37 regras de
conversação para cavalheiros de 1875
As regrinhas de conversação abaixo são de um livro publicado em
1875: A Gentleman’s Guide to Etiquette (Um Guia de Etiqueta para Cavalheiros, em tradução livre),
de Cecil B. Hartley.
1. Ainda que convencido de que seu oponente está errado, renda-se
graciosamente, evite seguir com a discussão, ou deliberadamente mude de
assunto, mas não defenda obstinadamente sua opinião até ficar irritado… Há
muitos que, expressando opinião como se fossem leis, defendem posições com
frases do tipo “Se eu fosse presidente, ou governador, iria…”, — e embora pelo
calor do argumento só comprovem que são incapazes de governar o próprio
temperamento, seguirão tentando persuadi-lo de que são perfeitamente
competentes para liderar a nação.
2. Mantenha, se puder, uma opinião política fixa. Não a exponha em
todas as ocasiões e, acima de tudo, não se proponha a forçar os outros a
concordar com você. Ouça calmamente as ideias deles e, se não puder concordar,
discorde polidamente e consiga que seu oponente, porquanto considere suas
opiniões erradas, se veja obrigado a reconhecer que você é um cavalheiro.
3. Nunca interrompa ninguém; é rude apontar uma data ou um nome que a
pessoa esteja hesitando em dizer, a não ser que te peçam para fazer isso. Outro
erro crasso de etiqueta é antecipar algum ponto da história que a pessoa está
contando, ou terminar a frase para roubar o final para si. Algumas pessoas
justificam isso dizendo que o orador estava estragando uma boa história, mas
isso não justifica. É muito grosseria deixar um homem entender que você não o
considera apto a terminar uma anedota que ele começou.
4. É falta de educação se mostrar cansado durante o discurso de outra
pessoa, e é muita grosseria olhar para o relógio, ler uma carta, folhear um
livro, ou qualquer outra ação que mostre que você está entediado com o orador
ou com o assunto.
5. Nunca fale quando outra pessoa está falando, e nunca eleve a voz
para cobrir a dos outros. Não fale de maneira ditatorial e faça com que sua
conversa seja sempre amável e franca, livre de afetações.
6. Nunca, a não ser que peçam, fale dos seus negócios ou profissão em
público. Confinar a conversa apenas à sua própria especialidade é vulgar. Faça
o assunto se adequar à companhia. Conversas leves e alegres são, de vez em
quando, tão desnecessárias quanto sermões numa festa, então deixe que o assunto
seja grave ou feliz de acordo com o tempo e lugar.
7. Numa briga, se você não tem como reconciliar as partes, se
abstenha. Você certamente faria um inimigo, talvez dois, ao tomar um lado numa
discussão onde ambos os lados já perderam a calma.
8. Nunca chame a atenção apenas para si. É rude entrar numa conversa
com um grupo e tentar tirar algum dos participantes dele para um diálogo.
9. Um homem inteligente é geralmente modesto. Ele pode sentir que é
intelectualmente superior em sociedade, mas não procura fazer os outros se
sentirem inferiores, nem mostrar sua vantagem em relação a eles. Ele discutirá
com simplicidade os tópicos propostos pelos outros, e evitará aqueles que os
outros não consigam discutir. Tudo que ele diz é marcado pela polidez e
deferência aos sentimentos e opiniões dos outros.
10. Escutar com interesse e atenção é uma conquista tão válida quanto
falar bem. Ser bom ouvinte é indispensável para ser um bom orador, e é no papel
de ouvinte que você consegue detectar mais facilmente se um homem é
educado para a vida social.
11. Nunca escute a conversa de duas pessoas que se afastaram de um
grupo. Se elas estão tão próximas que não há como evitar ouvi-las, você pode,
apropriadamente, mudar de lugar.
12. Faça que sua parte da conversa seja tão modesta e breve quanto consistente
com o assunto em debate, e evite longos discursos e histórias tediosas. Se, no
entanto, outra pessoa, particularmente mais velha, conta um caso mais longo,
escute respeitosamente até que ela termine, antes de falar novamente.
13. Fale pouco de si. Seus amigos conhecerão suas virtudes sem
forçá-lo a nomeá-las, e você pode estar certo de que é igualmente desnecessário
expor você mesmo seus defeitos.
14. Se você aceita a lisonja, deve também aceitar quando inferem que
você é bobo e convencido.
15. Ao falar de seus amigos, não compare uns aos outros. Fale dos
méritos de cada indivíduo, mas não tente aumentar as virtudes de um ao
contrastá-las com os vícios de um outro.
16. Evite, numa conversa, todo assunto que possa ferir alguém ausente.
Um cavalheiro nunca calunia ou dá ouvidos à calúnia.
17. O homem mais sagaz se torna chato e mal educado quando pretende
atrair toda a atenção de um grupo no qual deveria interpretar um papel mais
modesto.
18. Evite frases feitas, e faça citações raramente. Elas às vezes
temperam uma conversa, mas quando se tornam hábito constante, são extremamente
tediosas e de mau gosto.
19. Não seja pedante; é uma marca, não de inteligência, mas de
estupidez.
20. Fale sua língua corretamente; ao mesmo tempo não seja maníaco em
relação à formalidade e correção das frases.
21. Nunca repare se outros cometem erros de linguagem. Pontuar isso
verbalmente ou por olhar, naqueles ao seu redor, é falta de educação.
22. Se o assunto é de trabalho ou científico, evite o uso de termos
técnicos. São de mau gosto, porque muitos não entenderiam. Entretanto, se você
os usa inconscientemente numa frase, não cometa o erro maior de explicar o
significado. Ninguém o agradecerá por destacar-lhes a ignorância.
23. Ao conversar com um estrangeiro que não fale Inglês corretamente,
escute com atenção, mas não sugira uma palavra ou frase se ele hesitar. Acima
de tudo, não demonstre por ação ou palavra se está impaciente com as pausas e
erros do orador. Se você entender a língua dele, avise isso assim que se falarem;
não é uma exibição do seu conhecimento, mas uma gentileza, já que um
estrangeiro ficará feliz em falar e ouvir a língua materna num país estranho.
24. Tenha cuidado, em sociedade, para nunca se colocar no papel de
bufão, ou logo você será conhecido como o “engraçado” da turma, e nada é mais
perigoso para a dignidade de um cavalheiro. Você se expõe à censura e ao
ridículo, e pode estar certo que, para cada pessoa que ri com você, duas riem
de você, e para cada um que o admira, dois assistem a tudo com reprovação.
25. Evite se gabar. Falar de dinheiro, boas relações ou do luxo à sua
disposição é de mau gosto. É indelicado falar da sua intimidade com pessoas
importantes. Se os nomes deles ocorrerem naturalmente no curso da conversa,
tudo bem; mas ficar constantemente citando, “meu amigo, o Governador,” ou “meu
amigo íntimo, o Presidente,” é pomposo e de mau gosto.
26. Quando se recusar a fazer piadas, não demonstre desprezo pela
alegria alheia. É mal educado propor assuntos graves quando uma conversa
prazerosa está ocorrendo. Junte-se à diversão e esqueça seus problemas mais
graves, e você será mais popular do que se tentar converter a alegria inocente
em discussão grave.
27. Quando em sociedade com acadêmicos, não os questione sobre seus
trabalhos. Mostrar admiração por um autor é de mau gosto, mas você pode ser
gracioso se, com um citação ou referência, mostrar que é um leitor e que
aprecia a obra.
28. É extremamente rude e pedante, numa conversa geral, fazer citações
em língua estrangeira.
29. Usar frases de duplo sentido não é cavalheiresco.
30. Se estiver ficando irritado com a conversa, mude de assunto ou
fique em silêncio. Você pode dizer, num arroubo de paixão, palavras que nunca
usaria num momento mais calmo, e as quais você lamentaria depois de dizer.
31. “Nunca fale de cordas para um homem cujo pai foi enforcado” é um
ditado vulgar, mas popular. Evite assuntos que possam ferir personalidades e
assuntos de família. Evite, se puder, conhecer os segredos de seus amigos, mas
se algum lhe for confidenciado, nunca o revele a terceiros.
32. Se você é viajado, não fale constantemente disso. Nada é mais
cansativo do que um homem que começa todas as frases com, “Quando estive em
Paris,” ou, “Na Itália eu vi…”
33. Quando fizer perguntas sobre pessoas que não conhece num salão,
evite usar adjetivos; ou você pode perguntar à uma mãe, “Quem é a garota feia,
esquisita?” e receber como resposta, “Senhor, aquela é minha filha.”
34. Evite a fofoca; numa mulher é detestável, mas num homem é
simplesmente desprezível.
35. Não ofereça assistência ou conselho à sociedade geral. Ninguém irá
agradecê-lo por isso.
36. Evite a lisonja. Um elogio delicado é permitido numa conversa, mas
o excesso é rude, vulgar, e para pessoas sensíveis, repugnante. Se você
lisonjeia seus superiores, eles deixam de confiar em você, acreditando que você
tem algum motivo egoísta; se lisonjeia damas, elas o desprezam, por pensarem
que você não tem outro assunto.
37. Uma dama de bom senso se sentirá mais elogiada se você conversar
com ela sobre assuntos interessantes e instrutivos, ao invés de apenas sobre
sua beleza. Neste caso ela concluirá que você a considera incapaz de discutir
assuntos elevados, e você não pode esperar que ela fique satisfeita em ser
considerada uma pessoa boba e vaidosa, que precisa ser adulada para ficar de
bom humor.
De São João Batista de la Salle,
“As regras de cortesia e de civilidade cristã”.
Fonte: Spes
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