sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O carnaval santificado e as divinas beneficências.






Fidem posside cum amico in paupertate illius, ut et in bonis illius laeteris ― "Guarda fé ao teu amigo na sua pobreza, para que também te alegres com ele nas suas riquezas" (Ecclus. 22, 28).

I. Por este amigo, a quem o Espírito Santo nos exorta a sermos fiéis no tempo da sua pobreza, podemos entender Jesus Cristo, que especialmente nestes dias de carnaval é deixado sozinho pelos homens ingratos e como que reduzido à extrema penúria. Se um só pecado, como dizem as Escrituras, já desonra a Deus, o injuria e o despreza, imagina quanto o divino Redentor deve ficar aflito neste tempo em que são cometidos milhares de pecados de toda a espécie, por toda a condição de pessoas, e quiçá por pessoas que Lhe estão consagradas. Jesus Cristo não é mais suscetível de dor; mas, se ainda pudesse sofrer, havia de morrer nestes dias desgraçados e havia de morrer tantas vezes quantas são as ofensas que lhe são feitas.

É por isso que os santos, afim de desagravarem o Senhor um pouco de tantos ultrajes, aplicavam-se no tempo de carnaval, de modo especial, ao recolhimento, à penitência, à oração, e multiplicavam os atos de amor, de adoração e de louvor para com o seu Bem-Amado. No tempo de carnaval Santa Maria Madalena de Pazzi passava as noites inteiras diante do Santíssimo Sacramento, oferecendo a Deus o sangue de Jesus Cristo pelos pobres pecadores. O Bem-aventurado Henrique Suso guardava um jejum rigoroso afim de expiar as intemperanças cometidas. São Carlos Borromeu castigava o seu corpo com disciplinas e penitências extraordinárias. São Filipe Néri convocava o povo para visitar com ele os santuários e exercícios de devoção. O mesmo praticava São Francisco de Sales, que, não contente com a vida mais recolhida que então levava, pregava ainda na igreja diante de um auditório numerosíssimo. Tendo conhecimento que algumas pessoas por ele dirigidas se relaxavam um pouco nos dias de carnaval, repreendia-as com brandura e exortava-as à comunhão freqüente.

Numa palavra, todos os santos, porque amaram a Jesus Cristo, esforçaram-se por santificar o mais possível o tempo de carnaval. Meu irmão, se amas também este Redentor amabilíssimo, imita os santos. Se não podes fazer mais, procura ao menos ficar, mais do que em outros tempos, na presença de Jesus sacramentado, ou bem recolhido em tua casa, aos pés de Jesus crucificado, para chorar as muitas ofensas que lhe são feitas.

II. Ut et in bonis illius laeteris ― "para que te alegres com ele nas suas riquezas". O meio para adquirires um tesouro imenso de méritos e obteres do céu as graças mais assinaladas, é seres fiel a Jesus Cristo em sua pobreza e fazeres-Lhe companhia neste tempo em que é mais abandonado pelo mundo: Fidem posside cum amico in paupertate illius, ut et in bonis illius laeteris. Oh, como Jesus agradece e retribui as orações e os obséquios que nestes dias de carnaval Lhe são oferecidos pelas almas suas prediletas!

Conta-se na vida de Santa Gertrudes que certa vez ela viu num êxtase o divino Redentor que ordenava ao Apóstolo São João escrevesse com letras de ouro os atos de virtude feitos por ela no carnaval, afim de a recompensar com graças especialíssimas. Foi exatamente neste mesmo tempo, enquanto Santa Catarina de Sena estava orando e chorando os pecados que se cometiam na quinta-feira gorda, que o Senhor a declarou sua esposa, em recompensa (como disse) dos obséquios praticados pela Santa no tempo de tantas ofensas.

Amabilíssimo Jesus, não é tanto para receber os vossos favores como para fazer coisa agradável ao vosso divino Coração, que quero nestes dias unir-me às almas que Vos amam, para Vos desagravar da ingratidão dos homens para convosco, ingratidão essa que foi também a minha, cada vez que pequei. Em compensação de cada ofensa que recebeis, quero oferecer-Vos todos os atos de virtude, todas as boas obras, que fizeram ou ainda farão todos os justos, que fez Maria Santíssima, que fizestes Vós mesmo, quando estáveis nesta terra. Entendo renovar esta minha intenção todas as vezes que nestes dias disser: + Meu Jesus, misericórdia (1). ― Ó grande Mãe de Deus e minha Mãe Maria, apresentai vós este humilde ato de desagravo a vosso divino Filho, e por amor de seu sacratíssimo Coração obtende para a Igreja sacerdotes zelosos, que convertam grande número de pecadores.

----------
1. Indulg. de 300 dias cada vez.

(Santo Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Primeiro: Desde o primeiro Domingo do Advento até Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 272-274.)

FONTE: São Pio V

As sete portas do inferno: Sexta porta.



SEXTA PORTA: O PROTESTANTISMO


O protestantismo é inimigo jurado da nossa Santa Religião. Nega os dogmas mais santos: o Santo Sacrifício da Missa, a Confissão, a Comunhão, a maior parte dos sacramentos, a existência do purgatório, a instituição Divina da Igreja, a autoridade do Papa, a legitimidade do culto dos santos. Neste particular vai até a caluniar aos católicos, dizendo que adoram os santos, as imagens. Não, mil vezes não! Não adoramos os santos. Adoramos só a Deus. 

Quanto aos santos, nós os honramos, pedimos sua proteção junto de Deus. Honramos as imagens como sendo os retratos dos santos. Que mal haverá nisso? Não podemos honrar o retrato de um pai, de uma mãe, de um benfeitor, colocá-lo em nossa sala, no lugar de honra? Se Deus, outrora, proibiu aos judeus que tivessem imagens, é porque os judeus habitavam no meio de idólatras e estavam expostos a cair na idolatria. Foi uma medida disciplinar e passageira. Aliás, o mesmo Deus deu ordem a Moisés que adornasse a arca com imagens de anjos. Se os protestantes não têm outra coisa que nos exprobrar, calem-se; esta acusação cobre-os de ridículo.

É inegável a existência do perigo protestante no Brasil.

Não se deve, porém, temer exageradamente o protestantismo porque ele tem contra si a promessa feita por Cristo à sua Igreja e porque de sua natureza tende a se desagregar, dividir e multiplicar-se. Todas as tentativas de união serão sempre uma paródia da verdadeira união de fé. Ademais o Brasil nasceu, cresceu e vive ainda sob o bafejo santo da Igreja Católica e não quer ser ingrato às bênçãos celestes, simbolizadas pela constelação bendita do Cruzeiro do Sul. Não se deve, portanto, exagerar o perigo protestante.

Mas, doutra parte, não deve ser desprezado ou descurado.

A fé, na verdade, foi prometida à Igreja e não às nações; estas, como os indivíduos, a podem perder; e não padece dúvida que o protestantismo é um sério perigo que poderá ser grave se não se empregarem os remédios aptos e convenientes.

Não se devem desprezar os protestantes, porque são nossos irmãos transviados e cegos. Nem é tática bélica desprezar o inimigo, ainda que aparente fraquezas.

Se não se deve exagerar nem diminuir o perigo, é preciso considerá-lo em seu justo limite.

Daí a necessidade de um estudo leal e ponderado sobre as forças e elementos do protestantismo no Brasil. Quanto maior for o estudo, tanto melhor será o combate.
Devemos combater os protestantes:

Com grande caridade, muita paciência e ardente zelo pela sua conversão; com constante e sólida instrução, do povo nas verdades reveladas; com a prática das virtudes cristãs e com a frequência dos sacramentos; advertindo os fiéis dos enganos; dando bom exemplo; com o sacrifício e orações fervorosas para que todos sejam uma só coisa (Jo 17, 22).

O protestantismo foi fundado por Lutero. Quem era Lutero? Um frade que, depois de passar muitos anos no convento, deixou a vida religiosa, deixou seu hábito e... casou. Com quem? Com uma freira, chamada Catarina, que ele mesmo tirou do convento. Lutero viveu e morreu na crápula, na orgia, no escândalo. Julgai se Deus pode suscitar semelhante apóstolo para reformar a Igreja ou fundar uma nova religião. 
Não discutamos com protestantes, não vamos ao seu culto, nem por curiosidade. Não leiamos suas bíblias, seus folhetos. É pecado mortal ter consigo uma bíblia protestante. Tudo isso expõe nossa fé a naufragar.


(O Pequeno Missionário - Manual de Instruções, Orações e Cânticos coordenado pelo Pe. Guilherme Vaessen, Missionário da Congregação da Missão - 6ª. Edição, Editora Vozes, 1953).

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

27 de fevereiro: São Gabriel de Nossa Senhora das Dores.




São Gabriel de Nossa Senhora das Dores, a quem Leão XIII chamava o São Luiz Gonzaga de nossos dias, nasceu em Assis a 1 de março de 1838, filho de Sante Possenti di Terni e Inês Frisciotti. No mesmo dia que viu a luz do mundo, recebeu a graça do batismo, na mesma pia, em que foi batizado o grande patriarca S. Francisco, na Igreja de S. Rufino. O pai do Santo, já com vinte e dois anos era governador da cidade de Urbânia, cargo que sucessivamente veio a ocupar em S. Ginésio, Corinaldo, Cingoli e Assis. Como um dos magistrados dos Estados Pontifícios, gozava de grande estima do Papa Pio IX e Leão XIII honrava-o com sua sincera amizade. A mãe era de nobre família de Civitanova d’Ancona. Estes dois cônjuges apresentavam modelos de esposos cristãos, vivendo no santo temor de Deus, unidos no vínculo de respeito e amor fidelíssimo, que só a morte era capaz de solver. Deus abençoou esta santa união com treze filhos, dos quais Gabriel era o undécimo. Este, no batismo recebeu nome de Francisco, em homenagem a seu avô e ao Seráfico de Assis. Dando testemunho da educação que recebiam na família, no Processo da beatificação do Servo de Deus, os seus irmãos declararam: “Nós fomos educados com o máximo cuidado, no que diz respeito à piedade e à instrução. Nossa mãe era piedosíssima e nos educou segundo as máximas da nossa santa Religião”. Nos braços, sobre os joelhos de uma mãe profundamente religiosa o pequeno Francisco aprendeu os rudimentos da vida cristã e pronunciar os santos nomes de Jesus e Maria.

A grande felicidade que na infância reinava, experimentou um grande abalo, quando inesperadamente o anjo da morte veio visitar aquele lar e arrebatar-lhe a mãe. D. Inês sentindo a última hora se aproximar, na compreensão do seu dever de mãe cristã reuniu todos os filhos à cabeceira do leito mortal, estreitou-os, um por um, ao seu coração, selou a sua fronte com o último beijo, deu-lhes a bênção, distinguindo com mais carinho os de tenra idade, entre estes, Francisco; munida de todos os sacramentos, confortada pela graça de Deus, na idade de 38 anos deixou este mundo, para, na eternidade, perto de Deus, receber o prêmio de suas raras virtudes. Do pai, o próprio filho Francisco ao seu diretor espiritual deu o seguinte testemunho: Meu pai, declarou, tinha por costume levantar-se bem cedo. Dedicava uma hora à oração e meditação; se neste tempo alguém desejava falar-lhe, havia de esperar pelo fim das práticas religiosas. Terminadas estas, ia à igreja assistir a santa Missa e costumava levar consigo dos filhos os que não fossem impedidos. Finda a santa Missa metia-se ao trabalho. À noite reunia seus filhos e dava-lhes sábios conselhos e úteis exortações. Falava-lhes dos deveres para com Deus, do respeito devido à autoridade paternal e do perigo das más companhias. “Os maus companheiros, dizia ele, são os assassinos da juventude, os satélites de Lúcifer, traidores escondidos e por isso para os temer e deles ter cuidado”. 

Os biógrafos de Francisco fazem ressaltar em primeiro lugar a extraordinária bondade de coração do menino, principalmente para com os pobres. Muitas vezes ficou ele sem a merenda, por tê-la dado aos pobres. Entre seus irmãos era ele o anjo da paz, sempre pronto para desculpar e para defendê-los, quando acusados injustamente. Não suportava a injúria, fosse ela atirada a si ou a um dos seus. Com a maior facilidade se desfazia de objetos de certo valor, com que tinha sido homenageado. Assim presenteou a um de seus irmãos de uma bela corrente de prata, que tinha recebido de um parente. Estes belos traços no caráter de Francisco não afastam certas sombras que nele subsistiam também. Os que o conheciam meigo, bondoso, compassivo, sabiam-no também ser nervoso, impaciente, irascível. Por felicidade sua o senhor Sante, seu pai não era daqueles que desculpam os caprichos de seus filhos, pretextando serem crianças, sem pensar que mais tarde terão de pagar bem caro esta condescendência e fraqueza. O verdadeiro amor cristão fê-lo combater sem tréguas todos os defeitos. 
 Francisco era obediente e tinha grande respeito ao pai, o que aliás não impedia que diante de uma severa repreensão desse largas ao seu gênio impulsivo, com palavras e gestos demonstrando o seu descontentamento, sua raiva. Mas tudo isto era fogo fátuo. Logo voltava às boas; sua boa índole não permitia, que estas revoltas interiores durassem muito tempo. Era encantador ver, momentos depois, o menino desfeito em pranto, procurar o pai e por seus modos ingênuos e infantis, assegurar-se do perdão e do amor do Sr. Sante. Este, fingindo não dar crédito a estas demonstrações, retrucava bruscamente: “Nada de carícias; quero ver fatos”. Então o menino se atirava ao colo do pai, beijava-o e sentia-se feliz, em ter voltado à paz, com o perdão paterno. Nesta escola de sábia pedagogia Francisco cedo aprendeu combater e vencer seus defeitos. Por algum tempo Francisco ficou entregue aos cuidados de um mestre; depois freqüentou o colégio dos Irmãos das Escolas Cristãs, onde fez rápidos progressos, figurando sempre entre os melhores alunos. Na idade de sete anos fez a sua primeira confissão. Um ano depois, em junho de 1846 recebeu o sacramento da confirmação. Tudo isto prova que o menino já se achava bem instruído nas verdades da nossa fé, graças ao sólido ensino que lhe dispensavam os beneméritos Irmãos Sallistas.

As sete portas do inferno: Quinta porta.



QUINTA PORTA: A MÁ EDUCAÇÃO DOS FILHOS


Quantos pais se perdem e perdem a seus filhos porque não os educam no temor e amor de Deus, não cumprindo os cinco deveres principais que lhes impõe a paternidade, o amor, a correção, a instrução, a vigilância e o bom exemplo.

Maus pais que não amam os filhos como devem amá-los. Certos homens não merecem o belo título de pais. Desperdiçam no jogo, na bebida, na devassidão o dinheiro que ganham, deixando faltar aos filhos o estrito necessário. Pais monstruosos, piores que os irracionais, que sabem passar fome para dar de comer a seus filhos. Há mães que amam aos filhos, mas só a parte material, o corpo. Quanto à alma, pouco ou nada se ocupam dela. Adiam o batismo semanas e meses, deixando o filho entregue a Satanás e em perigo de morrer pagão. Quantas almas perdidas e quantas outras estragadas para sempre. Quanto mais Satanás se demora no coração do filho, mais o estraga. Toda a preocupação, todos os cuidados para com o corpo, até o luxo, até as modas mais indecentes, e quase nada para a alma.

Que será daquela filha a quem a mãe procura inspirar só vaidade, a quem fala só de beleza, a quem enfeita como uma divindade? Será uma moça vaidosa, orgulhosa. Ai do moço que a tomar por esposa, porque será uma esposa leviana, exigente, cuja paixão do luxo nada poderá satisfazer. Será daqui a pouco a desavença, a suspeita, a briga, o abandono, a ruína do lar.

Quantos pais, quantas mães mormente perdem a si mesmos porque não cumprem o dever da correção. O homem nasce inclinado ao vício, diz a Escritura. No coração da criança madrugam os maus instintos. Bem cedo é preciso reprimi-los, corrigir os filhos, dai a pouco será tarde, impossível.

Como corrigir? A força de gritos e descomposturas? Isso só serve para ensinar tudo quanto há de palavras feias. A força de pancadas? Isso avilta e embrutece. Em primeiro lugar é preciso avisar: — “Meu filho, não faças isso, não andes em tal companhia, não convém, não pode ser,  não consinto.” — Às vezes este aviso será suficiente. Em caso de reincidência na mesma falta, é necessário repreender energicamente e ameaçar e, enfim, no caso de nova reincidência, castigar severamente.

Até quando os pais têm obrigação de corrigir os filhos? Não se esqueçam que, enquanto filhos, não há grandes, nem velhos, não há filhos de barba branca. O filho, enquanto tiver filho, sempre será pai, e ai do pai que não avisa, repreende e corrige seu filho, e ai do filho que não atende às justas recomendações de seu pai.

Cedo também deve começar a instrução, porque tudo depende do começo, tudo depende, pois, principalmente, da mãe. Feliz, mil vezes feliz quem teve uma mãe cristã e piedosa. Tal a mãe de S. Luís, rei da França. Tendo nos braços seu filhinho, dizia: “Meu filho, eu te amo muito, mas tu tens no céu um Pai, uma Mãe que te amam ainda mais; cuidado, não faças nada que possa ofendê-los, não cometas pecado. Antes quisera ver-te agora mesmo morrer em meus braços, que ver-te mais tarde, rei da França, cometer um só pecado mortal.” Mãe, o coração dessa criança, vosso filho, é um papel branco em que podeis escrever o que quiserdes. Gravai nele ódio ao pecado, amor a Deus, devoção a Maria Santíssima.

Ensinai e mandai ensinar-lhe o catecismo. É uma obrigação gravíssima. A mãe que não manda seu filho ao catecismo, onde é possível, é indigna de absolvição. Meninos e meninas de dez, doze anos, moços e moças que nunca apreenderam uma palavra de catecismo, nada sabem de religião e de suas obrigações, e por isso não se confessam, não comungam, vivem no pecado, é o que encontramos todos os dias. Os culpados são os pais. Quantas moças põem o pé no inferno no dia em que casam, porque assumem uma obrigação que são incapazes de cumprir, ensinar aos filhos a amarem e servirem a Deus. Que responsabilidade e como poderão salvar-se? Perdem a si e a seus filhos.
Mandai vossos filhos à escola, para que aprendam pelo menos a ler e escrever. Depois do pecado a coisa mais triste e funesta é a ignorância. Mas, cuidado! Vede bem que escola, que colégio, que mestres. Há escolas e colégios sem religião. Dali sairão vossos filhos sem fé e sem costumes. Não faltam as escolas e os colégios católicos. Vigilância neste ponto.

Vigilância em todos os sentidos. O maior bem que os pais possam deixar a seus filhos não são muitas riquezas, terras, dinheiro, mas a inocência e os bons costumes. Por isso seu grande empenho deve ser conservar-lhes este tesouro. Tarefa difícil em um mundo em que tudo é escândalo. Só uma grande vigilância. Os pais devem trazer os filhos presos debaixo de seus olhos. Sem esta sentinela de vista não escapam à corrupção. Vigilância, pais e mães, que vossos filhos não vejam nunca nada, nem em casa nem fora de casa, nem de dia nem de noite, nada capaz de ofender a inocência. Mas quantos pais, diz um santo, têm mais cuidado com seus animais, suas criações, que com seus filhos! Quantos pais deixam seus filhos andarem aonde e com quem querem, quantas mães deixam meninos e meninas brincarem longe de seus olhos. Quantas crianças saem de casa inocentes e voltam culpados; quantos moços e moças acham sua perdição em noites de festas, de volta por estradas escuras e desertas! Quantos desastres! Pais e mães, onde andam vossos filhos e filhas, que casa, que pessoas, que divertimentos frequentam? Examinai vossa consciência, condenai-vos, antes que Deus a examine e vos condene.

Se é um grande pecado dos pais não afastarem os filhos do pecado, é um crime enorme levá-los ao pecado pelo mau exemplo. Tal pai, tal filho; tal mãe, tal filha. Filho de peixe sabe nadar, diz o adágio. Nada mais eficazmente funesto que o mau exemplo dos pais. Os pais não rezam, o pai não se confessa, a mãe não vai à Missa aos domingos, os filhos hão de fatalmente imitar seu procedimento. Por que rezar? — disse um dia uma menina à sua professora — eu nunca vejo papai nem mamãe rezarem. Que dizer dos pais que oferecem aos filhos o espetáculo positivo do vício e do pecado, pais que se embriagam, brigam, blasfemam; certas mães cuja vida é o pecado... os filhos o sabem e se envergonham, o que não os impedirá de, mais tarde, trilharem o mesmo caminho.
“Ai do homem, disse Jesus Cristo, que dá escândalo, isso é, dá mau exemplo”; por conseguinte, mil vezes ai dos pais que escandalizam seus filhos: “seria melhor lhes amarrar ao pescoço uma pedra e serem lançados ao mar.”

“Maldito seja meu pai, disse um condenado à morte, à hora de subir ao cadafalso, a ele é que devo a minha desgraça; nunca me ensinou meus deveres para com Deus e os homens, deixou-me frequentar más companhias, deu-me em tudo o mau exemplo.” Faz horror pensar que no inferno muitos filhos amaldiçoam aos pais e muitos pais aos filhos, porque foram uns para outros causadores de sua condenação.

Pais e mães, amai a vossos filhos com amor cristão, educai-os no amor e temor de Deus, afastai-os do mal e dai-lhes em tudo o bom exemplo, e vossos filhos vos darão gosto, neste mundo serão vossa consolação e no outro vossa coroa.


(O Pequeno Missionário - Manual de Instruções, Orações e Cânticos coordenado pelo Pe. Guilherme Vaessen, Missionário da Congregação da Missão - 6a. Edição, Editora Vozes, 1953).