quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Pensamentos de Santa Terezinha - Mês de Novembro





1.      Oh! O Céu! O Céu! Sim, quanto suspiro por ele para ver a Face de Jesus e contemplar eternamente a Sua maravilhosa beleza; mas enquanto espero desejo sofre muito e ser desprezada nesta terra.

2.      Não, não posso temer o purgatório, pois sei que o fogo do amor é mais santificador; sei que Jesus não pode querer sofrimentos inúteis e que não me havia de inspirar os desejos que me abrasam se os não quisesse realizar.

3.      Não esqueçamos que Jesus é um tesouro escondido: poucas almas sabem descobri-Lo, pois geralmente ama-se só o que brilha. Para acharmos uma coisa oculta é preciso que nos ocultemos também, que a nossa vida seja um mistério...

4.      Não quero mais nada senão o esquecimento... Não aspiro aos desprezos, às injúrias, tudo isso seria demasiadamente glorioso para o grão de areia, pois se alguém desprezasse um grão de areia seria sinal de que o via e pensava nele.

5.      Quando nos sentimos totalmente miseráveis, não nos queremos mais considerar, olhamos somente para o nosso único Amado.

6.      Não imaginemos encontrar o amor sem sofrimentos; a nossa natureza está viva e não é em vão que está viva; mas que tesouros nos faz adquirir. É ela a nossa riqueza, nosso meios de subsistência.

7.      Sim, a felicidade encontro-a na dor sem mistura de consolação.

8.      É preciso lutar para vencer: É cedo para as palmas e coroas, Cumpre nos campos da honra merecer.

9.      Sou uma pobre bolinha crivada de picadas de alfinetes, e já não agüento mais. É verdade que os furos são bem pequenos, mas sofro mais assim do que com um maior, feito de uma só vez. Oh! A bolinha treme! No entanto, sinto-me feliz, feliz de sofrer tudo que Jesus permite...

10. Viver de amor. Não é neste degredo. Fixar-se no Tabor; é com Jesus. Subir pelo calvário sem ter medo. E olhar como maior tesouro a Cruz. Hei de viver, de gozar lá no Império. Então terá fugido a dor. Mas cá na terra quero em meu martírio. Viver de amor.

11. Nenhuma tribulação é demasiada para conquistar a palma.

12. Um dia sem sofrimento é para mim um dia perdido.

13. Que fez Jesus para desprender a nossa alma de todas a coisas criadas? Ah! Ele nos feriu profundamente, mas foi um golpe de amor... Deus é admirável, mas, sobretudo, Ele é amável.

14. É uma grande provação ver tudo negro; mas isso não depende de nós inteiramente; fazei o que puderdes para desapegar o vosso coração das preocupações terrenas e, sobretudo, das criaturas, e ficai certas que Jesus fará o resto.

15. Quão poucas são as almas que nenhuma ação fazem com negligência e imperfeição! Como são raras as que fazem tudo do melhor modo possível!

16. Li outrora que os Israelitas, quando construíram o muro de Jerusalém, trabalharam com uma das mãos, tendo na outra a espada. É a perfeita imagem do que devemos fazer. Trabalhar apenas com uma das mãos, e com a outra defender a nossa alma da dissipação que a impede de unir-se a Deus.

17.  Deus faz-se representar por quem lhe apraz, essa escolha não tem importância. Sim, eu sei já me persuadi que Deus não precisa de ninguém, muito menos de mim, para fazer bem à terra.

18.  Muitas vezes as belas palavras que se escrevem e as belas palavras que se recebem são apenas troca de moeda falsa.

19. Ah! Que veneno feito de louvores é ofertado diariamente àqueles que ocupam os primeiros lugares! Que funesto incenso. E quanto deve está desprendida de tudo a alma para não experimentar com isso o prejuízo!

20. Oh! É bem grande a minha dor! Sou, porém, a bolinha do Menino Jesus: se Lhe apraz quebrar o Seu brinquedo, pode fazê-Lo, é livre; sim, não quero senão o que Ele quer.

21. Com as almas que dirigimos, devemos ser verdadeiros e dizer o que pensamos, assim procede sempre; se não sou estimada, pouco importa, não é a estima que procuro. Não venham ter comigo, se não querem ouvir a verdade por completo.

22.  Não posso pensar na querida Santa Cecília, sem sentir-me encantada! Que modelo! No meio de um mundo pagão, no meio do perigo, no momento em que tinha de se unir a um mortal que não respira senão amor profano parece-me que ela deveria temer e chorar. Mas não, enquanto os instrumentos de alegria celebravam as núpcias, Cecília cantava em seu coração. Que abandono!

23. Deus fez-me a graça de não ter nenhum medo à guerra; custe o que custar, é preciso que cumpra o meu dever. Mas o que sobretudo me custa, é observar as faltas, as mais leves imperfeições e fazer-lhes guerra de morte. Preferia receber mil.

24.  Na direção das almas não devemos deixar correr as coisas com o fim de conservar o nosso repouso; combatamos sem trégua, ainda mesmo sem esperança de ganhar a batalha. Que importa o sucesso! Se encontrarmos uma alma de natural, difícil não digamos: Aqui nada há a fazer!... Não tem compreensão!... é melhor deixá-la... não posso mais.... Oh! É covardia falar deste modo, é preciso cumprir o dever até o fim.

25. É unicamente pela oração e pelo sacrifício que podemos ser úteis à Igreja.

26. É absolutamente indispensável na direção das almas, prescindir do próprio gosto, das idéias pessoais, e guiá-las não pela vereda que se segue, não pelo próprio caminho, mas pela senda especial que lhes traça Jesus.

27.  Meu gozo, minha dor, meus leves sacrifícios. Eis minha flores.

28. Quando formos mal compreendidos e julgados desfavoravelmente, de que servirá nos defendermos e entrarmos em explicações? Deixemos passar tudo, não digamos: é tão doce o deixar-se julgar, pouco importa como! O silêncio bem-aventurado, que tanta paz dá a alma.

29.  Faz-nos tanto bem, e dá-nos tanta força calar nossas penas!

30. Jesus desejo que a salvação das almas dependa de nossos sacrifícios de nosso amor.

A Imitação de Cristo - Tomas de Kempis - Livro III - Capítulo XLVI


A IMITAÇÃO DE CRISTO - TOMAS DE KEMPIS



LIVRO TERCEIRO
CAPÍTULO 46

Da confiança que havemos de ter em Deus quando se nos dizem palavras afrontosas

1. Jesus: Filho conserva-te firme e espera em mim, pois palavras são palavras; ferem os ares, mas não quebram a pedra. Se és culpado, trata logo de emendar-te; se a consciência de nada de acusa, faze o propósito de sofrer isso de boa vontade, por amor de Deus. Não é muito sofreres, às vezes, más palavras, já que me não podes ainda suportar mais pesados golpes. E por que razão te ferem tão leves coisas senão porque és ainda carnal e fazes ainda mais caso dos homens do que convém? Temes ser desprezado, e por isso não queres ser repreendido de tuas faltas e procuras defender-te com desculpas.

2. Mas examina-te melhor e verá que vive ainda em ti o mundo e o vão desejo de agradar aos homens. Pois, já que foges de ser abatido e confundido por causa dos teus defeitos, mostras claramente que não és verdadeiramente humilde, nem inteiramente morto ao mundo, e que o mundo não está de todo crucificado para ti (Gál 6,14). Mas ouve a minha palavra e não farás caso de dez mil palavras humanas. Mesmo que dissessem contra ti quanto pode inventar a mais negra malícia, que mal te faria, se o deixasses passar, não fazendo mais caso daquilo que duma palha? Porventura poderia arrancar-te um só cabelo?

3. Mas quem não domina o coração, nem tem a Deus, diante dos olhos, facilmente fica aborrecido com uma palavra de repreensão. Aquele, porém, que confia em mim, e não se aferra à sua própria opinião, viverá sem temor dos homens. Eu sou o juiz e conheço todos os segredos, sei como se passou tudo, quem fez a injúria e quem a sofre. De mim saiu esta palavra, por minha permissão te sucedeu isso, "para que fossem revelados os pensamentos de muitos corações" (Lc 2,35). Julgarei o culpado e o inocente: primeiro, porém, quis provar ambos por oculto juízo.

4. Engana, muitas vezes, o testemunho dos homens; meu juízo é verdadeiro e não será revogado. As mais das vezes é oculto e poucos lhe conhecem todas as particularidades, mas nunca erra, nem pode errar, posto que pareça menos reto aos olhos dos néscios. A mim, pois, deves recorrer em todo juízo e não te ater ao teu próprio parecer. Pois o justo não se perturbará, seja o que for que lhe suceda, por permissão de Deus. Não se afligirá com as palavras que contra ele disserem injustamente. Mas também não se encherá de vã alegria, quando outros o justificarem com razões. Ele pondera que "eu sou o perscrutador dos corações e dos rins" (Sl 7,10), e não julgo segundo o exterior e as aparências humanas. Porque muitas vezes é culpável a meus olhos o que é tido por louvável na opinião dos homens.

5. A alma: Senhor, "Deus, juiz justo, forte e paciente" (Sl 7,12), que conheceis a fraqueza e malícia dos homens, sede minha fortaleza e toda a minha confiança, porque não me basta a consciência da própria força. Vós sabeis o que eu não sei, por isso devia ter recebido qualquer repreensão com humildade e mansidão. Perdoai-me, portanto, por todas as vezes que assim o não o fiz, e dai-me de novo mais graça para sofrer. Portanto, mais valiosa me é vossa abundante misericórdia para alcançar o perdão dos pecados do que minha pretensa justiça em defesa do que está oculto na consciência. E mesmo que ela de nada me acuse, nem por isso sou justificado; porque sem a vossa misericórdia "nenhum vivente haverá justo a vossos olhos" (Sl 142,2).

Um leigo pode batizar?




Parece que um leigo não pode batizar.
 
1. — Pois, batizar, como se disse, propria­mente pertence à ordem sacerdotal. Ora, o pró­prio à ordem não pode ser cometido a quem não na tem. Logo, parece que o leigo, não tendo ordem, não pode batizar.
 
2. Demais. — É mais batizar que exercer os outros sacramentais do batismo, como catequi­zar, exorcizar e benzer a água batismal. Ora, estas coisas não podem ser feitas pelos leigos, mas só pelos sacerdotes. Logo e com maior ra­zão, parece que os leigos não podem batizar.
 
3. Demais. — Assim como o batismo é necessário à salvação, assim também a penitência. Ora, o leigo não pode absolver no foro da peni­tência. Logo, também não pode batizar.
 
MAS, EM CONTRÁRIO, Gelásio Papa e Isidoro dizem: Batizar, em necessidade iminente, é muitas vezes permitido aos leigos cristãos.
 
SOLUÇÃO. — A misericórdia daquele que quer que todos os homens se salvem pertence dar fácil remédio em matéria necessária para a salvação. Ora, dentre todos os sacramentos, o mais ne­cessário à salvação é o batismo, pelo qual renas­cemos para a vida espiritual. Pois, as crianças não podem de outro modo salvar-se; e aos adul­tos não é possível, por um meio diferente do ba­tismo, conseguir o perdão completo, quanto à culpa e quanto à pena. Por onde a fim de não nos vir a faltar um remédio tão necessário, foi instituído que a água, a matéria do batismo fosse comum, de modo que esteja ao alcance de qualquer; e também qualquer o seu ministro, ainda que não ordenado, a fim de não correr­mos o risco de não alcançarmos a nossa salvação.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — ­Batizar pertence à ordem sacerdotal segundo, uma certa, conveniência e solenidade, que porém não é de necessidade para o sacramento. Por­tanto, se um leigo batizar, mas não em artigo de necessidade, certamente peca, contudo confere o sacramento; nem deve ser rebatizado quem ele batizou.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — Esses sacramentais do batismo pertencem-lhe à solenidade, mas não à essência dele. Por isso não devem nem podem ser conferidos por um leigo, mas só pelo sacer­dote, que tem o poder de batizar solenemente.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — Como dissemos a penitência não é de tanta necessidade como o batismo; pois, a contrição pode suprir a falta de absolvição sacerdotal, que não isenta total­mente da pena, nem pode ser dada às crianças. Logo não é o mesmo caso do batismo, cujo efeito não pode ser suprido de nenhum outro modo.
 
(Suma Teológica, III part, quest.67, art. 3)

terça-feira, 30 de outubro de 2012

A Imitação de Cristo - Tomas de Kempis - Livro III - Capítulo XLV



A IMITAÇÃO DE CRISTO - TOMAS DE KEMPIS


LIVRO TERCEIRO
CAPÍTULO 45

Que se não deve dar crédito a todos, e quão facilmente faltamos nas palavras

1. Socorrei-nos, Senhor, na tribulação, porque é vão o auxílio humano (Sl 59,3). Oh! Quantas vezes procurei em vão fidelidade, onde cuidava que a havia! Ah! Quantas vezes a encontrei onde menos a esperava! Vã é, pois, a esperança que se põe nos homens; em vós, meu Deus, está a salvação dos justos. Bendito sejais, Senhor meu Deus, em tudo que nos sucede. Nós somos fracos e inconstantes, facilmente nos enganamos e mudamos.

2. Que haverá tão cauteloso e vigilante em todas as coisas, que alguma vez não caia em perturbação ou engano? Mas aquele que em vós, Senhor, confia, e vos procura de coração sincero, não cai tão facilmente. E se vier a cair em alguma tribulação, de qualquer sorte que esteja embaraçado nela, prontamente será por vós libertado ou consolado, porquanto não desamparais para sempre a quem em vós espera. Raro é o amigo fiel que persevera em todas as tribulações de seu amigo. Vós, Senhor, sois o único amigo fidelíssimo e não se acha outro igual.

 Oh! bem o soube aquela alma santa (Santa Águeda) que disse: "Meu coração está firmado e fundado em Cristo!" se  assim fora comigo, não me perturbaria tão facilmente o temor humano, nem me abalariam as flechas das más palavras. Quem pode prever tudo e precaver-se contra os males futuros? Se os males previstos já ferem tanto, quanto mais os imprevistos causarão feridas dolorosas! Mas por que motivo, sendo eu tão miserável, não me acautelei melhor? Por que tão facilmente dei créditos aos outros? Entretanto - somos homens e nada mais que homens fracos, ainda que muitos se julguem e chamem anjos. A quem hei de crer, Senhor? a quem senão a vós? Vós sois a verdade que não engana nem pode ser enganada. Ao passo que está escrito: "Todo homem é mentiroso (Sl 115,2), fraco, inconstante, inclinado a pecar, mormente em palavras, de sorte que mal se deve logo acreditar o que, à primeira vista, parece verdadeiro". 

3. Quão prudentemente nos aconselhastes que nos acautelássemos dos homens, e nos dissestes que "os inimigos do homem são os que com ele moram" (Mt 10,36), que não devemos dar crédito se alguém nos disser: Aqui está Cristo! Ou está acolá! À minha custa aprendi esta verdade, e queira Deus que me sirva de maior cautela e não para dar provas de maior insensatez! Toma cuidado, diz-me alguém, e guarda para ti o que te digo. E enquanto me calo e guardo segredo, não pode guardar silêncio aquele que me pediu segredo, senão logo descobre a si e a mim e lá se vai. De homens tais, palradores e desacautelados, livrai-me, Senhor, para que não caia em suas mãos nem cometa semelhantes faltas. Ponde em minha boca palavras sérias e sinceras, e apartai de mim o embuste da língua. A todo custo devo evitar o que não quero aturar dos outros.


4. Oh! Como é bom, para viver em paz, calar dos outros, não crer tudo indiferentemente, nem repeti-lo logo a outrem; abrir-se a poucos e buscar sempre a vós, o perscrutador do coração; não se mover com qualquer sopro de palavra, mas desejar que todas as coisas exteriores e interiores se façam conforme o beneplácito da vossa vontade. Que meio seguro para conservar a divina graça, fugir do que cai na vista dos homens, e não desejar o que possa granjear-nos a admiração dos homens, antes procurar, com toda solicitude, o que serve para emenda da vida e fervor da alma! A quantos prejudicou a virtude divulgada e prematuramente elogiada! Quanto proveito, porém, traz conservar a graça do silêncio, durante esta vida tão frágil, que não é mais que contínua tentação e peleja!

30 de Outubro - São Marcelo, Centurião e Mártir



São Marcelo (em latim: Marcellus) é um dos padroeiros de Leão, na Espanha. Ele foi um centurião da Legio VII Gemina que nasceu e viveu em Leão durante a segunda metade do século III.
O lugar onde vivia sua família se supõe próximo à muralha de Leão e à porta do poente, na via que hoje em dia é conhecida como Rua Ancha e que conserva uma capela denominada Capela do Cristo da Vitória, pela imagem de Cristo que está em seu interior.Marcelo foi casado com Santa Nonia, ou Nona, e teve doze filhos: Claudio, Lupercio, Victorio, Facundo, Primitivo, Emeterio, Celedonio, Servando, Germano, Fausto, Jenuario e Marcial.
A história diz que o motivo de sua martirização foi que, celebrando a festa pelo nascimento do imperador Maximiano em julho de 298, São Marcelo tornou pública sua crença cristã e sua única adoração ao Deus do Céu e da Terra, jogando ao chão seus atributos militares.
Por esse motivo, foi preso e enviado a Tânger para ser julgado pelo prefeito Agricola. Marcelo debateu a causa da sua fé com eloquência durante a audiência. O debate entre Marcellus e Aurelius e a ata do martírio de Marcelo é extensa.
Ele foi condenado a morte pela espada. O notário do julgamento, São Cassiano recusou-se a produzir uma ata do jeito que o imperador queria e foi também martirizado e morto.

São Marcelo, rogai por nós.

Fonte: As Escravas de Maria

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Últimas Horas de Santa Terezinha




Para terminarmos e mostrar como ela edificava todos os que a rodeavam até no último momento de sua vida, traduzimos aqui o relato do seu último dia na terra, numa quinta-feira do dia 30 de setembro de 1897, feito pela irmã Inês de Jesus:

“Durante a manhã eu (irmã Inês) a (Santa Terezinha) vigiava durante a Missa. Ela não me dizia nada. Ela estava esgotada, ofegante; seus sofrimentos, eu presumia, eram inexprimíveis. Num determinado momento, ela juntou as mãos e olhando à estátua da Virgem Maria disse:

- Oh! Eu rezei a ela com grande fervor! Mas é uma agonia pura, sem mistura alguma de consolação.

Eu lhe disse algumas palavras de compaixão e de afeição e acrescentava que ela tinha bem me edificado durante sua convalescência.

- E você, as consolações que tinha me dado! Ah! Como elas são enormes!
Durante todo o dia, sem um instante de trégua, ela permaneceu, podemos dizer sem exageros, sob verdadeiros tormentos. Ela parecia estar no fim de suas forças e, todavia, para nosso espanto, ela podia se mexer, se sentar no seu leito.

- …Veja, nos dizia ela, como tenho forças hoje! Não, eu não vou morrer! Eu ainda tenho forças por vários meses, talvez até mesmo vários anos!
E se o bom Deus o quisesse, diz a Nossa Madre, você o aceitaria?

Ela começou a responder, na sua agonia:

- Seria bem necessário…

Mas se corrigindo na mesma hora, ela diz com um tom de resignação sublime e caindo novamente sobre seu travesseiro:

- Eu quero com certeza!

Eu pude recolher essas exclamações, mas é bem difícil de transmitir o seu tom:

- Eu não creio mais na morte para mim… Eu creio apenas no sofrimento… melhor assim!

- Ó meu Deus!… Eu amo o bom Deus! O minha boa Virgem Maria, venha em meu socorro!

- Se isso é a agonia, o que é então a morte?!…

- Ah! Meu bom Deus!… Sim, ele é muito bom, eu o vejo muito bom…

E olhando para a Virgem Maria:

- Oh! A senhora sabe que estou me sufocando!

Para mim:

- Se você soubesse o que é se sufocar!

O bom Deus vai ajudá-la, minha pobrezinha, e terminará logo mais.

- Sim, mas quando?

- …Meu Deus, tenha piedade de vossa pobre menina! Tenha piedade!

Para Nossa Madre:

- Ó minha Madre, eu vos garanto que o cálice está cheio até a boca!…

- …Mas o bom Deus não vai me abandonar, certamente… …Ele nunca me abandonou.

- …Sim, meu Deus, tudo o que quiser, mas tenha piedade de mim!

- …Minhas irmãzinhas! Minhas irmãzinhas rezem por mim!

- …Meu Deus! Meu Deus! Vós que sois tão bom!!!

- …Oh! Sim, vós sois bom! Eu o sei…

Depois do ofício de Vésperas, Nossa Madre colocou sobre seus joelhos uma imagem de Nossa Senhora do Monte Carmelo. Ela olhou por um instante e disse o quanto Nossa Madre lhe tinha garantido que ela logo mais iria acariciar Nossa Senhora como também o Menino Jesus nessa imagem:

- Ó minha Madre, apresentai-me logo à Virgem Maria, eu sou um bebê que não agüenta mais! … Prepare-me para bem morrer.

Nossa Madre lhe respondeu que tendo sempre compreendido e praticado a humildade, sua preparação já estava feita. Ela refletiu por um instante e pronunciou humildemente essas palavras:

- Sim, me parece que nunca busquei outra coisa senão a verdade; sim, eu compreendi a humildade de coração… parece-me que sou humilde.

Ela repetiu ainda:

- Tudo o que escrevi sobre meus desejo de sofrimento. Oh! É bem verdadeiro!

- Eu não me arrependo de me ter entregado ao Amor.

Com insistência:

- Oh! Não, eu não me arrependo, muito pelo contrário!

Um pouco depois:

- Eu nunca teria crido que era possível sofrer tanto [nota: nunca aplicamos nela injeção alguma de morfina]! Nunca! Nunca! Eu não posso compreender tal coisa senão pelos desejos ardentes que tive de salvar as almas.

Por volta das 5 horas, eu estava sozinha perto dela. Seu rosto mudou de repente, compreendi que era a última agonia. Quando a Comunidade entrou na enfermaria, ela acolheu todas as irmãs com um doce sorriso. Ela segurava seu Crucifixo e o olhava constantemente. Durante mais de duas horas, a respiração rouca arranhava seu peito. Seu rosto estava congestionado, suas mãos roxas, ela tinha os pés congelados e tremia todos seus membros. Um suor abundante caia em gotas enormes sobre seu rosto e inundava suas bochechas. Ela estava sob uma opressão cada vez maior e lançava às vezes pequenos gritos involuntários para respirar. 

Durante esse tempo tão cheio de agonia para nós, escutávamos pela janela – e eu sofria bastante – o canto de vários pássaros, mas tão fortemente, de tão perto e durante tanto tempo! Eu rezava para o bom Deus de os fazer calar, esse concerto me perfurava o coração e tinha medo que ele cansasse nossa Terezinha.

Durante outro momento, ela parecia ter a boca tão ressecada que a irmã Genevieve, achando que a aliviaria, lhe colocava nos lábios um pequeno pedaço de gelo.Ela o aceitou lhe fazendo um sorriso que nunca me esquecerei. Era como um supremo adeus.

Às 6 horas o Angelus soou, ela olhou longamente para a estátua da Virgem Maria.
Enfim, às 7 horas e pouco, Nossa Madre tendo despedido a Comunidade, ela suspirou:

- Minha Madre!? Não é isso a agonia?… Não irei morrer?…

Sim, minha pobrezinha, é a agonia, mas o bom Deus quer talvez prolongá-la por algumas horas. Ela retoma com coragem:

- Ora bem!… Vamos!… Vamos!… Oh! Eu não quereria sofrer menos tempo…

E olha seu Crucifixo:

- Oh! Eu o amo!…………………………. Meu Deus… Eu vos amo………………………….

De uma hora para outra, após ter pronunciado essas palavras, ela caiu suavemente para trás, com a cabeça inclinada para a direita. Nossa Madre fez soar imediatamente o sino da enfermaria para chamar a Comunidade. “Abram-se todas as portas” dizia a Madre no mesmo instante. Essas palavras tinha algo de solene, e me fizeram pensar que no Céu o bom Deus o dizia também a seus anjos.

As irmãs tiveram o tempo de se ajoelhar em torno do leito e foram testemunhas do êxtase da pequena Santa que morria. Seu rosto tinha tomado a cor de uma flor-de-lis que tinha quando em plena saúde, seus olhos estavam fixados no alto, brilhantes de paz e de alegria. 

Ela fazia alguns movimentos de cabeça, como se Alguém a tivesse divinamente ferido com uma flecha de amor, depois retirado a Flecha para a ferir novamente… A irmã Maria da Eucaristia se aproximou com uma vela para ver de mais perto seu olhar sublime. Diante da luz dessa vela, não houve movimento algum de suas pálpebras. Esse êxtase durou o tempo de um “Credo”, e ela deu seu último suspiro.

Após sua morte, ela conservou um sorriso celeste. Ela estava com uma beleza encantadora. 

Ela segurava tão forte seu Crucifixo que foi necessário arrancá-lo de suas mãos para enterrá-la. A irmã Maria do Sagrado-Coração e eu fizemos tal serviço, com a irmã Amada de Jesus, e notamos que ela não parecia ter mais do que 12 ou 13 anos. Os membros do seu corpo permaneceram flexíveis até o dia do seu enterro, numa segunda-feira, no dia 4 de outubro de 1897.