A VÓS BRADAMOS, OS DEGREDADOS FILHOS DE
EVA
I – Da prontidão de Maria em socorrer os
que a invocam.
1 – Maria ajuda em muitos apuros da vida
Como pobres filhos da infortunada Eva,
somos réus da mesma culpa e condenados à mesma pena. Andamos errando por este
vale de lágrimas, exilados de nossa pátria, chorando por tantas dores que nos
afligem no corpo e no espírito. Feliz, porém, aquele que por entre tais
misérias se dirige muitas vezes à consoladora do mundo, ao refúgio dos
pecadores, à grande Mãe de Deus. Feliz quem a invoca e implora com devoção!
Bem-aventurado o homem que me ouve e que vela todos os dias à entrada de minha
casa (Pr 8, 34). Bem-aventurado, diz Maria, quem ouve meus conselhos e
permanece constantemente à porta de minha misericórdia, invocando minha
intercessão e meu auxílio.
A Santa Igreja bem a nós, seus filhos,
ensina com quanto zelo e quanta confiança devemos recorrer sem cessar a esta
nossa amorosa protetora. Pois é ordem sua que se lhe tribute um culto
particular. Durante o ano celebra muitas festas em sua honra e prescreve que um
dia da semana lhe seja dedicado. Exige também que, diariamente no Ofício
Divino, todos os eclesiásticos e religiosos a invoquem em nome do povo cristão,
e que três vezes ao dia, os fieis a saúdem ao toque das Ave-Marias.
Bastaria, para isso, somente ver e ouvir
que em todas as calamidades públicas a Santa Igreja sempre quer que se recorra
à divina Mãe com novenas, com orações, com procissões e visitas às suas igrejas
e imagens. Isto mesmo quer Maria que nós façamos. Que sempre a invoquemos, que
sempre lhe peçamos, não por necessitar dos nossos obséquios, nem das nossas honras tão inadequadas aos seus
merecimentos, mas sim para que, à medida da nossa devoção e da nossa confiança,
possa melhor recorrer-nos e consolar-nos. Procura, na frase de São Boaventura,
os que dela se aproxima devota e referentemente; ama-os, nutre-os, aceita-os
por filhos.
[...]
3 – Maria ajuda eficazmente
E se alguém duvidar de ser recorrido de
Maria, ao invocá-la, ouça a repreensão de Inocêncio III: Quem é aquele que
pediu socorro a esta doce Soberana e ela o não atendeu? Aqui exclama o Beato
Eutiquiano: Ó Virgem Santa, que podeis ajudar todo miserável e salvar os
maiores pecadores, quem jamais solicitou vosso poderoso patrocínio e por vós
foi desamparado? Tal caso nunca se deu e nunca se há de dar. Concordo, diz S.
Bernardo, que nunca mais exalte vossa misericórdia, ó Virgem Maria, aquele que,
tendo invocado vosso auxílio em suas necessidades, se recorde de ter sido
abandonado por vós.
Mais depressa desapareceção o céu e a
terra, diz o devoto Blósio, do que deixe Maria de valer a quem com boa intenção
a implora e nela confia. – Para aumentar a nossa confiança, sirvam as palavras
de Eádmero: Quando nos dirigimos a esta divina Mãe, não só devemos ficar certos
de seu patrocínio, mas as vezes seremos mais depressa atendidos e salvos
chamando pelo nome de Maria, do que invocando o Santíssimo Nome de Jesus, nosso
Salvador. E eis a razão que dá o escritor: Cristo, como Juiz, tem o ofício de
punir; a Virgem como padroeira tão somente tem o de compadecer-se. Quer com
isso dizer que achamos a salvação mais depressa junto à Mãe que junto ao Filho.
Não porque Maria tenha mais poder do que Jesus Cristo, nosso único Salvador, o
qual com seus méritos nos obteve e ainda nos obtém a salvação. O motivo, ao
contrário, é que, em Jesus, vemos também o nosso Juiz cujo ofício é castigar os
ingratos. Ao recorrermos a Ele, facilmente então pode nos faltar a confiança. Mas
indo a Maria, cujo ofício outro não é o que de compadecer-se de nós como Mãe de
misericórdia, e de proteger-nos como nossa advogada, parece que a nossa
confiança se torna maior e mais segura. Muitas coisas se pedem a Deus, e não se
alcançam. Pedem-se a Maria, e conseguem-se. Como pode ser isto? Responde Nicéfaro
que isto acontece, não porque Maria seja a mais poderosa que Deus, mas porque
Deus terminou honrar assim a Sua Mãe.
Muito consoladora é a promessa que Nosso
Senhor fez a S. Brígida. Um dia esta Santa ouviu Jesus Cristo falar com sua Mãe
e dizer-lhe: Minha Mãe, pedi-me p qe quiserdes; nunca nos hei de negar coisa
algumas; e ficai sabendo – ajuntou – que prometo despachar favoravelmente a
quantos solicitarem de mim graças por vosso amor. Não importa que sejam pecadores,
contando que tenham firme propósito de emenda. – A mesma coisa foi revelada a
S. Gertrudes, quando ouviu nosso redentor dizer a Maria que Ele, pela sua
onipotência, lhe tinha concedido poder usar de misericórdia com os pecadores
que a invocam, do modo que ela quisesse.
Digam, pois, todos com grande confiança,
invocando esta Mãe de misericórdia, como lhe dizia o Pseudo-Agostinho:
Lembrai-vos, ó piedosíssima Senhora, que não se tem ouvido, desde que o mundo é
mundo, que alguém fosse de vós desamparado. E por isso perdoai-me se vos digo
que não quero ser o primeiro infeliz, que, recorrendo a vós, não consiga o
vosso amparo.
Ligório, S.
Afonso de. Glórias de Maria. Versão italiana 11ª. Editora Santuário.
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