Castidade e pudor
A castidade é uma virtude que, movida pela caridade, orienta ao
bem o impulso procriativo humano, tanto em seus aspectos físicos como afetivos.
Implica, pois, para o homem em liberdade, domínio e respeito de si mesmo, assim
como caridade e respeito para os outros, que não são vistos como objetos, mas
como pessoas. Como é uma virtude, a castidade é uma força espiritual na pessoa,
uma inclinação boa, uma facilidade para o bem próprio de sua honestidade, e
consequentemente uma repugnância em relação à luxúria que lhe é contrária.
E um aspecto da castidade é o pudor. Enquanto a castidade modera o
impulso procriativo, o pudor ordena mais propriamente os olhares, os gestos, os
vestidos, as conversações, quer dizer, todo um conjunto de circunstâncias que
está mais ou menos em relação com aquele impulso sexual.
Por isto diz Santo Tomás que “o pudor se ordena à castidade, mas
não como uma virtude distinta dela, mas como uma circunstância especial. De
fato, na linguagem comum, se toma indistintamente uma pela outra” (Summ Thlg. II-II,
151,4). Pio XII ensina que o sentido do pudor consiste “na inata e mais ou
menos consciente tendência de cada um a defender da indiscriminada
concupiscência das demais pessoas um bem físico próprio, a fim de reservá-lo,
com prudente seleção de circunstâncias, aos sábios fins do Criador, por Ele
mesmo postos sob o escudo da castidade e da modéstia” (Disc. 8-XI-1957: AAS 49,
1957, 1013).
Em outro escrito (O matrimônio em Cristo, 33-38) estudei a
psicologia do pudor, a naturalidade do pudor na condição humana pecadora, a
conexão do pudor com outras virtudes, etc. Agora, dentro dos múltiplos aspectos
do pudor, tratarei principalmente do traje, dos olhares, da nudez.
E por que motivo trato do pudor mais propriamente do que da
castidade? Por uma razão muito sensível. A maioria dos possíveis leitores deste
escrito têm a consciência bastante clara acerca da castidade. Mas muitos deles –
recorde-se o caso concreto que me impulsionou a escrever este livro – não têm
sua consciência plenamente evangelizada a respeito do pudor. Pelo contrário,
sendo que estão vivendo na Babilônia, ou se se preferir, em Corinto, acabam não
se dando conta às vezes das doses de impudor que vão assimilando (assumindo)
sem maiores problemas de consciência. E isto, saibam ou não, acreditem ou não,
queiram ou não, traz para eles e para outros más consequências.
Extraído do livro Elogio do Pudor, José María Iraburu
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