SOBRE A APRESENTAÇÃO DE JESUS NO TEMPLO.
Chegado
o tempo em que, pela lei, Maria devia ir ao templo purificar-se e apresentar
Jesus ao Pai celeste, Ela parte com seu casto esposo. José leva as duas rolas
que devem ser oferecidas, e Maria toma seu caro Infante, o divino Cordeiro, que
vai apresentar ao Senhor: era o prelúdio do grande sacrifício que esse mesmo Filho
de Deus devia um dia cumprir na cruz.
Consideremos
como a santa e tenra Virgem entra no templo, e como faz a oblação de seu divino
Filho em nome de todo o gênero humano, dizendo: Eis, ó Pai eterno, eis o vosso
unigênito Filho, que é também meu; eu vo-lo ofereço como vítima para aplacar a
vossa justiça para com os pecadores: aceitai-o, Deus de misericórdia, tende piedade
da nossa miséria; por amor deste Cordeiro sem mancha, recebei os homens em
vossa graça.
Ao
oferecimento de Maria junta-se o de Jesus: Eis-me, diz o divino Infante,
eis-me, meu Pai, consagro-vos toda a minha vida: enviastes-me ao mundo para o
salvar com meu sangue; eis o meu sangue e a minha pessoa, ofereço-me todo a vós
pela salvação do mundo.
Nenhum
sacrifício foi jamais tão agradável a Deus como o sacrifício que lhe fez então
o seu dileto Filho, tornado desde sua infância sacerdote e vítima por nós: Entregou-se
por nós como hóstia oferecida a Deus. Se todos os homens e todos os anjos
tivessem oferecido suas vidas a Deus, esse sacrifício não lhe teria agradado
tanto como o de Jesus Cristo, porque só esse oferecimento de Jesus prestou ao
Pai celeste uma honra infinita e uma satisfação infinita.
Se
Jesus oferece sua vida a seu Pai por amor de nós, é justo que em retorno lhe ofereçamos
nossa vida e nós mesmos. É isso que ele deseja, como o deu a entender à
bem-aventurada Ângela de Foligno, quando lhe disse: “Ofereci-me por ti, a fim
que te ofereças a mim”.
Afetos e Súplicas.
Padre eterno, eu miserável
pecador, digno de mil infernos, apresento-me hoje a vós, Deus de majestade de
infinita, e ofereço-vos meu pobre coração. Ah! Senhor, que é o coração que ouso
oferecer-vos? um coração que não soube amar-vos, que ao contrário, tantas vezes
vos ofendeu e traiu! Mas agora vo-lo ofereço penetrado de arrependimento e
resolvido a amar-vos e a obedecer-vos em tudo. Perdoai-me, meu Deus, e atrai-me
todo ao vosso amor. Não mereço ser atendido, mas vosso divino Filho, feito
menino e oferecendo-se a vós no templo em sacrifício pela minha salvação, o
merece por mim; apresento-vos esse Filho e seu sacrifício; nele ponho todas as
minhas esperanças. Agradeço-vos, meu Pai, que o enviastes à terra para se
sacrificar por mim! — Agradeço-vos também, ó Verbo encarnado, Cordeiro divino,
que vos oferecestes a morrer por minha alma! Amo-vos, meu caro Redentor, e não
quero amar senão a vós, pois que só vós oferecestes e sacrificastes a vossa
vida para salvar-me. Aflige-me o pensamento de que tenho sido reconhecido aos
outros e ingrato para convosco. Mas não quereis a minha morte; quereis que me
converta e viva: sim, meu Jesus, a vós me volto; arrependo-me de todo o coração
de vos haver ofendido, de ter ofendido um Deus que se sacrificou por mim Dai-me
a vida, e que minha vida consista em amar-vos soberano Bem; fazei que vos ame,
nada mais vos peço.
Maria, minha Mãe, foi
também por mim que oferecestes no templo o vosso adorável Filho; oferecei-o
hoje mais uma vez, e pedi ao eterno Pai me receba por amor de Jesus no número
de seus servos. E vós, minha Rainha, aceitai-me também por vosso servo perpétuo;
se for vosso servo, serei também servo de Jesus.
(Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo – Santo Afonso
Maria de Ligório)
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