SOBRE A FUGA DE JESUS AO EGITO.
Um
anjo aparece em sonho a S. José, e avisa-o que Herodes procura o Menino Jesus
para tirar-lhe a vida: Levantei-vos, diz-lhe, tomai o Menino e sua Mãe, e fugi
para o Egito. Apenas nascido é Jesus perseguido de morte! Herodes é a figura
dos infelizes pecadores que, mal Jesus entrou em seu coração pela absolvição,
se põem logo a persegui-lo, a fazê-lo morrer pelo pecado: como aquele príncipe
iníquo, atentam contra a vida de Jesus recém-nascido.
José
obedece sem delongas à voz do anjo, e avisa sua santa Esposa. Toma as
ferramentas que pode levar, a fim de encontrar no exercício de sua profissão o
meio de sustentar sua pobre família no Egito. Maria, de seu lado, ajunta e toma
consigo os paninhos necessários ao divino Infante; depois, aproximando-se do
berço em que Ele repousa, lança-se de joelhos, beija os pés de seu Filho
querido, e enternecida lhe diz em prantos: Meu Filho e meu Deus, viestes ao
mundo para salvar os homens; acabais de nascer, e já os homens vos procuram
para vos dar a morte! — Toma-o em seus braços, fecham a porta e se põem a
caminho naquela mesma noite. Consideremos a preocupação dos dois santos
viajantes durante o caminho. O seu caro Jesus é o objeto de todos os seus
entretenimentos: falando da sua paciência e amor, adoçam as fadigas e os enfados
do longo trajeto. Oh! Como é doce sofrer à vista de Jesus padecente! — Ó minha
alma, exclama S. Boaventura, acompanha em espírito esses três santos e pobres
exilados, compadece-te das penas que sofrem em viagem tão fatigante, incômoda e
longa, e pede a Maria te confie o seu divino Filho para o levares em teu
coração.
Consideremos
ainda quanto eles tiveram de sofrer sobretudo nas noites frias que tinham de
passar no meio do deserto. A terra numa lhes serve de leite ao relento; o
Menino Jesus chora, Maria e José choram também de compaixão. — Ó santa fé! que
olhos não chorariam vendo o Filho de Deus sob a forma duma criancinha, que,
pobre e abandonada, foge para o Egito pelo deserto a fim de escapar à morte?
Afetos e Súplicas.
Meu caro Jesus, sois o Rei
do céu, e vejo-vos, criancinha e fugitivo, errar sobre a terra; dizei-me a quem
procurais. Vossa indigência e rebaixamento excitam minha compaixão; porém mais
comovido ainda estou vendo-vos tratado com tanta ingratidão pelos homens que
viestes salvar. Vós chorais e eu também choro por haver sido um daqueles que
vos desprezaram e perseguiram; mas, eu o protesto, agora prefiro a vossa graça
a todos os reinos do mundo. Meu Jesus, perdoai-me todos os ultrajes, e como
Maria vos levou em seus braços na fugida para o Egito, permiti vos leve também
no fundo do meu coração na viagem desta vida à eternidade. Meu amado Redentor,
muitas vezes vos tenho banido de minha alma; mas espero tenhais agora tomado
posse dela: por favor, prendei-a estreitamente a vós pelas doces cadeias do
vosso amor. Estou resolvido a me não afastar mais de vós. Mas que sei eu?
talvez vos torne a abandonar como o fiz no passado. Ah! meu Salvador, fazei-me
antes morrer do que cair nessa nova e horrível ingratidão! Amo-vos, bondade
infinita, e quero repetir sem cessar: Amo-vos, amo-vos, amo-vos. — E repetindo
sempre a mesma coisa, espero morrer repetindo-a ainda. Vós sois o Deus do meu
coração e a minha partilha para sempre. Ó meu Jesus, sois tão bom, tão digno de
ser amado, fazei-vos pois amar; fazei-vos amar por tantos pecadores que vos
perseguem; aclarai-os, fazei-os conhecer o amor que lhe tendes e o amor que
mereceis, vós que, pobre criancinha, exilado, chorando, tremendo de frio,
errais sobre a terra procurando almas que queiram amar-vos.
Ó Maria, Virgem santíssima,
ó terníssima Mãe que partilhais os sofrimentos de Jesus, ajudai-me a levar e a
conservar sempre no coração o vosso divino Filho durante a vida e na morte.
(Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo – Santo Afonso
Maria de Ligório)
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