Os meum aperui, et attraxi spiritum — “Abri a minha boca, e atraí o alento” (Ps.
118, 131).
Sumário. A comunhão espiritual consiste num desejo ardente
de receber Jesus sacramentalmente e num amoroso amplexo, como se fosse recebido
realmente. Esta devoção é um meio eficacíssimo para chegar à perfeição e ao
mesmo tempo é uma devoção facílima, porque pode ser praticada todos os dias,
por todos, e quantas vezes se quiser, sem ser vista ou observada por pessoa
alguma. Pratica-a, pois, com frequência, em particular, na oração mental, na
visita ao Santíssimo Sacramento e na assistência à Missa à hora da comunhão do
sacerdote.
I. Segundo Santo Tomás, a comunhão espiritual
consiste num desejo ardente de receber Jesus Cristo sacramentalmente e num
amplexo amoroso, como se já fora recebido. O santo Concílio de Trento louva
muito a comunhão espiritual e convida todos os fiéis a que a ponham em prática.
E Deus mesmo, repetidas vezes, tem dado a entender às almas devotas quanto Lhe
agrada esta devoção.
Um dia apareceu Jesus a Soror Paula Maresca,
fundadora do convento de Santa Catarina de Sena em Nápoles, e mostrou-lhe dois
vasos preciosos, um de ouro e outro de prata, dizendo-lhe que o no primeiro
guardava as suas comunhões sacramentais e no segundo as espirituais. Em outra
ocasião disse o Senhor também à Venerável Joana da Cruz que, sempre que
comungava espiritualmente, concedia-lhe uma graça semelhante à que lhe dava na
comunhão sacramental. — Mais tocante é o que um autor fidedigno (1) refere de
outro servo de Deus. Quando este fazia na missa a comunhão espiritual, sentira
a partícula consagrada levar-se-lhe aos lábios e experimentava na alma uma
doçura indizível, querendo o Senhor recompensar desta forma o desejo de seu bom
Servo.
Por isso todas as almas devotas costumam praticar
com frequência o santo exercício da comunhão espiritual. A Bem-aventurada
Angela da Cruz, dominicana, chegou a dizer que, se o confessor não lhe tivesse
ensinado este modo de comungar, não teria podido viver. Fazia cem comunhões
espirituais durante o dia, e outras cem durante a noite. Nem é de admirar, pois
que este modo de comungar, sobre ser uma devoção muito proveitosa, é também
facílimo e pode ser praticado cada dia por todos, e quantas vezes se quiser. —
A já mencionada Joana da Cruz exclamava: “Ó meu Senhor, que bela maneira de
comungar é essa! Sem ser vista por ninguém, sem ter de dar conta a meu diretor
espiritual, sem dependência de ninguém senão de Vós, que alimentais minha alma
na solidão e lhe falais ao coração!”
II. Procura fazer com frequência a comunhão
espiritual; tanto mais que ela é também um meio valiosíssimo para dispor a alma
a fazer com mais fruto a comunhão sacramental. Por isso, nas tuas visitas ao
Santíssimo Sacramento, na tua oração mental, em cada missa que ouvires, no
momento da comunhão do celebrante, faze a comunhão espiritual.
Faze então um ato de fé, crendo firmemente
que na Eucaristia está o corpo, o sangue, a alma e a divindade de Jesus Cristo,
tão vivo como está no céu. Faze também um ato de amor, unido ao
arrependimento dos teus pecados; e em seguida um ato de desejo,
convidando Jesus Cristo a entrar em tua alma afim de a fazer toda sua. Agradece-lhe,
afinal, como se já o tivesses recebido. — Para que essas comunhões espirituais
te sejam mais proveitosas, une-as aquelas que fizeram todos os santos e em
particular a tua querida Mãe Maria. Quantos frutos colherás desta forma para
tua alma! Representa-te que cada uma de tuas comunhões será uma pedra preciosa
que ornará a tua coroa no céu.
Ó meu Redentor amabilíssimo, agradeço-Vos o me
haverdes ensinado este grande meio de santificação e com o vosso auxilio quero
aproveitá-lo sempre, a começar pelo dia de hoje. Sim, meu Jesus, creio que
estais presente no Santíssimo Sacramento. Amo-Vos sobre todas as coisas e
desejo possuir-Vos em minha alma. Visto que não posso agora receber-Vos
sacramentalmente, vinde ao menos espiritualmente ao meu coração. Abraço-Vos,
como se já tivesses vindo, e me uno inteiramente a Vós; não permitais que
jamais me aparte de Vós.
Ó Maria, vós que tanto desejais ver vosso Filho
amado de todos, se me amais, eis aí a graça que vos peço e que me haveis de
alcançar: obtende-me um grande amor a Jesus. Obtende-me também um grande amor a
vós, que sois a criatura mais amante, a mais amável e a mais amada de Deus. O
amor para convosco é uma graça que Deus não concede senão a quem deseja salvar.
(*IV 304.)
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1. P. J. Bider O. P.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos
os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de
Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 144-146.)
Fonte: São Pio V
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