CONSELHOS SOBRE A VOCAÇÃO
CAPÍTULO II
ESTUDO DA VOCAÇÃO
Padre J. Guibert
(Superior do Seminário do
Instituto Católico de Paris)
edição de 1937
Necessidade de estudar a
vocação.
28. — Suponho, jovem amigo, que
de vez em quando experimentastes o desejo da vida sacerdotal ou religiosa. Um
instinto secreto vos diz, no fundo do coração, que um dia subireis os degraus
do altar ou sereis, como vossos mestres, um educador da mocidade. Donde vem
este atrativo interior? Qual é a voz que se faz ouvir no fundo de vossa alma?
Se for Deus que vos fala, é preciso obedecer-Lhe; se não for Deus que vos fala,
é preciso não tomar compromisso algum. Como reconhecer a origem de vosso
atrativo? Sabê-lo-ei pelo estudo sério de vossa vocação.
Será necessário demonstrar-vos
que tal estudo é uma obrigação para vós? Não estais vendo toda a gravidade da
determinação que ides tomar quando escolherdes um estado? Se vos enganardes de
caminho, sereis certamente muito infelizes neste mundo e correreis grande
perigo de vos perder por toda a eternidade. Acreditai bem que o negócio é muito
sério: não se brinca com a vida nem com a eternidade; ninguém se deve arrojar
às cegas numa carreira qualquer, sem fazer caso dos gostos pessoais nem da
vontade de Deus.
Há dois defeitos igualmente perigosos
que se devem evitar: desprezar o apelo de Deus e acreditar com demasiada
facilidade em um apelo de Deus.
29. — Certos meninos, uns por
falta de reflexão, outros por acanhamento, desprezam o chamamento de Deus.
Ouvem muito bem, no fundo do coração, uma voz que lhes diz: «Não gostarias de
me pertencer? Se me desses tua vida, se me sacrificasses as alegrias da terra,
obterias a graça de ser meu representante entre os homens, ganharias uma das
mais belas coroas no meu reino eterno.» Indiferentes a estas palavras, não
prestam senão uma atenção distraída. Como receiam de largar os prazeres do
mundo, arrojam-se para o jogo e uma vida de distrações, a fim de que a voz da
consciência seja abafada pelos ruídos exteriores. Para qualquer pessoa,
prestariam mais respeitosa atenção; estão com medo dos sacrifícios que o Pai
celestial vai pedir-lhes. Que injúria não fazem a Deus por meio de tal
procedimento!
30. — Outros, os tímidos, ouvem
perfeitamente a voz interior que os chama. Mas estão com medo de falar, não
sabem como exprimir o estado de sua alma, haviam de corar se fossem obrigados a
descobrir todo o fundo de seu pensamento. Às vezes estariam com vergonha de
revelar aos pais e deixar perceber aos companheiros as aspirações elevadas que
nutrem na alma. Outras vezes permanecem mudos pelo simples efeito das
circunstâncias. É debalde que os pais lhes perguntam: «Meu filho, que queres
fazer?» Têm apenas uma única resposta: «Farei o que o Sr. quiser.» Meninos
infelizes, destinados a muito sofrer, mais tarde, quando, mais corajosos por
causa da idade, eles dirão: «Não estou onde eu deveria estar; meu lugar era na
religião; um estúpido receio de criança me fechou a boca outrora e me impediu
de falar.» Para que tenhais certeza de não contrariar a vontade de Deus, jovem
amigo, estudai e falai.
Outro perigo consistiria em
acredita-se chamado por Deus com demasiada facilidade. Nem todas as aspirações
para a vida religiosa constituem uma vocação. Dois casos, com efeito, podem
apresentar-se em que haja o atrativo interior sem que ele seja uma prova do
chamamento divino.
31. — Quase todos os meninos,
nos momentos de grande fervor sensível, experimentam uma verdadeira inclinação
para a vida religiosa. A vida religiosa lhes aparece como um ideal tão puro,
tão nobre, tão sobrehumano, que estão com vontade de elevar-se até ele e
abraçá-lo para sempre. Nestes momentos há como que vigorosos esforços que
transportam a alma, por algum tempo, até os picos mais altaneiros. Tais
desejos, de ordinário, passageiros e sem grande influência sobre o
procedimento, não são, porém, um indício seguro de vocação. Já os
experimentastes, de certo, jovem amigo, pois que tendes a alma boa e sincera;
vêm eles do céu ou apenas originaram-se em um coração bem disposto? Tal é a
questão que deveis resolver.
32. — Alguns meninos consideram a vida religiosa como uma boa carreira, como um ofício vantajoso, onde se passa uma vida suave e tranqüila, ao abrigo dos penosos trabalhos que se abatem tão pesadamente sobre os operários e muitos outros homens. Desde a infância, ouviram contar ao redor de si: «Olhem como os Religiosos e os Padres são felizes; têm a existência segura; trabalham pouco, vivem bem, habitam em verdadeiros castelos... Tome esta vocação, menino, estará certo de que nada lhe faltará.» Semelhantes discursos convencem, às vezes, certas almas de meninos; deles resulta um vivo desejo de vida sacerdotal ou religiosa. Mas poderá uma aspiração que se origina no interesse, tornar-se uma verdadeira vocação? Sem dúvida, sentimentos humanos, terrestres, podem misturar-se a uma boa vocação, como a lama e a areia de um riacho se misturam às palhetas de ouro puro; mas dá-se o caso em que estes baixos sentimentos são os únicos e não vêm acompanhados de verdadeira vocação. Não será necessário discernir em vossa alma a natureza dos atrativos que a solicitam? Se eles vierem de Deus, haveis de segui-los; se vierem da terra, procurareis outro rumo.
32. — Alguns meninos consideram a vida religiosa como uma boa carreira, como um ofício vantajoso, onde se passa uma vida suave e tranqüila, ao abrigo dos penosos trabalhos que se abatem tão pesadamente sobre os operários e muitos outros homens. Desde a infância, ouviram contar ao redor de si: «Olhem como os Religiosos e os Padres são felizes; têm a existência segura; trabalham pouco, vivem bem, habitam em verdadeiros castelos... Tome esta vocação, menino, estará certo de que nada lhe faltará.» Semelhantes discursos convencem, às vezes, certas almas de meninos; deles resulta um vivo desejo de vida sacerdotal ou religiosa. Mas poderá uma aspiração que se origina no interesse, tornar-se uma verdadeira vocação? Sem dúvida, sentimentos humanos, terrestres, podem misturar-se a uma boa vocação, como a lama e a areia de um riacho se misturam às palhetas de ouro puro; mas dá-se o caso em que estes baixos sentimentos são os únicos e não vêm acompanhados de verdadeira vocação. Não será necessário discernir em vossa alma a natureza dos atrativos que a solicitam? Se eles vierem de Deus, haveis de segui-los; se vierem da terra, procurareis outro rumo.
Fonte: A Grande Guerra
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