SOBRE A ADORAÇÃO DOS
MAGOS.
Jesus nasce pobre num estábulo. Os
anjos do céu o reconhecem por seu Rei, mas os homens da terra o deixam abandonado;
apenas alguns pastores vêm visitá-lo. Mas o nosso Redentor quer começar desde
então a comunicar-nos a graça da redenção; eis porque começa logo a
manifestar-se aos gentios, que menos o conheciam. Para isso envia uma estrela
para aclarar os Magos, a fim que venham reconhecer e adorar o seu Salvador.
Essa é a primeira e a maior graça que nos fez, a vocação à fé, à qual sucedeu
logo a vocação à graça, de que os homens estavam privados.
Os Magos põem-se a caminho sem detença.
A estrela os acompanha até a gruta, onde está o divino Menino. Apenas chegados,
entram, e que encontram? S. Mateus responde: Acharam o Menino com Maria. Encontram
uma pobre donzela e um pobre Menino coberto de pobres paninhos, e ninguém que
lhe faça companhia ou os assista. Não obstante, entrando na gruta, os santos peregrinos
sentem uma alegria até então desconhecida; sentem seu coração cativar-se por
aquele Menino que veem. A palha, a pobreza, os vagidos de seu pequeno Salvador,
oh! Que setas de amor, que felizes chamas para seus corações iluminados! O
celeste Menino mostra-lhes semblante alegre, testemunho da afeição com que os
recebe entre as primeiras conquistas da redenção.
Os santos reis contemplam depois Maria,
que não fala; fica em silêncio, mas o seu rosto satisfeito que respira celeste
doçura mostra que os acolhe e agradece por serem os primeiros a reconhecer seu
divino Filho pelo que era, por seu soberano Senhor. Consideremos como eles,
guardando também respeitoso silêncio, o adoram, lhe prestam homenagem como a
seu Deus, lhe beijam os pés, e lhe oferecem os presentes, que consistem em
ouro, incenso e mirra. — Adoremos com eles o nosso pequeno Rei, Jesus, e
ofereçamos-lhe todo o nosso coração.
Afetos
e Súplicas.
Amável
Menino, embora vos veja na gruta deitado sobre palha, tão pobre e desprezado, a
fé me ensina que sois o meu Deus, descido do céu para minha salvação.
Reconheço-vos pois por meu supremo Senhor e Salvador; mas nada tenho para vos
oferecer. Não tenho o ouro do amor, pois só tenho amado os meus caprichos, e
não tenho amado a vós, o Bem infinitamente amável. Não tenho o incenso da
oração; tenho vivido miseravelmente sem pensar em vós. Não tenho a mirra da
mortificação, pois para me não privar dos miseráveis prazeres, tantas vezes
desgostei vossa bondade infinita. Que vos oferecerei então? Ofereço-vos o meu
coração, manchado e pobre com o é; aceitai-o e transformai-o, pois que viestes
a este mundo para lavar os nossos corações no vosso sangue, purificá-los dos
pecados e assim converter-nos de pecadores em santos. Dai-me pois o ouro, o
incenso e a mirra, que me faltam: dai-me o ouro do vosso santo amor; dai-me o
espírito de oração; dai-me o desejo e a força de mortificar-me em tudo o que
vos desagrada. Estou resolvido a obedecer-vos e a amar-vos; mas conheceis minha
fraqueza, concedei-me a graça de vos ser fiel.
Virgem
santa, que acolhestes os piedosos Magos com tanto afeto e os consolastes,
dignai-vos também acolher-me e consolar-me, que a seu exemplo vos venho visitar
e oferecer- me a vosso divino Filho. Maria, minha Mãe, tenho grande confiança
em vossa intercessão. Recomendai-me a Jesus. Entrego-vos a minha alma, a minha
vontade; prendei-a para sempre ao amor de Jesus.
(Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo – Santo Afonso
Maria de Ligório)
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