Non iudicavi me scire aliquid inter vos, nisi Iesum
Christum, et hunc crucifixum — “Não entendi saber entre vós coisa alguma, senão
a Jesus Cristo, e este crucificado” (I Cor. 2, 2).
Sumário. O lenho da cruz serviu a Jesus Cristo, não só de patíbulo,
para operar o nosso resgate; mas também de cátedra para nos ensinar as mais
sublimes virtudes. À imitação dos santos, procuremos estudar a miúde o grande
livro do Crucifixo e nós também nele aprenderemos como devemos praticar a
obediência aos preceitos divinos, o amor para com o próximo, a paciência nas
adversidades. Nele aprenderemos sobretudo como devemos odiar o pecado e amar a
Deus, aceitando por seu amor trabalhos, tribulações e a própria morte.
I. Dizia o Apóstolo São Paulo que ele não queria
saber outra coisa senão Jesus, e Jesus crucificado, isto é, o amor que Ele nos
testemunhou sobre a cruz. E na verdade, em que livros poderemos melhor estudar
a ciência dos santos, que é a ciência de amar a Deus, senão em Jesus
crucificado? O grande servo de Deus Frei Bernardo de Corlione, capuchinho, não
sabendo ler, queriam os religiosos, seus irmãos, ensiná-lo. Foi primeiro tomar
conselho com o Crucifixo; mas Jesus lhe respondeu da cruz: “Que, livros! Que,
leituras! Eu é que sou o teu livro, no qual podes sempre ler o amor que tenho
tido.” Oh, que grande assunto para meditação por toda a vida e por toda a
eternidade: um Deus morto por nosso amor! Um Deus morto por nosso amor! Oh, que
grande assunto!
Um dia Santo Tomás de Aquino visitando a São Boaventura
perguntou-lhe de que livro tinha feito mais uso para consignar em suas obras
tão belos conceitos. São Boaventura mostrou-lhe a imagem de Jesus crucificado,
toda enegrecida pelos beijos que lhe dera, dizendo: “Eis aqui o livro que me
fornece tudo que escrevo; É ele que me ensinou o pouco que sei.” Jesus
crucificado foi também o livro predileto de São Filipe Benicio, que teve a
fortuna de exalar a sua alma bendita enquanto beijava aquelas chagas sagradas.
Numa palavra, foi no estudo do crucifixo que os santos aprenderam a arte de
amar a Deus e de, por amor d'Ele, sofrer as tribulações, os tormentos, os
martírios e a morte mais cruel.
Tinha, pois, Santo Agostinho razão para escrever
que o lenho da cruz serviu a Jesus Cristo, não só de patíbulo, para nele operar
a nossa redenção, mas também de cátedra para nos ensinar as mais sublimes
virtudes. — Por isto, o Santo, arrebatado pelo amor à vista de Nosso Senhor
coberto de chagas sobre a cruz, fazia esta terna oração: Gravai, ó meu
amantíssimo Salvador, gravai as vossas chagas em meu coração, afim de que nelas
leia eu sempre a vossa dor e o vosso amor. Sim, porque, tendo diante dos olhos
a grande dor, que Vós, meu Deus, padecestes por mim, sofrerei em paz todas as
penas que me possam acontecer; e à vista do amor que me tendes patenteado na
cruz, não amarei nem poderei amar senão a Vós.
II. Eis, pois, aí o nosso grande livro: Jesus
crucificado! Se o estudarmos a miúde, ficaremos também instruídos na
ciência dos santos; porquanto, no dizer de Santo Tomás, ao mesmo tempo que
n'Ele acharemos auxílio seguro contra todas as tentações, aprenderemos a
praticar a obediência a Deus, a caridade para com o próximo, e a paciência nas
adversidades. Mas n'Ele, sobretudo, aprenderemos a temer o pecado e a amar a
Jesus Cristo com todas as nossas forças; pois nessas chagas leremos de uma
parte a malícia do pecado que constrangeu um Deus a sofrer tão amargosa morte
para satisfazer à divina justiça; e da outra o amor que o Salvador nos mostrou
querendo sofrer tanto a fim de nos fazer compreender o quanto nos amava.
Procuremos, portanto, ter uma linda imagem de Jesus
crucificado, coloquemo-la em nosso quarto, e olhando para ela freqüentemente,
mesmo entre os nossos estudos e trabalhos, façamos com afeto alguma oração
jaculatória e particularmente esta: † Meu
Jesus, misericórdia! (1) O Senhor revelou a Santa Gertrudes, que todo o que
olha com devoção o Crucifixo, será cada vez recompensado com um olhar amoroso
de Jesus.
Ah, meu Jesus! Quem não Vos há de amar,
reconhecendo-Vos pelo Deus que sois e contemplando-Vos na cruz? Oh! Que setas
de amor arremessais às almas do alto da cruz! Quantos corações tendes atraído a
Vós lá do trono de amor! Ó chagas de meu Jesus, ó belas fornalhas de amor,
deixai-me entrar em Vós afim de ser consumido pelo amor de meu Deus, que quis
morrer por mim, consumido pelos tormentos. — Ó minha dolorosa Mãe, Maria,
ajudai um vosso servo que deseja amar a Jesus. (*I 540.)
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1. 300 dias de indulg. cada vez.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos
os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de
Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 129-131.)
Fonte: São Pio V
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