CAPÍTULO II
VIDA E DOÇURA NOSSA
I – Maria é nossa vida porque nos obtém o
perdão.
1
– A oração de Maria obtém-nos a graça da justificação.
Para a
exata compreensão da razão por que a Santa Igreja nos ordena que chamemos a
Maria nossa vida, é necessário saber, assim como a alma dá a vida ao corpo, assim
também a graça divina dá vida à alma. Uma alma sem a graça divina só tem o nome
de viva, mas na realidade está morta, como foi dito àquele bispo do Apocalipse:
Tens reputação de que vive, mas está morto (AP 3,1). Obtendo Maria, por meio de
sua intercessão a graça aos pecadores, deste modo lhes dá a vida. Ouçamos PA palavra
que a Igreja lhe põe na boca, aplicando-lhe a seguinte passagem dos Provérbios:
Os que vigiam deste manhã por me buscarem, achar-me-ão (8,7). Os que recorrem a
mim deste manhã, isto é, sem demora certamente me acharão. Ou, segundo a
tradução grega: acharão a graça. De modo que recorrer a Maria é recobrar a
graça de Deus. Lemos por isso pouco depois: Quem me encontra, encontra a vida e
receberá do Senhor a salvação (PR 8, 35). Ouvi-o vós que procurais o reino de
Deus, exclamou São Boaventura, honrai a Santíssima Virgem Maria e achareis a
vida juntamente com a eterna salvação.
Na afirmativa
de S. Bernardino de Sena, Deus não destruiu o homem logo após o pecado, devido
ao singular amor para com esta sua futura filha. Não lhe resta a menor dúvida
de que todas as misericórdias e mercês, em favor dos pecadores na Antiga Lei,
só lhes tinham sido feitas por Deus em consideração desta abençoada Virgem.
Exorta-nos,
por isso, com razão, S. Bernardo: Procuremos a graça, mas procuremo-la por meio
de Maria. Se formos tão infelizes, que perdemos a divina graça, procuremos
recuperá-la por meio de Maria; porque se a perdemos ela a achou. E por este
motivo o santo lhe chama descobridora da graça. Para nossa consolação
declarou-o S. Gabriel Arcanjo, quando disse à Virgem: Não temas, Maria, pois
achaste graça diante de Deus (Lc 1,30).
Mas,
se Maria nunca se vira privada da graça, como podia dizer o anjo que a tinha
achado? Só se pode achar uma coisa que se perdeu. A Virgem, entretanto, sempre
esteve com Deus e não só em graça, mas cheia de graça, como o mesmo arcanjo manifestou,
quando ao saudá-la, lhe disse: Ave, Maria, cheia de graça; o Senhor é
contigo...
Ligório, Santo Afonso de.
Glórias de Maria. Versão 11ª, edição italiana. Editora Santuário.
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