CAPÍTULO VI
EIA, POIS, ADVOGADA NOSSA.
I – Maria é advogada poderosa para todos
salvar
1-
Maria é toda poderosa junto de Deus.
Tão grande
é o prestígio de uma mãe, que nunca pode tornar-se súdita de seu filho, ainda
que seja monarca e tenha domínio sobre todas as pessoas do seu reino. É
verdade, sentado agora à direita de Deus Pai, no céu, reina Jesus e tem supremo
domínio sobre todas as criaturas e também sobre Maria. E o tem mesmo como
homem, diz Santo Tomás, por causa da união hipostática com a pessoa do Verbo. Todavia,
é também certo que nosso Redentor, quando vivia na terra, quis humilhar-se a
ponto de ser submisso a Maria. “E lhes estava sujeito” (Lc 2, 51). Sim, desde
que Jesus Cristo se dignou escolher Maria por Mãe, estava como Filho realmente
obrigado a obedecer-lhe, diz S. Ambrósio. Os outros santos – reflete Ricardo de
S. Lourenço – estavam unidos à vontade de Deus; mas teve Maria por ventura. Pois
não só foi submissa à vontade de Deus, mas também o Senhor se submeteu à sua
vontade. Das outras virgens diz-se que “seguem o Cordeiro por parte”. Porém, de
Maria dizer se pode que o Cordeirinho de Deus a seguia, porque lhe foi
submisso.
Daí, concluímos
que são as súplicas de Maria eficacíssimas para obterem tudo quando ela pede,
ainda que não possa dar ordens a seu Filho no céu. Pois os seus rogos sempre
são rogos de Mãe. Tem Maria o grande privilégio de ser poderosíssima junto ao
Filho, diz Conrado de Saxônia. E por quê? Justamente pela razão já apresentada,
e que mais abaixo vamos examinar minuciosamente:
porque as súplicas de Maria são súplicas de Mãe. De onde as palavras de S.
Pedro Damião: A Virgem consegue quanto quer, no céu como na terra; até aos
desesperados pode dar esperança de salvação. O Santo chama o Redentor de altar
de misericórdia, onde os pecadores obtém de Deus a graça do perdão. A ele,
Jesus, dirige-se Maria quando quer obter-nos alguma graça. O filho tanto
aprecia, porém, os rogos de sua Mãe e tanto deseja ser-lhe agradável, que sua
intercessão mais afigura uma ordem do que uma prece, e ela parece antes uma
Rainha do que uma serva, remata o santo. Assim quer Jesus honrar sua querida
Mãe, que tanto o honrou em vida, prontamente concedendo-lhe tudo que pede ou
deseja. Belamente o exprime S. Germano nas suas palavras dirigidas à Virgem:
Sois onipotente, ó Mãe de Deus, para salvar os pecadores; não precisais de
recomendação alguma diante de Deus, pois que sois a Mãe da verdadeira vida.
Não receia
S. Bernardino de Sena concordar com a sentença de que “ao império de Maria
todos estão sujeitos, até o próprio Deus”. Isto é, Deus lhe atende os rogos
como se foram ordens. Exclama por isso Eádmero: Virgem, de tal modo vos elevou
o Senhor, que podeis obter para vossos servos todas as graças possíveis; pois é
onipotente vosso patrocínio, como assevera Cosmas de Jerusalém. Maria, sim,
sois onipotente – acentua Ricardo de S. Lourenço; pois, que, conforme as leis,
deve a rainha gozar dos mesmos privilégios do rei. Por isso, colocou Deus toda
a Igreja não só sob o patrocínio, senão, também sob o império de Maria,
observou S. Antonio.
Convindo,
portanto à mãe o mesmo império que ao filho, com razão Jesus, que é onipotente,
tornou Maria toda poderosa. Contudo, sempre será verdade que o Filho é
onipotente por natureza e a Mãe o é por graça. E isto se verifica, porque,
quanto pede a Mãe, tudo lhe concede o Filho, como justamente foi revelado a S.
Brígida. Ouviu ela Jesus dizer a Maria: Minha Mãe, já sabes quanto te quero;
pede-me por isso o que queres, porque, seja qual for a tua petição, não pode
deixar de ser de mim ouvida. E que bela razão alegou o Senhor! Minha Mãe,
disse-lhe, nada me negavas na terra; é justo que nada eu te negue no céu. Diz-se
que Maria é onipotente; mas é do modo que se pode entender de uma criatura, que
não é capaz de atributo divino. Porque com seus rogos obtém tudo quanto quer, é
ela, pois, onipotente.
Com sobras
de razão, portanto, ó excelsa advogada nossa, vos diz S. Bernardo: Tudo se faz,
se vós quereis. Basta a vossa vontade para que tudo se faça. Quereis elevar a
uma alta santidade o mais abjeto dos
pecadores? Em vossa vontade está o fazê-lo. De Eádmero são estas palavras:
Senhora, basta-vos querer a nossa salvação e nós não podemos perecer. S. Alberto
Magno põe na boca de Maria palavras semelhantes: Devo ser rogada, para que
queira; porque o que eu quero é necessário que se faça.
Ligório, S. Afonso de. Glórias de Maria. 11ª edição italiana. Editora Santuário.
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