domingo, 5 de janeiro de 2014

Meditações para o tempo de Natal (IX)



SOLIDÃO DE JESUS NO ESTÁBULO.


Jesus, ao nascer, escolheu-se para eremitagem e oratório o estábulo de Belém; quis nascer fora da cidade, numa caverna solitária, para inspirar-nos o amor da solidão e do silêncio. Entremos nessa gruta, lá só acharemos solidão e silêncio: Jesus conserva-se silencioso na manjedoura; Maria e José o adoram e contemplam em silêncio. Foi revelado à Irmã Margarida do SS. Sacramento, carmelita descalça, apelidada a Esposa do Menino Jesus, que tudo o que se passou na gruta de Belém, mesmo a visita dos pastores e a adoração dos Santos Reis Magos se fez em silêncio.

O silêncio das outras crianças provém da sua impotência; o de Jesus Cristo foi uma virtude. Jesus Menino não fala; mas em seu silêncio, que não diz Ele? Oh! felizes os que se entretém silenciosamente com Jesus, Maria e José nessa santa solidão do presépio! Os pastores lá passaram poucos instantes e saíram inflamados de amor para com Deus louvando-o e bendizendo-o. Oh! feliz a alma que se retira à solidão de Belém para contemplar a divina misericórdia e o amor que um Deus teve e tem aos homens! Eu a levarei à solidão e falarei a seu coração. Lá o divino Infante lhe falará não aos ouvidos mas ao coração, e a convidará a amar um Deus que tão ternamente a ama. Ao ver a pobreza desse encantador eremitazinho que fica na gruta gelada, sem lume, tendo apenas uma manjedoura por berço e um pouco de palha por leito; ao ouvir os vagidos e ao ver as lágrimas desse Menino, a inocência mesma; ao refletir que é o seu Deus, como poderia pensar em outra coisa senão em amá-lo? O estábulo de Belém, eis a doce ermida para a alma que tem fé.

Imitemos a Maria e José que, inflamados de amor, contemplam o adorável Filho de Deus revestido de carne e sujeito às misérias desta vida, o Sábio por excelência tornado criança sem palavra, o Grande feito pequeno, o Altíssimo tão rebaixado, o Riquíssimo feito tão pobre, o Todo-poderoso feito fraco. Numa palavra, vejamos a Majestade divina oculta sob a forma duma criancinha, desprezada e abandonada por todos, fazendo e sofrendo tudo para se tornar amável aos homens, e peçamos-lhe a graça de sermos admitidos nessa santa solidão; detenhamo-nos lá, lá fiquemos e de lá não saiamos mais. “Ó bela solidão, exclama S. Jerônimo, na qual Deus fala e conversa com as almas que ama”, não como um soberano, mas como um amigo, como um irmão, como um esposo! Oh! que paraíso, entreter-se a sós com Jesus Menino na humilde gruta de Belém!


Afetos e Súplicas.

Meu caro Salvador, sois o Rei do céu, o Rei dos reis, o Filho de Deus; como pois vos vejo nesse estábulo abandonado de todos? junto de vós só vejo José e vossa santa Mãe. Desejo juntar-me a eles para vos fazer companhia; não me repilais. Sou indigno disso; mas considerando-vos parece-me ouvir no fundo do meu coração uma doce voz que me chama... Sim, venho a vós, ó querido Infante! deixo tudo para ficar a sós convosco durante toda a minha vida, ó divino Solitário, único amor de minha alma! Insensato que fui no passado, quando vos abandonei, meu Jesus, e vos deixei só, para mendigar das criaturas prazeres miseráveis e envenenados; mas agora, aclarado pela vossa graça, não tenho outro desejo senão de viver solitário convosco, que quereis viver solitário neste mundo. Ah! quem me dará assas como as da pomba, e voarei ao lugar do meu repouso. Quem me dará a força de sair deste mundo, onde tantas vezes encontrei a minha ruína, de fugir, e de ficar sempre convosco, que sois a alegria do paraíso e o verdadeiro amigo da minha alma? Senhor, prendei-me a vossos pés, a fim que me não afaste mais de vós, e tenha a felicidade de vos fazer sempre companhia. Pelos méritos de vossa solidão na gruta de Belém, concedei-me um contínuo recolhimento interior, fazei que minha alma se torne como uma cela solitária, onde, unicamente atento em entreter-me convosco, eu vos submeta todos os meus pensamentos e todas as minhas ações, vos consagre todos os meus afetos, e vos ame sem cessar, suspirando pelo momento de sair da prisão do meu corpo para ir amar-vos face a face no céu. Amo-vos, Bondade infinita, e espero amar-vos sempre no tempo e na eternidade.

Ó Maria, que tudo podeis, pedi a Jesus me prenda com as cadeias de meu amor, e não permitais me suceda perder novamente a sua graça.

(Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo – Santo Afonso Maria de Ligório)

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