Padre Emmanuel de Gibergues
A religião não penetraria na alma das crianças, a correção
não corrigiria nada, se ambas não fossem apoiadas pelos vossos exemplos. Vós
bem o reconheceis, meus senhores; se não praticais o que exigis, não podeis
exigir com força e convicção, aquilo que não está em vosso coração. A vossa
hipocrisia paralisará, queimará os vossos lábios: achar-vos-eis sem autoridade,
sem força. O orador, diziam os antigos, é o homem de bem, que fala bem; é a
definição do pai: ele só falará bem, se for homem de bem; só mandará bem no que
souber praticar.
Como escapar ao olhar, ao ouvido da criança, à sua finura,
ao seu espírito de observação? Se a vossa vida depuser contra as vossas lições,
destruí las-á. A criança lembrar-se-á dos exemplos e esquecerá as lições. «Toma
cuidado, diz o Sábio, que a tua vida não seja a causadora da morte de teu
filho.» [i]
Se, pelo contrário, o exemplo confirmar a lição, a criança
ficará vencida.
Dai o exemplo a vossos filhos, meus senhores. Que vos vejam
rezar, ao menos algumas vezes, é do maior alcance.
Quando a criança vê seu pai de joelhos, compreende melhor a
oração parece-lhe que há alguma coisa da majestade do próprio Deus que desce
sobre a fronte de seu pai. Respeita mais; e quer mais ao mesmo tempo, a seu pai
da terra e a seu pai do Céu.
Fazei com que os vossos filhos vos vejam na missa em atitude
silenciosa, de respeito e de oração e vos vejam comungar, quando mais não seja,
pela Páscoa; ou pelo menos, que saibam que vós cumpris este sagrado preceito. A
criança que não vê seu pai comungar, que sabe que seu pai não comunga, sofrerá
mais cedo ou mais tarde, em sua consciência, assaltos terríveis, e tanto
maiores quanto mais respeitar seu pai; a sua fé ficará abalada.
Deixai que vossos filhos sejam testemunhas diárias da vossa
paciência, da vossa humildade, da vossa bondade, da vossa mortificação, da
vossa caridade, das vossas boas obras, do bem que fazeis, da paz e alegria que
espalhais ao redor de vós por vossos exemplos e vossas virtudes!
Felizes dos que encontram em seus pais, o modelo do que
devem seguir, e aos quais não se pode dar melhor conselho do que dizer-lhes:
«Meus filhos, olhai para os vossos pais e fazei como eles!»
Estes exemplos são fáceis, meus senhores, se compreenderdes
a sua importância; se penetrardes no santuário de vosso coração paterno, para
nisto refletirdes; se tomardes o costume, antes de agirdes, de pedir conselho
ao berço ou ao futuro de vossos filhos.
Mas não sois os únicos a ter influência sobre vossos filhos.
Outras influências há que poderiam impedir ou destruir a vossa obra. Deveis
preservá-los pela vigilância.
Preservai-os contra os perigos dos colégios e escolas,
escolhendo com escrúpulo os estabelecimentos, os mestres a quem ides
confiá-los.
A vossa responsabilidade a este respeito é grande. Não
podeis ir ao acaso, nem contentar-vos com informações vagas e indeterminadas.
Deveis ver vós mesmos e assegurar-vos de que tudo é correto. Deveis seguir a
criança no ensino que recebe, sobretudo nas classes altas, e nunca abdicar do
vosso direito de vigilância e de censura.
Preservai vossos filhos das conversações dos estranhos, dos
amigos, dos criados. As crianças ouvem tudo, porque escutam tudo. Uma palavra,
uma observação poderá ser o veneno lançado em sua alma. Vós deveis defendê-los
e a vossa vigilância tendo sido surpreendida, se o mal foi praticado, devereis
descobri-lo e remediá-lo.
Quando a criança parecer perturbada, não receeis mandá-la
repetir o que tiver ouvido, para lhe mostrardes a sua falsidade e o perigo que
daí pode advir.
Preservai os vossos filhos de leituras perigosas. A leitura
tem lugar preponderante na formação do espírito, do coração e da alma. É do
vosso dever proibir-lhes leituras perniciosas; e, se os estudos os obrigarem a
fazê-las, devereis corrigir e destruir o seu efeito.
Sois vós que deveis indicar-lhes os livros que eles devem
ler, - livros úteis e bons, fortificadores do espírito e retemperadores da
alma, e em que possam aprender tudo o que é necessário para serem felizes e
agradáveis a Deus.
Afastai os vossos filhos das más companhias que, muitas
vezes, começam na infância com a imoralidade dos cuidados mercenários,
e mais tarde com os amigos corrompidos. As más companhias ainda perdem mais a
mocidade do que essas leituras prejudiciais.
A influência que um companheiro de maus costumes ou caráter
baixo pode exercer sobre outro que é puro, ingênuo e bom, é tão extraordinária quanto
perigosa. Começa o mau por se iniciar no espírito do bom, fazendo-lhe a
apologia das suas falsas teorias ou dos seus péssimos costumes. Aquele que é
bom, a princípio, resiste, depois, ou por timidez ou por fraqueza, deixa-se
arrastar para o mal, para o crime... E ei-lo perdido para a sociedade, para a
família e para Deus!
Afastai, pois, de vossos filhos, e sem piedade, os maus
companheiros, e fazei por aproximá-los dos bons que serão para eles uma
proteção, um amparo, uma segurança.
Preservai-os da ociosidade. Se vos achais em posição
modesta, serão, obrigados a trabalhar, o que será uma felicidade. Se fordes
ricos, ou se eles estiverem destinados a sê-lo, será um grande perigo. A
ociosidade é funesta: desideria occidunt pigrum[ii] diz a
Escritura. A ocupação útil, o trabalho, é a lei da vida para todos, tanto para
os ricos como para os pobres. Os acidentes da vida não se fazem muitas vezes
esperar, obrigando todo o mundo a trabalhar; e em quanto isto não acontece,
para que vossos filhos estejam preparados, obrigai-os ao trabalho. Se não
seguirem qualquer carreira, fazei com que empreguem bem o tempo e que pratiquem
o bem.
Impeli-os a praticarem obras de caridade, e a cumprirem os
deveres sociais. É nisto que eles encontrarão um magnífico papel a desempenhar,
e a mais útil das influências; e, pelo que a experiência tem demonstrado, aí
encontrarão o melhor preservativo contra o mal.
Fonte: A Grande Guerra
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