Padre Emmanuel de
Gibergues
Vindo de dignidade
semelhantes, os deveres do pai não podem ser senão sagrados, e, portanto,
formidáveis. Há dois: O dever da vida, e o dever da educação.
Sobre o dever da
vida não insistirei.
Mas ser-me-á permitido
dizer-vos, meus senhores, qual é a vossa responsabilidade. Deus teve, portanto,
essa confiança em vós, deu-vos esta honra: abdicou, em vosso favor, o poder de
criar.
A espécie inteligente
e livre, a raça humana está nas vossas mãos. Mas esteja ou não esteja;
multiplique-se larga ou parcimoniosamente: isso depende de vós.
Seja nobre ou baixa,
resplandecente de virtudes ou podre de vícios: isso depende de vós.
Pode descer abaixo dos
selvagens ou dar-nos ainda muitas santas Clotilde, S. Luiz, Joana d' Arc, S.
Vicente de Paulo: é a vós que compete decidir; e isso depende de cederdes aos
atrativos das paixões de colocardes a moral e a religião em vossos costumes; pois
que, com o poder de dardes a vida, tendes a necessidade de transmiti-la tal
como a tendes, tal como a preparastes. É uma responsabilidade a mais!
Atualmente (noto eu,
meus senhores) há homens que compreendem a honra e não recuam em face do
sacrifício. Refletem, rezam, consultam, quando é preciso; não temem a luz;
procuram lealmente a vontade de Deus: a lei divina é sagrada para eles.
Sabem que cuidados
requer a saúde de sua esposa, que é o bem dos filhos já nascidos; mas sabem
também que é bom o multiplicar a vida, e a sua confiança em Deus modera os
receios que o futuro lhes poderia inspirar. Toda a questão de ambição, de
bem-estar, de egoísmo é posta de parte: antes de tudo está o dever. A graça
sacramental dar-lhes-á força para cumpri-lo, sem dispensá-los do esforço
pessoal. A tudo estão decididos, menos a ofenderem a Deus; a todos os
sacrifícios, a todas as provações.
Dizem: se a Pátria tem
o direito de pedir-nos o nosso sangue para defendê-la, Deus também tem o
direito de no-lo pedir para defender a moralidade do lar, que é o primeiro bem
da pátria.
Dizem que há horas na
vida em que é preciso ser herói ou mártir, para cumprir com o dever; e serão
heróis, mártires, se preciso for, porque querem permanecer cristãos.
O sentimento das suas
augustas funções há de elevá-los ainda mais alto.
Conhecem toda a força
da hereditariedade, tanto na ordem física, como na ordem moral. Sabem que o pai
transmite a seus filhos, com o seu sangue, alguma coisa de sua alma, de suas
virtudes, de sua fé; e as bênçãos que Deus acrescenta, segundo as promessas da
Escritura, a esses bens da herança.
Sabem como se formam,
de pais a filhos, essas raças vigorosas, sãs de corpo e alma, e essas gerações
fortes de crentes, para as quais a fé já não é somente uma convicção
individual, mas uma herança; não somente a determinação livre de uma vontade
pessoal, mas a necessidade de um temperamento que a fé conquistou.
Sabem que com a fé são
também as virtudes do Evangelho que se tornam assim uma tradição de família,
gravam-se no coração de uma raça de preferência, e passam até ao sangue como
uma herança sagrada que se transmite de geração em geração e se vai
enriquecendo a cada transmissão, de sorte que esses descendentes da humanidade
decaída, parecem resgatados, desde o seio de suas mães.
Estes pensamentos
sérios e os sentimentos que trazem em sua conduta, em sua vida, em seu sangue,
a sorte de uma geração inteira fortificam, nesses pais cristãos - a força do
dever; ajudam-nos a vencerem os assaltos mais terríveis das paixões, e
servem-lhes de maravilhoso socorro nos desfalecimentos ou tentações, das quais
nem os melhores são excetuados.
A todos estes homens
de coração e de coragem, a todos estes valorosos da consciência e do dever,
honra e reconhecimento!
Não são só os pais da
família e da pátria: são os verdadeiros pais da humanidade regenerada,
resgatada; salva; os associados dos apóstolos, os continuadores da missão de
Cristo, os coadjutores de Deus!
Há outros que,
infelizmente, por leviandade ou descuido, por ambição ou libertinagem, ou não
sei por que outras paixões ainda, rebaixam e profanam as funções augustas e o
sacerdócio sublime da paternidade.
Há outros, contra os
quais Bossuet se levantava com indignação exclamando: «Desgraçadas das uniões,
que desejam ser estéreis, que não serão abençoadas, nem por Deus nem pelos
homens!»
Queria falar dos pais
avarentos ambiciosos, egoístas, descrentes da Providência e do futuro, que,
ludibriando o desejo natural e alterando a ordem de Deus, rejeitam a paternidade
como um fardo, e reprimem o nascimento e a formação dessas nobres criaturas,
dessas almas à imagem de Deus, que deveriam oferecer ao céu como o fruto de sua
bênção.
Há outros que, como a
árvore das florestas, atiram ao sopro de todas as paixões, a força misteriosa,
cujo gérmen divino está neles.
Alguns há também que
profanam a sua vida, antes de comunicá-la, que enfraquecem e desnaturalizam
essa força que lhes vem de Deus, e não transmitem senão um sangue debilitado,
estragado, uma vida rebaixada, uma alma que não tem senão vícios!
Todos estes quebraram
o seu cetro pelas suas próprias mãos; descoroaram-se eles mesmos; não são mais
dignos de serem chamados pais; ou, se é preciso ainda deixar-lhes esse nome,
como lembrança de sua antiga grandeza e sinal de sua queda, devem ser chamados
os pais do mal e do pecado; os pais do vício e do deboche, os pais da corrupção
e da morte, os continuadores, os coadjutores de Satanás!
Ó grandeza, ó
santidade sublime da paternidade, cujos deveres não podem ser cumpridos sem
gerar o que há de melhor, desconhecidos sem produzir o que há de pior!
Dos pais sem
consciência, sem virtudes, livrai-nos Senhor! ... Mas os pais de consciência,
cumpridores do seu dever, virtuosos, cheios de heroísmo, os pais cristãos,
abençoai-os, Senhor, e multiplicai-os!
Fonte: A Grande Guerra
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