In omnibus divites facti estis in illo — “Em todas as coisas fostes enriquecidos
nele” (1 Cor, 1, 5).
Sumário. Posto que o Senhor esteja sempre disposto a nos
conceder as suas graças, dispensa-as todavia com mais largueza no tempo da
missa aos rogos do sacerdote, juntos aos de Jesus Cristo que é o oferente
principal. Os mesmos anjos aproveitam o tempo da missa para intercederem mais
eficazmente em nosso favor; e o que então se não obtém, obter-se-á dificilmente
em outro tempo. Que tesouros podemos, pois, ajuntar pela celebração devota do
divino sacrifício e pela sua devota assistência!
I. Considera que a santa missa é um
verdadeiro sacrifício impetratório, isto é, instituído para alcançar de Deus os
auxílios e as graças de que necessitamos. É uma verdade da fé que o Pai Eterno
dispensa seus favores sempre que forem pedidos pelos merecimentos de Jesus
Cristo: Si quid petieritis Patrem in nomine meo, dabit vobis (1) — “Se
pedirdes alguma coisa a meu Pai em meu nome, Ele vô-la dará”. Observa, porém,
São João Crisóstomo, que no tempo da missa Deus os dipensa com maior largueza
aos rogos do sacerdote, porque estes então são acompanhados e reforçados pelos
rogos do próprio Jesus Cristo, o oferente principal, que neste sacrifício se
oferece ao Pai, afim de nos obter as graças. Pelo que um grande servo de Deus
dizia: Quando celebro e tenho Jesus Cristo na mão, alcanço tudo que desejo.
Se soubéssemos que todos os Santos do paraíso, em
união com a divina mãe, intercedem por nós, que confiança não teríamos de tudo
suceder para nosso proveito? Pois bem, é certíssimo que um só pedido de Jesus
Cristo vale infinitamente mais do que todos os pedidos dos Santos. Este pedido,
posto que, na palavra de São Paulo, Jesus Cristo o faça por nós continuamnete
no céu (Qui etiam interpellat pro nobis (2) — “Que também
intercede por nós”) fá-lo todavia especialmente na hora da missa, na qual
se renova o sacrifício da Cruz.
Eis porque, como se exprime o Concílio de Trento, o
tempo da celebração da missa é exateamente aquele em que o Senhor está not rono
da graça, ao qual o Apóstolo nos exorta que recorramos com confiança para
obtermos a divina misericórdia: Adeamos ergo cum fiducia ad thronum gratiae
(3). São João Crisóstomo atesta que os mesmos anjos esperam o tempo da
missa para intercederem mais eficazmente a nosso favor; e acrescenta que o que
não se alcança na missa, dificilmente se alcançará em outro tempo. Oh! Que
tesouros de graças podemos ajuntar celebrando devotamente o divino sacrifício
ou assitindo a ele com atenção: Em todas as coisas fostes eniquecidos nele!
II. Se tivesses certeza de que perto de tua casa se
acha uma rica mina de ouro e que cada dia te é permitido nela entrar meia hora
para tirar quanto quiseres, qual não seria o teu contentamento? Aviva, porém, a
tua fé e lembra-te de que o rei do céu, na santa missa, põe à tua disposição
uma mina incomparavelmente mais preciosa, porque contém os merecimentos
infinitos de Jesus Cristo, pelos quais pode alcançar todas as graças.
Propõe-te, portanto, a assistir todos os dias à missa, mesmo a custo de algum
incômodo. Pondera que, se o Senhor se oferece mil vezes sobre o altar por teu
amor, justo é que tu também sacrifiques alguma pequena comodidade, algum
pequeno interesse. E sendo-te impossível ouvir a missa, assiste a ela ao menos
em espírito.
Infeliz de mim! Quantas graças, ó meu Deus, tenho
perdido pelo meu descuido em as pedir celebrando ou ouvindo a santa missa! Mas,
já que me iluminais, não me quero mais descuidar disso. Ó Pai Eterno, uno as
minhas orações às de Jesus Cristo e pelo amor desse vosso Filho, que por meu
amor se imola sobre o altar, Vos rogo antes de tudo que me perdoeis todos os
meus pecados, visto que os detesto de todo coração.
Fazei-me, além disso, conhecer os direitos
infinitos que tendes ao meu amor e dai-me força para me livrar de todos os
afetos terrestres e de empenhar todo o meu coração unicamente em Vos amar, que
sois o bem supremo, digno de amor infinito. — Peço-Vos também que ilumineis
aqueles que Vos não conhecem, ou vivem privados da vossa amizade. Meu
Pai, dai a todos o dom da vossa graça; dai a todos o dom do vosso santo
amor. Fazei-o pelo amor de Jesus Cristo e pela intercessão de Maria Santíssima.
(*III 819)
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1. Io. 16,
23.
2. Rom. 8, 34.
3. Hebr. 4, 16.
2. Rom. 8, 34.
3. Hebr. 4, 16.
(Santo Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para
todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Terceiro: desde a duodécima semana depois
de Pentecostes até ao fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia,
1922, p. 108-110.)
Fonte: São Pio V
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