A NÓS VOLVEI ESSES VOSSOS OLHOS
MISERICORDIOSOS
Tem
Maria olhos compassivos sobre nós para aliviar nossas misérias.
3-
Para todos é Maria um trono de misericórdia.
Predissera
o profeta Isaías que pela grande obra da redenção nos devia ser preparado um
sólio de misericórdia. “E será estabelecido um sólio em misericórdia” (16,5). Mas
qual é esse sólio? É Maria, na qual acham confortos de misericórdia, não só os
justos, mas também os pecadores, responde Conrado de Saxônia. Assim, como o
Salvador é cheio de piedade, também o é Nossa Senhora; à semelhança do Filho, a
Mãe nada pode recusar a quem a chama em seu socorro. Guerrico, Abade, faz Jesus
dizer a Maria: Minha Mãe, em vós quero colocar a sede do meu reino e por
intermédio vosso hei de espalhar as graças que me forem solicitadas. Vós me
destes o ser humano, e eu vos darei ter parte em minha onipotência, com a qual
possais ajudar e salvar a quem quiserdes.
Com grande
afeto dirigia S. Gertrudes certa vez as sobreditas palavras à Virgem
Santíssima: A nós volvei esses vossos olhos misericordiosos. Apareceu-lhe então
a Senhora com o Menino Jesus nos braços e, mostrando-lhe os olhos de seu divino
Filho, disse: São estes os olhos misericordiosos que posso inclinar, a fim de
salvar todos aqueles que me invocam.
Chorando
uma vez um pecador diante de uma imagem de Maria, e pedindo-lhe que lhe
alcançasse de Deus o perdão de seus pecados, viu a bem aventurada Virgem
voltar-se para o Menino que tinha nos braços e lhe dizer: Filho, perder-se-ão
estas lágrimas? Reconheceu o infeliz que Jesus Cristo lhe concedera o perdão.
E como
poderia parecer quem se encomenda a esta boa Mãe? Não lhe prometeu seu Divino
Filho usar de misericórdia por seu amor
segundo seu desejo, para com todos
os que a ela recorrem? Tal foi a promessa que S. Brígida ouviu o Senhor fazer à
sua Mãe. Considerando tanto o grande poder de Maria junto de Deus, como sua
grande piedade para conosco, escreveu o Abade Adão de Perseigne: Ó Mãe de
Misericórdia, quando é o vosso poder, tanta é a vossa piedade, quanto sois
poderosa para impetrar, tanto sois também piedosa para perdoar. E como, pois,
se poderá dar o caso de não terdes compaixão dos miseráveis, sendo vós Mãe de
Misericórdia? Ou quando não podereis vós ajudá-los, sendo Mãe de onipotência? Tão
fácil vos é conhecer nossas misérias, como realizar os vossos desejos. Fartai-vos,
pois, (diz o Abade Roberto), fartai-vos, ó grande Rainha, da glória de vosso
Filho, e por compaixão distribuí-nos as migalhas a nós, pobres filhos e servos
vossos. Não as merecemos, é verdade; mas, fazei-o por compaixão para conosco.
Se,
por causa de nossos pecados, nos invadr a desconfiança, digamos com Guilherme
de Paris: Ó Senhora minha, não me lanceis em rosto meus pecados, porque lhe
oporei vossa grande misericórdia. Jamais se diga que minhas culpas puderam
contrabalançar no juízo a vossa misericórdia. Pois esta é muito mais eficaz
para obter-me o perdão, que todos os meus pecados para valerem-me a condenação.
Ligório, S. Afonso de.
Glórias de Maria. 11ª edição italiana. Editora Santuário.
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