sábado, 11 de janeiro de 2014

Meditações para o tempo da Epifania (V)



SOBRE A VOLTA DE JESUS À PALESTINA

 
Tendo Herodes falecido, depois que Jesus passou sete anos, segundo a opinião comum dos Doutores, no seu exílio no Egito, o anjo apareceu de novo a S. José, e ordenou tomasse o divino Infante e sua Mãe e voltasse à Palestina. Consolado com esse aviso, José o participa a Maria. Antes de partirem esses dois esposos julgam de seu dever despedir-se dos amigos que se fizeram no país em que se demoraram. Em seguida munem-se ainda, José das poucas ferramentas, Maria dos pobres apetrechos da família, e dando a mão ao Menino Jesus, que colocam no meio, põem-se a caminho.
S. Boaventura considera que a volta foi mais fatigante para Jesus do que a fugida para o Egito: Ele crescera, Maria e José não podiam mais carregá-lo muito tempo em seus braços; doutro lado, nessa idade, Ele não era capaz de fazer a pé longas jornadas; o cansaço, obrigava-o pois a fazer paradas frequentes. Mas José e Maria, seja de caminho, seja no repouso, não tiravam os olhos do adorável Menino, que era o objeto de todos os seus pensamentos e de todo o seu amor. Oh! com quanto recolhimento percorre o caminho da vida e alma feliz que não perde de vista o amor e os exemplos de Jesus Cristo!

Durante a jornada os nossos piedosos viajantes rompem de vez em quando o silêncio e se entregam a um santo entretenimento; mas com quem e de quem falam? só falam com Jesus e de Jesus. Quem leva a Jesus em seu coração, não fala senão com Jesus ou não fala senão de Jesus.

Consideremos ainda a pena que, na viagem, nosso Salvador teve de sofrer durante as noites: já não tinha por leito, como na ida, o seio de Maria, mas a terra nua; já não tinha por alimento o leite materno, mas um pouco de pão seco, alimento bem duro para a sua tenra idade. Padeceu ainda a sede naquele deserto em que os hebreus, faltando-lhes a água, precisaram dum milagre para se dessedentar. Contemplemos e adoremos com amor todos os sofrimentos de Jesus Menino.


Afetos e Súplicas.

Caro e adorável Menino, dizei-me para onde voltais; para a vossa pátria? Ó dor! os vossos concidadãos preparam-vos desprezos para a vossa vida, e depois flagelos, espinhos, ignomínias e uma cruz, para a vossa morte. Tudo isso está presente aos olhos de vossa divindade, meu Jesus, e correis à paixão que os homens vos prepararam! Ah! meu Redentor, se não tivésseis vindo morrer por mim, eu não poderia ir amar-vos no paraíso, teria de ficar para sempre afastado de vós. A vossa morte foi a minha salvação. Mas, Senhor, como pude desprezar vossa graça e pronunciar contra mim uma nova condenação ao inferno, mesmo depois de libertado dele por vossa morte? Reconheço, um inferno é pouco para mim. Mas esperastes-me para me dar o perdão, ó meu Salvador, agradeço-vos e penetrado de arrependimento detesto todos os desgostos que vos causei. Por favor, Senhor, livrai-me do inferno! Ah! se tivesse a desgraça de condenar-me, que inferno mais horrível do que o próprio inferno, seria para mim o remorso de me haver perdido depois de ter meditado durante a vida o amor que me tivestes! Não, meu Jesus, não seria tanto o fogo eterno, mas muito mais a lembrança do vosso amor, que seria o meu inferno. Ah! viestes ao mundo acender o fogo de vosso santo amor; é nesse fogo que eu quero arder, e não no que me conservaria para sempre afastado de vós. Repito-o, pois, ó meu Jesus, livrai-me do inferno, pois que no inferno vos não poderia amar!

Ó Maria, minha Mãe, ouço dizer e pregar em toda a parte que não vão para o inferno os que vos amam e confiam em vós, se se quiserem corrigir: amo-vos, Soberana minha, confio em vós, e quero corrigir-me; ó Maria, preservai-me do inferno.

(Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo – Santo Afonso Maria de Ligório)

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