascer em vós a compunção do coração e o aborrecimento dos vossos pecados.

4. — Agora considerai a malícia dos pecados pessoais. Muito maus devem eles ser, já que, para castigá-los, Deus prepara o inferno; já que, para satisfazer por eles, Deus morre na cruz. Considerai a razão por que haveis pecado. Se pecásseis por um bem extraordinário, por exemplo pela posse de um reino, ou de toda a ciência dos homens, ainda nesse caso não deveríeis pecar; contudo, poderíeis invocar uma má desculpa. Mas, quando pecais, por que é que pecais? Por uma tolice, por uma ninharia, por uma miséria. E por isso perdeis a Deus? Que loucura!

Vede aquele menino que, sério, vai pela rua rumo à igreja. Vai cumprir a sua obri­gação de ouvir a missa, porque é domingo. Ao chegar a uma pracinha, topa com um grupo de amiguinhos que estão jogando, e ele põe os olhos no jogo. Entrementes, o sino que toca para a missa parece dizer-lhe: “Vem vem, vem vem”. E, na verdade o diz, pois é isso o que significa o toque do sino quando chama os fiéis à igreja. O pequeno vacila. A consciência lhe diz: “Não te entretenhas. Olha que é o último toque”. Ele se resolve a ir à igreja; mas um garoto, um tentador que naquela ocasião faz de demônio, lhe diz: “Vem, homem, que está faltando um para completar o jogo”. E, apesar dos gritos da consciência, o menino entrega-se ao jogo, perde a missa e comete um pecado mortal. Se naquela ocasião ele morresse sem se arrepender, condenar-se-ia para sempre. Que insigne loucura! Por um simples jogo ofender a Deus e fazer-se réu de um castigo eterno!

Talvez algum de vós haja cometido um pecado desse gênero, ou tenha pecado gravemente contra outro mandamento. Oh, meus filhos! Se cometestes falta grave e ainda não a confessastes, preparai-vos para fazê-lo, pois é este o primeiro e principal fim dos Exercícios: livrar-vos do pecado se acaso o haveis cometido, e precaver-vos dele para o futuro.



Nenhum comentário:

Postar um comentário