sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

A Modéstia - Para senhoras e senhoritas




Por D. Ildefonso Rodriguez Villar


1ª Interior

Em geral, a modéstia é a virtude que regula todos os atos externos, dando-lhe a devida compostura e decoro..., apresentando-se, assim, aos olhares do próximo, como qualquer coisa digna, nobre e formosa. Mas a modéstia exterior necessariamente há de proceder da interior, que consiste em moderar e dirigir os movimentos desordenados da alma segundo a divina vontade. A modéstia exterior pode-se fingir e será então um repugnante ato de hipocrisia... A modéstia interior é a única que pode dar vida à modéstia exterior. Não deves, portanto, procurar conseguir uma aparência de modéstia..., uma modéstia postiça e mentirosa, com porte e maneiras externas que pareçam muito modestas, deixando depois que o teu coração seja vítima das baixas inclinações da concupiscência. 


Quando a verdadeira modéstia existe, é tal a união que se dá entre a exterior e a interior, que uma não anda sem a outra, as duas ajudam-se mutuamente, de sorte que a compostura exterior deve proceder sempre dum interior perfeitamente composto e ordenado... e a interior encontrará a sua melhor defesa e sustentáculo na exterior. São Francisco de Sales explica isto com a seguinte comparação: Como o fogo produz a cinza... e a cinza serve admiravelmente para manter e conservar o fogo..., assim sucede com estas duas modéstias, que a interior produz a exterior, e esta mantém e conserva a interior de onde brotou.

Esta modéstia interior, é de duas classes: uma que refreia os movimentos da concupiscência e os atos internos do entendimento..., da imaginação e da vontade, que nos levam ao pecado da impureza..., e a outra modéstia é a que modera os movimentos da alma, que têm relação com a soberba e pelas suas virtudes..., pela sua dignidade, podiam dar-se que não queremos ferir a sua modéstia... e outras vezes admiramos a modéstia de pessoas que pelos seus méritos..., pelas suas virtudes..., pela sua dignidade, podiam dar-se mais importância. Esta modéstia, como se vê, praticamente reduz-se ao exercício da verdadeira humildade; por isso a alma humilde há de ser necessariamente modesta interior e exteriormente.

Quanto a esta modéstia, é evidente que ninguém pôde jamais comparar-se com a Santíssima Virgem; ninguém houve com mais merecimentos, virtudes, santidade, dignidade e grandezas divinas... Quem foi, apesar disso, mais simples..., afável..., caritativa..., pobre e humilde do que Ela? E portanto, quem mais modesta quanto ao desprezo que fazia da importância da sua pessoa e da sua própria excelência?...

E quanto à modéstia oposta à concupiscência, onde encontrar uma ordem mais completa..., uma submissão mais perfeita de todos os seus pensamentos, sentimentos e afeições à regra da razão e desta à vontade de Deus?

2º. Exterior

Vejamos, porém, mais em concreto esta modéstia interior refletida em todos os atos exteriores do corpo e principalmente nos seguintes:

Nas palavras Imagina como seriam as da Santíssima Virgem, que estava persuadida ser a última das escravas do Senhor..., palavras de edificação e de encantadora modéstia..., ao considerar, cheia de gozo,  os imensos benefícios de que o Senhor a cumulara; a Ele dirige o seu agradecimento e os seus louvores... e admirar-se-á que o Todo Poderoso tenha posto os seus olhos na miséria da sua escrava... Estava simplesmente e firmemente persuadida da falta de merecimentos da sua parte e por isso quão longe estava em suas palavras, de atribuir a si coisa alguma! Aprende d'Ela esta modéstia no falar... tanto no tom da voz, não querendo impor-te com gritos, nem com palavras nervosas e excitadas..., como na simplicidade e caridade das tuas expressões.

À imitação de Maria, evita as palavras duras..., bruscas..., malsoantes. Vê como a linguagem da tua Mãe é tranquila, afável, discreta, humilde..., tornando-se simpática e atraente pela doçura de voz..., pela bondade..., pureza..., caridade e até alegria santa das suas palavras. Tem cuidado, em especial, com as disputas e altercações; ainda que tenhas razão, deves moderar o teu juízo próprio..., cedendo, sem ser pertinaz nem ter cabeça dura...; é melhor ceder e calar com modéstia, que sair triunfante com teimosia e soberba.

Não é comparável com a soberba a sã alegria que em anedotas, graças, passatempos e brincadeiras se pode manifestar... Mas, ah! como é fácil em tudo isto, passar os limites da correção e da modéstia!

3º. No vestido e na habitação

A pobreza da casa de Nazaré, própria duma operária, faz que nela tudo seja humilde e modesto em último grau... A simplicidade e modéstia do seu vestido, avalia pela extrema necessidade de Belém e verás como nem em casa de Maria, nem no enxoval e vestido, encontrarás coisa alguma que indique luxo..., afetação da sua pessoa..., comodidade de algum gênero.

Nas suas viagens não usará carruagens, nem mesmo as mais modestas de então... O Evangelho nada mais diz senão que foi, por exemplo, à Judeia, com grande pressa..., pois a estimulava a caridade... Eis toda a sua preparação e equipagem...: uma pobre trouxa de roupa e muito amor de caridade para com Deus e para com o próximo... Que exemplo de simplicidade e modéstia!... Não é modéstia a falta de asseio..., o desarranjo no vestuário...; ao contrário, pode haver modéstia em meio de uma sóbria elegância, contanto que esta seja conformo o teu estado..., a tua condição... e as circunstâncias que te rodeiam...; mas nunca será compatível com o luxo..., com a vaidade dos vestidos... e menos ainda com qualquer defeito por pequeno que seja em matéria de honestidade.

Tem muito cuidado neste último ponto e não esqueças, que na igreja e na rua..., em público e em particular, deves vestir sempre modestamente. É intolerável o permitir-se, ao estar em casa, modos de vestir impudicos ou pelo menos muito livre...; não há pretexto nem razão que possa autorizar isto... A modéstia deve acompanhar-te em todos os instantes da tua vida.

4º. Nas maneiras

Isto é, em todos os teus atos exteriores que realizas perante os outros... Modéstia no semblante e particularmente nos teus olhos, não só para evitar os olhares pecaminosos..., mas também para evitar a excessiva curiosidade de quem tudo quer ver e observar... Modéstia nas posições do andar..., ao sentar-te, não buscando precisamente a posição mais cômoda, senão a mais conveniente... Modéstia em todos os
teus movimentos, evitando tudo o que seja leviandade e desenvoltura... e muitíssimo mais tudo o que não seja decoroso e digno.

Acostuma-te a esta modéstia, ainda estando só, para que assim naturalmente a pratiques diante dos outros. É muito conhecido o caso de S. Francisco de Sales, que observado quando se encontrava só no seu quarto, guardava os mais pequenos preceitos da compostura e da modéstia. Procedia sempre como se o vissem os Anjos do Céu e na presença de Deus.

Nota, de modo especial, tudo isto na Santíssima Virgem e verás o conjunto admirável de todos os seus atos executados com aquela naturalidade..., simplicidade..., franqueza... e ao mesmo tempo delicadeza..., honestidade... e circunspecção próprios da santa modéstia. Examina-te um pouco nesta matéria, e pergunta a ti mesma como guardas a modéstia interior do teu coração... e a exterior do teu corpo e de todas as tuas maneiras.


Fonte: A mulher Católica
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D. Ildefonso Rodriguez VILLAR. Pontos de Meditação
sobre as Virtudes de Nossa Senhora. Tradução revista pelo Padre Manuel
Versos Figueiredo, S. J. (s. e.) Porto, 1946, p.138-142.



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