CAPÍTULO X
Ó DOCE VIRGEM MARIA
É
suave na vida e na morte o nome de Maria
1-
O nome de Maria vem do céu
O
sublime nome de Maria não foi encontrado na terra, nem inventado pelo
entendimento ou arbítrio dos homens, como se dá com os outros nomes. Veio de
Deus e foi-lhe imposto por ordem divina, como o atestam S. Jerônimo, S.
Epifânio, S. Antonino e outros. Diz Ricardo de S. Lourenço: A Santíssima
Trindade vos conferiu este nome, ó Maria, que é superior a todo o nome, depois
do nome do vosso Filho; ela enriqueceu-o de tanto poder e majestade, que ao
proferi-lo quer que se dobrem os joelhos dos que estão no céu, na terra e no
inferno. Vários privilégios outorgou o Senhor ao nome de Maria. Consideremos
apenas um entre todos os demais: quanto Deus o fez suave na vida e na morte aos
servos dessa Santíssima Senhora.
2-
O nome de Maria é suave na vida
Honório,
santo anacoreta, dizia que o nome de Maria é cheio de divina doçura, e o
glorioso S. Antônio de Pádua nele achava tanta doçura como S. Bernardino no de
Jesus. O nome da Virgem Mãe, repetia ele, é alegria para o coração, mel para a
boca, melodia para o ouvido de seus devotos. Muito grande era a doçura que
achava nesse nome o venerável Juvenal, Bispo de Saluzzo, lê-se em sua vida que
se lhe notava nos traços do rosto a sensível doçura, que lhe ficara nos lábios,
sempre que pronunciava o nome de Maria. Coisa idêntica sabe-se de uma senhora
de Colônia, a qual contou ao Bispo Marsílio sentir sempre um sabor mais doce
que o mel toda vez que pronunciava o nome da Virgem Santíssima. E, repetindo-o
devotamente, o bispo experimentou a mesma doçura. No momento da Assunção da Senhora
três vezes perguntaram-lhe os anjos pelo nome: Quem é esta que sobe pelo
deserto, como uma varinha de fumo composta de mirra e de incenso? (Ct 3,6).
Quem é esta que vai caminhando como a aurora quando se levanta? (6,9). Quem é
esta que sobe do deserto inundando delícias? (8,5). E para que lhe indagam com
tanta insistência o nome? Pergunta Ricardo de s. Lourenço. É para terem o
prazer de ouvi-lo mais vezes, tão suavemente lhes soava aos ouvidos.
Mas eu
não falo aqui dessa doçura sensível, porque esta não se concede comumente a
todos. Falo dessa salutar doçura de conforto, de amor, de alegria, de confiança
e de fortaleza, que este nome de Maria ordinariamente dá àqueles que o
pronunciam com devoção. Na opinião de Franco, abade, é esse nome tão rico de bênçãos
que, depois do nome de Jesus, nem no céu nem na terra outro se profere e do
qual as almas devotas recebam tanta graça, tanta esperança, nem tanta doçura.
Porque, continua ele, o nome de Maria contém em si uma virtude tão admirável,
tão doce e tão divina, que deixe nos corações amigos de Deus um odor de santa
suavidade. Sempre nele encontram novos encantos os servos de Maria, e essa é a
coisa mais maravilhosa deste nome. Embora o pronunciem e ouçam pronunciar mil
vezes, sempre saboreiam a mesma doçura. Assim concluiu Franco.
Dessa
doçura fala também o Beato Henrique Suso. Em o pronunciando, sentia-se animado
de grande confiança e todo o possuído de jubiloso amor. Mal o podia proferir
por entre lágrimas de alegria. Desejava então que o coração lhe viesse parar
nos lábios por causa da suavidade desse nome, que semelhante a um favo de mel
se liquefazia no fundo de sua alma.
Abrasado
em amor, assim falava ternamente S. Bernardo à sua bondosa Mãe: Ó excelsa, ó
bondosa e veneranda Virgem Maria! Como é vosso nome tão cheio de doçura e de
amabilidade! Ninguém o pode proferir, sem que se veja abrasado de amor para com
Deus e para convosco. Perpasse ele pela mente dos que vos amam , e eis o quanto
basta para consolá-los e incitá-los a vos amarem cada vez mais. As riquezas
consolam os pobres porque os aliviam de suas misérias, diz Ricardo de S.
Lourenço; porém, sem comparação, mais nos consola vosso nome, ó Maria, e muito
mais alivia das angústias desta vida, do que todas as riquezas da terra.
Enfim,
o vosso nome, ó Mãe de Deus, está cheio de graças e de bênçãos divinas, como
diz S. Metódio. E segundo S. Boaventura, ninguém o pode proferir devotamente
sem dele tirar algum fruto. Por mais endurecido e frouxo que esteja um coração,
declara Raimundo Jordão, Abade de Celes, se chega a invocar-vos, ó bengníssima
Virgem, milagrosamente desaparece a sua dureza. Tão grande é a graça do vosso
nome! Sois vós que infunde a esperança do perdão e da graça. Vosso nome do
dizer de S. Ambrósio, é um bálsamo oloroso a exalar o perfume da divina graça.
Desça ao íntimo de minha ama – pede o santo – esse perfumoso bálsamo! E quer
dizer: Ó Senhora, fazei com que nos recordemos frequentemente de vos invocar
com amor e confiança; pois invocar-vos assim, ou é sinal de possuir a graça de Deus,
ou de recuperá-la brevemente.
Sim, a
lembrança de vosso nome, ó Maria, consola os aflitos, reconduz os transviados
para as sendas da salvação e livra os pecadores do desespero, reflete Ludolfo
de Saxônia. Na observação de Pelbarto, como Jesus Cristo com suas chagas deu ao
mundo o remédio de seus males, também Maria com seu santíssimo nome, que é
composto de cinco letras, alcança todos os dias o perdão dos pecadores. Razão é
essa de o santo nome de Maria ser comparado ao óleo, nos Sagrados Cânticos (1,2).
Assim o explica Alano de Lille: o óleo cura os enfermos, exala perfume e
alimenta a chama. Também o nome de Maria cura os pecadores, perfuma o coração e
inflama no amor divino. Ricardo de S. Lourenço exorta os pecadores a curá-los
de todos os seus males e livrálos
prontamente da mais insidiosa enfermidade.
Pelo
contrário, os demônios, diz Tomás de Kempis, tanto receiam a Rainha do céu que,
como do fogo, fogem de quem invoca o seu grande nome. A própria Virgem revelou
o seguinte a S. Brígida: Por endurecido que seja um pecador, imediatamente o
abandona o demônio, se invoca o meu santo nome. Assim que o ouvem invocar,
largam de pronto a alma presa em suas garras. – E se os anjos maus se afastam
dos pecadores que chamam pelo nome de Maria, os anjos bons tanto mais se chegam
às almas justas que o pronunciam com devoção.
É a
respiração um sinal de vida. Também o invocar com frequência o nome de Maria é
sinal da posse ou da breve aquisição da graça divina, na opinião de S. Germano;
pois esse poderoso nome tem a virtude de alcançar auxílio e vida a quem o
invoca devotamente. Ricardo de S. Lourenço acrescenta: É ele como torre
fortíssima que livra o pecador da morte eterna; até os maiores pecadores acham
nessa celeste fortaleza salvação e defesa.
Essa
fortíssima torre não só livra de castigos os pecadores, mas defende os justos
também contra os ardores do inferno. É o que afirma Ricardo de S. Lourenço
quando diz: Depois do nome de Jesus nenhum outro há no qual resida socorro e
salvação para os homens, como o excelso nome de Maria. Especialíssima, como
todos o sabem, é a sua força para vencer as tentações contra a castidade. Isso
experimentam os devotos da Virgem, todos os dias. Semelhante pensamento deduz
Ricardo das palavras de S. Lucas: E o nome da Virgem era Maria (Lc 1,27). Fá-lo
para nos dar a entender que o nome da puríssima Virgem é inseparável da
castidade. Vem daí a frase de S. Pedro Crisólogo: O nome de Maria é indício de
castidade, querendo dizer: quem duvida se pecou nas tentações impuras, tem um
sinal certo de não ter ofendido a castidade, quando se lembra de haver invocado
a Maria.
Sigamos
sempre, por conseguinte, belo conselho
de S. Bernardo: Nos perigos, nos apuros, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca a Maria;
nunca se aprte seu nome de teus lábios, de teu coração. Em todos os perigos de
perder a graça divina pensemos em Maria, invoquemos o seu nome e o de Jesus,
para que andem sempre unidos esses dois nomes. Nunca se apartem nem do nosso
coração, nem da nossa boca, esses dois dulcíssimos e poderosíssimos nomes. Pois
eles nos darão forças para não cairmos e para vencermos sempre todas as
tentações.
Graças
inestimáveis prometeu Jesus Cristo aos devotos do nome de Maria, conforme
assevera S. Brígida. Disse ele a sua Mãe Santíssima: quem invocar o teu nome
com o propósito de emenda e confiança, receberá três graças particulares:
perfeita dor dos seus pecados e satisfação por eles, força para progredir na
perfeição e finalmente a glória do paraíso. Ó minha Mãe, acrescentou o Senhor,
nada posso vos negar de quanto vos pedis, porque vossas palavras são tão doces
e agradáveis a meu coração. Finalmente, põe remate a tudo S. Efrém, dizendo que
o nome de Maria é a chave da porta do céu, para quem o invoca com devoção. Com razão,
portanto, podia o suposto S. Boaventura, chamar a Maria de salvação dos que a invocam,
como se invocar-lhe o nome fosse o mesmo que obter a salvação eterna. Na sentença
de Ricardo à devota invocação desse doce e santo nome prendem-se graças
superabundantes nesta vida e sublime glória na outra.
Desejais,
por conseguinte, ser consolados em todos os trabalhos? Conclui Tomás de Kempis.
Recorrei a Maria; invocai a Maria, a ela servi e recomendai-vos. Alegrai-vos
com Maria, caminhai com Maria; com ela procurais a Jesus, e finalmente com
Jesus e Maria aspirai a viver e morrer. Assim fazei e prosseguireis no caminho
do Senhor. Pois Maria se comprazerá em rogar por vós, e o Filho com certeza
atenderá à sua Mãe.
3-
O nome de Maria é doce sobretudo na hora
da morte
Dulcíssimo
é, pois, na vida, aos devotos de Maria, seu nome santíssimo, porque lhes
alcança, como já vimos, graças extraordinárias. Muito mais doce, porém,
serlhes-á na última hora, proporcionando-lhes uma suave e santa morte.
Sertório
Caputo, padre jesuíta, exorta a todos aqueles que assistem qualquer moribundo,
que lhe digam frequentemente o nome de Maria. Diz que este nome de vida e de
esperança, proferido na hora da morte, basta para afugentar os inimigos e
confortar os moribundos em todas as suas angústias.
Esta breve
oração, Jesus e Maria, diz Tomás de Kempis, é fácil de conservar na memória,
doce para meditar e forte para defender os que lhe são fieis contra os inimigos
da salvação. Bem-aventurado aquele, exclama S. Boaventura, que ama teu doce
nome, ó Mãe de Deus! É ele tão glorioso e admirável, que quem se lembra de o
invocar em artigo de morte, não teme os assaltos dos inimigos.
Oh! Que
felicidade morrer como Frei Fulgêncio d´Ascoli, padre copuchinho, o qual
expirou cantando: Ó Maria, ó Maria, a mais bela dentre as criaturas, quero ir
em vossa companhia! Ou também como morreu o Beato Henrique, que cisterciense,
do qual se conta, nos Anais da Ordem, que finalizou a vida articulando o nome
de Maria.
Roguemos,
pois, meu amado e devoto leitor, roguemos a Deus, que nos conceda a graça de
ser o nome de Maria a última palavra que a nossa língua pronuncie. Roguemos a
Deus que no-la conceda, como lha pedia um S. Germano, dizendo: Ó doce e segura
morte, a que é acompanhada e protegida com este nome de salvação, o qual Deus
só concede proferir àqueles a quem quer salvar!
Ó minha
doce Mãe e Senhora, eu vos amo, e porque vos amo, amo também o vosso nome. Proponho
e espero com o vosso socorro invocá-lo sempre na vida e na morte. Concluo,
pois, com a terna oração de S. Boaventura: Para glória do vosso nome, ó bendita
Senhora, quando minha alma sair deste mundo, vinde-lhe ao encontro e tomai-a em
vossos braços. Dignai-vos de vir consolá-la com a vossa doce presença; sede o
seu caminho para o céu, alcançai-le a graça do perdão e o eterno descanso. Ó Maria,
advogada nossa, a vós pertence defender os vossos devotos, e tomar à vossa
conta a sua causa diante do tribunal de Jesus Cristo.
Ligório, S. Afonso de. Glórias de Maria. 11ª Ed. italiana. Editora Santuário.
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