sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O PAI - A sua importância e os seus deveres - Parte 2




Padre Emmanuel de Gibergues

Vindo de dignidade semelhantes, os deveres do pai não podem ser senão sagrados, e, portanto, formidáveis. Há dois: O dever da vida, e o dever da educação.

Sobre o dever da vida não insistirei.

Mas ser-me-á permitido dizer-vos, meus senhores, qual é a vossa responsabilidade. Deus teve, portanto, essa confiança em vós, deu-vos esta honra: abdicou, em vosso favor, o poder de criar.

A espécie inteligente e livre, a raça humana está nas vossas mãos. Mas esteja ou não esteja; multiplique-se larga ou parcimoniosamente: isso depende de vós.

Seja nobre ou baixa, resplandecente de virtudes ou podre de vícios: isso depende de vós.

Pode descer abaixo dos selvagens ou dar-nos ainda muitas santas Clotilde, S. Luiz, Joana d' Arc, S. Vicente de Paulo: é a vós que compete decidir; e isso depende de cederdes aos atrativos das paixões de colocardes a moral e a religião em vossos costumes; pois que, com o poder de dardes a vida, tendes a necessidade de transmiti-la tal como a tendes, tal como a preparastes. É uma responsabilidade a mais!

Atualmente (noto eu, meus senhores) há homens que compreendem a honra e não recuam em face do sacrifício. Refletem, rezam, consultam, quando é preciso; não temem a luz; procuram lealmente a vontade de Deus: a lei divina é sagrada para eles.

Sabem que cuidados requer a saúde de sua esposa, que é o bem dos filhos já nascidos; mas sabem também que é bom o multiplicar a vida, e a sua confiança em Deus modera os receios que o futuro lhes poderia inspirar. Toda a questão de ambição, de bem-estar, de egoísmo é posta de parte: antes de tudo está o dever. A graça sacramental dar-lhes-á força para cumpri-lo, sem dispensá-los do esforço pessoal. A tudo estão decididos, menos a ofenderem a Deus; a todos os sacrifícios, a todas as provações.

Dizem: se a Pátria tem o direito de pedir-nos o nosso sangue para defendê-la, Deus também tem o direito de no-lo pedir para defender a moralidade do lar, que é o primeiro bem da pátria.

Dizem que há horas na vida em que é preciso ser herói ou mártir, para cumprir com o dever; e serão heróis, mártires, se preciso for, porque querem permanecer cristãos.

O sentimento das suas augustas funções há de elevá-los ainda mais alto.

Conhecem toda a força da hereditariedade, tanto na ordem física, como na ordem moral. Sabem que o pai transmite a seus filhos, com o seu sangue, alguma coisa de sua alma, de suas virtudes, de sua fé; e as bênçãos que Deus acrescenta, segundo as promessas da Escritura, a esses bens da herança.

Sabem como se formam, de pais a filhos, essas raças vigorosas, sãs de corpo e alma, e essas gerações fortes de crentes, para as quais a fé já não é somente uma convicção individual, mas uma herança; não somente a determinação livre de uma vontade pessoal, mas a necessidade de um temperamento que a fé conquistou.

Sabem que com a fé são também as virtudes do Evangelho que se tornam assim uma tradição de família, gravam-se no coração de uma raça de preferência, e passam até ao sangue como uma herança sagrada que se transmite de geração em geração e se vai enriquecendo a cada transmissão, de sorte que esses descendentes da humanidade decaída, parecem resgatados, desde o seio de suas mães.

Estes pensamentos sérios e os sentimentos que trazem em sua conduta, em sua vida, em seu sangue, a sorte de uma geração inteira fortificam, nesses pais cristãos - a força do dever; ajudam-nos a vencerem os assaltos mais terríveis das paixões, e servem-lhes de maravilhoso socorro nos desfalecimentos ou tentações, das quais nem os melhores são excetuados.

A todos estes homens de coração e de coragem, a todos estes valorosos da consciência e do dever, honra e reconhecimento!

Não são só os pais da família e da pátria: são os verdadeiros pais da humanidade regenerada, resgatada; salva; os associados dos apóstolos, os continuadores da missão de Cristo, os coadjutores de Deus!

Há outros que, infelizmente, por leviandade ou descuido, por ambição ou libertinagem, ou não sei por que outras paixões ainda, rebaixam e profanam as funções augustas e o sacerdócio sublime da paternidade.

Há outros, contra os quais Bossuet se levantava com indignação exclamando: «Desgraçadas das uniões, que desejam ser estéreis, que não serão abençoadas, nem por Deus nem pelos homens!»

Queria falar dos pais avarentos ambiciosos, egoístas, descrentes da Providência e do futuro, que, ludibriando o desejo natural e alterando a ordem de Deus, rejeitam a paternidade como um fardo, e reprimem o nascimento e a formação dessas nobres criaturas, dessas almas à imagem de Deus, que deveriam oferecer ao céu como o fruto de sua bênção.

Há outros que, como a árvore das florestas, atiram ao sopro de todas as paixões, a força misteriosa, cujo gérmen divino está neles.

Alguns há também que profanam a sua vida, antes de comunicá-la, que enfraquecem e desnaturalizam essa força que lhes vem de Deus, e não transmitem senão um sangue debilitado, estragado, uma vida rebaixada, uma alma que não tem senão vícios!

Todos estes quebraram o seu cetro pelas suas próprias mãos; descoroaram-se eles mesmos; não são mais dignos de serem chamados pais; ou, se é preciso ainda deixar-lhes esse nome, como lembrança de sua antiga grandeza e sinal de sua queda, devem ser chamados os pais do mal e do pecado; os pais do vício e do deboche, os pais da corrupção e da morte, os continuadores, os coadjutores de Satanás!

Ó grandeza, ó santidade sublime da paternidade, cujos deveres não podem ser cumpridos sem gerar o que há de melhor, desconhecidos sem produzir o que há de pior!

Dos pais sem consciência, sem virtudes, livrai-nos Senhor! ... Mas os pais de consciência, cumpridores do seu dever, virtuosos, cheios de heroísmo, os pais cristãos, abençoai-os, Senhor, e multiplicai-os! 

Fonte: A Grande Guerra

Nenhum comentário:

Postar um comentário