In
omnibus operibus tuis memorare novissima tua, et in aeternum non peccabis – “Em todas as tuas obras
lembra-te de teus novíssimos e nunca, jamais pecarás” (Ecclus. 7, 40).
Sumário. Meu irmão, se queres viver bem,
procura pensar sempre na morte. Ao veres um túmulo, ao assistires às exéquias
de um parente ou amigo, ao veres um cadáver sendo levado à sepultura, contempla
nisso a tua própria imagem e dize: Dentro de breves anos, talvez meses ou dias,
será tal a sorte de meu corpo e, estando então perdida a alma, estará perdida
para sempre. Por terem pensado na morte, quantos deixaram a morte e subiram à
mais alta perfeição.
I. Meu
irmão, se queres viver bem, procura, durante o tempo de vida que te resta,
viver pensando sempre na morte. Ao veres um túmulo, ao assistires às exéquias
de um amigo ou parente, ao veres um cadáver sendo levado à sepultura, contempla
nisso a tua própria imagem e o que um dia há de ser de ti. Reflete então e dize
contigo: dentro em poucos anos, talvez meses ou dias tudo acabará para mim; meu
corpo será apenas podridão e vermes. Estando então perdida a alma, tudo estará
perdido para mim e perdido para sempre.
Assim é
que fizeram os Santos, que agora reinam no céu; é por este meio que chegaram a
desprezar todos os bens desta terra, que venceram as tentações mais fortes e
subiram a alta santidade. Jó dizia à podridão: Tu és meu pai; e aos
vermes: Vós sois minha mãe e minha irmã (1). São Carlos Borromeu
conservava sempre sobre a sua mesa uma caveira, para te-la continuamente diante
dos olhos. O cardeal Barônio fez gravar no seu anel estas palavras: Memento
mori – “Lembra-te da morte”. O bem-aventurado Juvenal, bispo de
Saluzzo, escrevera sobre uma caveira estas palavras: O que tu és, fui eu; o
que eu sou, tu serás um dia. Outro santo solitário, perguntando na hora da
morte porque estava tão alegre, respondeu: Sempre tive a lembrança da morte
diante dos olhos; por isso, agora que ela vem, não vejo coisa nova.
Finalmente,
para não falar de outros, São Camilo de Lelis, ao ver os túmulos, dizia
consigo: Se estes defuntos voltassem ao mundo, quanto não fariam pela vida
eterna! E eu, que ainda tenho tempo, que faço pela minha alma? – O Santo falava
assim por humildade. Mas tu, meu irmão, tens talvez razão para temer que sejas
aquela figueira sem fruto da qual disse o Senhor: Já há três anos que venho
procurar fruto nesta figueira e não o acho (2). Tu que estás no mundo há
mais de três anos, que fruto tens produzido? Considera, diz São Bernardo, que o
Senhor não procura somente flores, mas quer também frutos; isto é, não somente
bons desejos e propósitos, senão também obras santas.
II.
Saibamos aproveitar o tempo que Deus nos dá na sua misericórdia e não esperemos
para fazer o bem até que não haja mais tempo e se nos diga: Tempus non erit
amplius... proficiscere: É tempo de partir deste mundo; vamos depressa; o
que está feito, está feito.
Considera-te, diz São Lourenço Justiniano, considera-te
desde já como morto, já que é certo que deves morrer. Se já estivesses
morto, quanto não quererias ter feito! Diz São Boaventura que o piloto para bem
governar o navio, se coloca na popa: assim o homem, para levar uma vida boa,
deve considerar-se sempre como se estivesse para morrer. Foi isto que fez São
Bernardo dizer: Vide prima et erubesce, considera os pecados da tua
mocidade e cora; - vide media et ingemisce, considera os pecados da
idade viril e geme; - vide novissima et contremisce, considera as
desordens da idade atual e treme e apressa-te em os remediar.
Eis-me
aqui, meu Deus, sou aquela árvore que há tantos anos mereceu ouvir a sentença: Corta-a,
para que ocupa ainda a terra? Sim, porque nos muitos anos que estou no
mundo, ainda não dei outros frutos senão cardos e espinhos de pecados. Mas Vós,
Senhor, não quereis que eu desespere. Vós dissestes que o que Vos procurar, Vos
achará: Quaerite et invenietis. Procuro-Vos, meu Deus, e desejo vossa
graça. Detesto de todo o coração todas as ofensas que Vos fiz e quisera morrer
de dor. Quero empregar o resto da minha vida em Vos amar e honrar. Sim,
amo-Vos, ó meu soberano Bem, e, com o vosso auxílio, quero viver e morrer
fazendo atos de amor a Vós, que por meu amor morrestes sobre a cruz. † Doce Coração de Maria, sêde
minha salvação. (*II
9.)
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1. Iob 17, 14.
2. Luc. 13, 7.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do
Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de
Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia,
1921, p. 217-219.)
Fonte: São Pio V
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