quinta-feira, 31 de maio de 2012

O ESPÍRITO NOVO


Por um Cartuxo anônimo - Intimidade com Deus

            Quando nos incorporamos no Filho, uma perfeita intimidade com Ele é o legítimo objeto da nossa esperança, a finalidade dos nossos desejos e dos nossos esforços. Ele cresce em nós e dilata o nosso ser, de maneira a tornar-nos cada dia com mais capacidade para o divino.

            O homem renovado pela graça tira todas as suas faculdades das riquezas abundantíssimas do Verbo, enquanto se despoja de si próprio para se revestir da santidade de Cristo. A incorporação inunda-nos de dons sempre novos: a força do Espírito Santo, o poder divinizante da graça, a glória de que esta vida de união está já secretamente cheia. «Vós, pois, como escolhidos de Deus, santos e amados, revesti-vos de entranhas de misericórdia, de benignidade, de humildade, de modéstia e de paciência» (Col., III, 12). «Embora se destrua em nós o homem exterior, todavia o interior vai-se renovando de dia para dia» (II Cor., IV, 16).

            A fusão da alma com Cristo opera-se no próprio fundo do ser e no princípio do tempo: os símbolos tirados da união de substâncias criadas não pedem traduzir esta unidade incomparável e sempre nova forjada pelo amor. «Para que sejam todos um, como tu, Pai, o és em mim, e eu em ti, para que também eles sejam um em nós» (João, XVII, 21).

            Deus não põe de parte o que começou; pelo contrário, não cessa nunca de o aperfeiçoar na alma: Ele quer que Cristo cresça em nós até à plena harmonia da idade adulta. O Seu Espírito aproxima-se constantemente do Pai para nos unir mais intimamente a Ele. «Porque todos aqueles que são conduzidos pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus. Porque vós não recebesses o espírito de escravidão para estardes novamente com temor, mas recebesses o espírito de adoção de filhos, mercê do qual chamamos, dizendo: Abba (Pai)» (Rom., VIII, 14-15).

            À medida que o conhecimento de Deus cresce dentro de nós, torna-se mais viva a nossa fé no Pai. Quanto mais clara é para nós a evidência de que Deus é caridade, mais pronta fica a nossa alma para se perder nos abismos desse amor. Participamos do amor do Pai pelo Filho, e é com Cristo que repousamos no seio do Pai. «Livrou-nos do poder das trevas e transferiu-nos para o reino do Filho do seu amor» (Col. I, 13). Deste modo, a vida partilhada com Cristo introduz-nos na pátria da Sua eterna glória.

            «Pai justo, o mundo não te conheceu, mas eu conheci-te; e estes conheceram que tu me enviaste. Eu fiz-lhes e far-lhes-ei conhecer o teu nome, a fim de que o amor, com que me amaste, esteja neles, e eu neles» (João, XVII, 25-26).

            Todos os homens podem viver desta inebriante verdade se se deixarem libertar por ela, se, deixando de fazer das criaturas objeto do seu desejo, as atravessarem a correr como frágeis degraus, como meios inteiramente ordenados para a finalidade divina. «Nós conhecemos e cremos na caridade que Deus tem por nós: Deus é caridade» (I João, IV, 16). 

            Deus procura arrancar-nos cada vez mais a nós próprios, a fim de que já não vivamos para nós, mas d'Ele e para Ele. A minha vontade, o meu coração, o meu espírito foram substituídos pela vontade, pelo coração, pelo espírito de Cristo; eu e Ele somos um em espírito, e eu estou identificado com Ele pelo amor: é esta a experiência e a alegria dos santos. «Já não vivo, é Jesus que vive em mim!» (Gál., II, 20).

            Nada encoraja e fortifica o coração como esta verdade: «Todas as coisas são vossas, o mundo, a vida, a morte, presente e futuro; tudo é vosso; mas vós sois de Cristo e Cristo de Deus» (I Cor., III, 22-23).

            É esta, com efeito, a herança de Cristo, a obra que Ele realizou livremente morrendo por nós. «Eis-vos purificados, santificados e justificados em nome de Jesus Cristo, pelo Espírito de Deus» (I Cor., VI, 11).

            Tudo devemos à graça e somos apenas o que ela permite que sejamos, mas podemos torná-la ineficaz com as nossas infidelidades. Velar pelo seu crescimento dentro de nós é o objeto digno do nosso esforço. «O vosso trabalho não é vão no Senhor» (I Cor., XV, 58). «Vigiai, permanecei firmes na fé, sede viris e fortes» (I Cor., XVI, 13).

            As fraquezas terrestres hão-de pesar sempre sobre nós enquanto vivermos neste mundo. Os heróis e os gigantes da santidade suspiraram sempre sob a lei do pecado, que, como nós, nunca deixaram de sentir. «Infeliz de mim! Quem me livrará deste corpo de morte?» (Rom., VII, 24). O remédio para a nossa fraqueza é o realismo da fé: um olhar franco sobre a nossa própria miséria e sobre as riquezas de Deus. Cristo operou em nós uma obra sublime - a infusão de uma outra vida.

            A fé ilumina-nos com uma luz infinitamente mais brilhante que o dia, a caridade abre-nos um horizonte que a natureza não pode sequer suspeitar. O cristão é um homem novo e o ar que ele respira interiormente não é deste mundo; a sua existência foi recomeçada segundo um plano divino. Embora ele continue a arrastar o peso do corpo e das suas inclinações inferiores, revestiu-se já de outra Pessoa. «Despojai-vos do homem velho com todas as suas obras, e revesti-vos do novo, daquele que renovando-se continuamente à imagem daquele que o criou, atinge o conhecimento perfeito. Nesta renovação não distingue entre o escravo e o homem livre, é Cristo que «é tudo em todos» (Col., III, 9-11). «O homem que está em Cristo é uma nova criatura; passaram as coisas velhas; eis que tudo se fez novo. E tudo isso vem de Deus» (II Cor., V, 17).

            O coração é novo, são novos o espírito e a vontade; sim, o homem é novo a partir do momento em que se abriu inteiramente para a graça. E aquilo que Deus lhe dá, a vida divina, não pode ser-lhe arrancado por nada que tenha sido criado, se ele o não consentir. «Quem nos separa, pois, do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A fome? A nudez? O perigo? A perseguição? A espada? Mas de todas estas coisas saímos vencedores por aquele que nos amou. Porque eu estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as virtudes, nem as coisas presentes, nem as futuras, nem a força, nem a altura, nem a profundidade, nem nenhuma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Jesus Cristonosso Senhor» (Rom., VIII, 35-39). 

31 de Maio - Festa da Rainha Maria Santíssima



A encíclica Ad Caeli Reginam (Rainha do Céu), do Papa Pio XII, de 11 de outubro de 1954 trata sobre a Realeza de Maria e a instituição Festa de Nossa Senhora Rainha, celebrada a cada dia 31 de maio com o costume de coroar-se a imagem da Virgem e da recitação pública da Consagração do Gênero Humano ao Imaculado Coração de Maria. Na mesma encíclica o Papa Pio XII escreveu: “Maria é Rainha não só por ser a Mãe de Deus, mas também por ter sido associada, pela vontade de Deus, a Jesus Cristo na obra da salvação. Isenta de qualquer culpa pessoal ou hereditária, e sempre estreitissimamente unida ao Filho, ela o ofereceu no Calvário ao Eterno Pai, sacrificando seu amor de mãe em benefício de toda a humanidade manchada pelo pecado. Por isso, assim como Jesus é Rei não só por ser o Filho de Deus, mas também por ser o nosso Redentor, assim pode-se afirmar que Maria é Rainha não só por ser a Mãe de Deus, mas também porque se associou a Cristo na redenção do gênero humano. "Maria participa da dignidade real - ensina Pio XII - porque desta união com Cristo Rei deriva para ela tão esplendente sublimidade, que supera a excelência de todas as coisas criadas. Desta mesma união com Cristo nasce aquele poder real, pelo qual ela pode dispor dos tesouros do Reino do Redentor divino". O Reino de Maria é vasto como o de seu Filho, porque nada se exclui de seu domínio.” 



Ato de Consagração ao Imaculado Coração de Maria

 
Rainha do Santíssimo Rosário, auxílio dos cristãos, refúgio do gênero humano, vitoriosa de todas as batalhas de Deus, eis-nos prostrados suplicantes aos pés do Vosso trono, na certeza de obter de Vossa misericórdia as graças e a ajuda oportunas nas calamidades presentes, não em virtude de nosso mérito que são poucos, mas unicamente pela imensa bondade do Vosso Coração maternal.
Os abomináveis pecados do mundo, as perseguições dirigidas contra a Igreja de Jesus Cristo, mais ainda, a apostasia das nações e de tantas almas cristãs, em suma, os esquecimentos por parte da maioria dos homens de que sois a Mãe da Divina Graça, tudo isso é agonia para Vosso Coração Doloroso e Imaculado, tão unido, em sua com-paixão, aos sofrimentos do Sagrado Coração de Vosso Filho.
A fim de reparar tantos crimes, pedistes o estabelecimento da devoção reparadora à Vosso Imaculado Coração. Mas se atraís docemente as Vosso Coração os homens pecadores, é para conduzi-los ao Sagrado Coração de Jesus, ao Cristo-Rei. Jesus é a vida de que viveis. Tudo recebeste Dele e para Ele. Vosso Coração é como uma Eucaristia transparente; aquele que o comtempla vê Jesus, seu Salvador. Foi para conduzir os homens ao Coração de Vosso Filho que aparecestes em Fátima.
Dignai-Vos pois aceitar, ó Mãe de Deus, o ato solene de reparação que oferecemos ao Vosso Coração Imaculado por tantas ofensas que, juntamente com o Sagrado Coração de Jesus, é afligido pelos pecadores e pelos ímpios.
Dignai-Vos ó Rainha da Paz, outorgar ao mundo a paz que o mundo não pode dar, a paz das armas e a paz das almas, a paz de Cristo e o reino de Cristo pelo Reinado de Vosso Imaculado Coração. Amém.



quarta-feira, 30 de maio de 2012

A Trindade - Santo Agostinho





A doutrina da Trindade é uma das mais importantes da Fé Cristã.

“Podemos definir doutrina da Trindade do seguinte modo: Deus existe eternamente como três pessoas – Pai, Filho e Espírito Santo – e cada pessoa é plenamente Deus, e existe só um Deus”. 

Ao longo da história da Igreja Católica, muitos homens piedosos defenderam a doutrina trinitária, dentre eles encontra-se Agostinho, bispo de Hipona. 


Boa leitura!



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Hino Nupcial (Salmo 44) - Gregoriano





A graça foi derramada em nossos lábios.
Vós sois o bendito do Senhor para sempre.

Escutai minha Filha, olhai, ouvi isto:
Esquecei vosso povo e a casa paterna.
Que o Rei se encante com vossa beleza.
Prestai homenagem é Vosso Senhor.

O povo de Tiro vos trais seus presentes.
Os grandes vos louvam, vos pedem favores.
Majestosa princesa real vem chegando.
Vestida de ricos, brocados de ouro.

Em vestes ditosas ao Rei de dirigem.
E as virgens amigas que lhe formam cortejo.
Entre cantos de festa e com grande alegria.
Ingressam a Mãe no palácio real.

Deixareis vossos pais, vós tereis muitos filhos.
Fareis deles os reis soberanos na terra.
Cantarei vosso nome de idade em idade.
Para sempre haverão de louvar-vos os povos.

Demos graças a Deus Pai Onipotente.
E a Seu Filho Jesus Cristo Senhor Nosso.
E ao Espírito que habita em nosso peito.
Pelos séculos dos séculos. Amém.

A graça foi derramada em nossos lábios.
Vós sois o bendito do Senhor para sempre.







NOBREZA ESPIRITUAL


Por um Cartuxo anônimo - Intimidade com Deus

            É no mundo do homem, em que tudo lisonjeia os sentidos e a vaidade, que devemos criar uma solidão sagrada, praticar a renúncia e deixarmo-nos despojar de acordo com as exigências da graça. Mas nenhuma perda resulta para nós de tudo isso: de cada vez que renunciamos a uma satisfação aparente, é-nos assegurado um aumento de verdadeiros bens. Os prazeres que o mundo procura são uma decepção constante, gelam o coração e deixam-no vazio diante da morte, enfraquecem o seu instinto de nobreza e privam-no da sua paz, e levam-no muitas vezes ao desespero. Pois este mundo continua surdo à palavra de Cristo e recusa-se a acreditar na verdade que lhe diz respeito, defende-se com a ira contra a alegria de Cristo, contra Deus e contra os seus, cuja sentença receia. «Agora vou para ti; e digo estas coisas estando ainda no mundo, para que eles tenham em si mesmos a plenitude do meu gozo. Dei-lhes a tua palavra e o mundo os odiou, porque não são do mundo, como também eu não sou do mundo» (João, XVIII, 13-14).

            Não é o nosso valor pessoal que nos torna dignos do olhar de Deus: Ele só procura em nós a imagem do Seu Filho, o fruto da Sua paixão e a riqueza que mereceu para nós morrendo por nós. Esta lembrança do amor infinito é, infelizmente, ignorada pela maior parte dos homens, e parece estar perdida para eles. Outros, embora não a desconheçam completamente, só tiram dela um medíocre proveito, porque não penetram em espírito até à sua realidade profunda e só traduzem na sua vida uma parte mínima dela. Teremos nós a coragem de pagar com tão grande ingratidão a generosidade divina?

            Sermos chamados à dignidade de filhos de Deus e termos a possibilidade ilimitada de tirar dos tesouros da Sua graça uma semelhança cada vez maior com o Filho, é um destino que não pode ser comparado com nenhum daqueles que as potências criadas nos prometem. Deus quer comprazer-Se em nós e o Seu desígnio eterno é tornar-nos semelhantes a Jesus. «Porque os que Ele conheceu na sua presciência, também os predestinou para serem conformes à imagem do seu Filho, para que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos» (Rom., VIII, 29).

            Não há ninguém que não seja convidado para esta glória: para nela participar, basta seguir fielmente as inspirações da graça, viver interiormente e procurar o essencial, isto é o amor em todas as ocasiões que se nos depararem durante o dia. Não temos nenhuma razão válida para retardarmos o nosso consentimento, para continuarmos a preferir as vozes da natureza e os ruídos do mundo à oração de Cristo. Quem não procura a união com Deus e não mantém com Ele uma relação viva, porque prefere uma pobreza sórdida aos dons mais ricos que o Espírito incita constantemente a aceitar. Deus não afasta nenhum homem da Sua amizade; pelo contrário, insiste com todos de tal maneira, que o Seu convite quase que força as vontades rebeldes, e toda a tragédia das nossas vidas consiste neste desprezo que opomos à generosidade divina. O ambiente frio da ausência de Deus dá-nos um antegosto da condenação eterna: em vez de um céu interior, é um inferno que trazemos dentro de nós, quando o elo se rompeu por culpa nossa. Pois infelizmente temos o poder de asfixiar a semente que foi posta na nossa alma para crescer e dar fruto. Todo o nosso tempo, todas as nossas forças, as nossas faculdades e as nossas capacidades devem ser consagrados a este crescimento da vida eterna. Os objetos e os atos mais insignificantes devem continuar a alimentá-la para que nada se perca da obra de Deus.

            Com efeito, não há nada que não possa e não deva ser santificado pela dádiva, que não possa servir para a glória do amor numa criatura humana unida ao Verbo divino. Não recusemos nada do que nos é pedido para esta vida misteriosa dentro de nós, e vê-la-emos desenvolver-se até a plenitude que ultrapassa todas as palavras. «Até que cheguemos todos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, ao estado do homem perfeito, segundo a medida da idade completa de Cristo; para que não mais sejamos meninos flutuantes, e levados, ao sabor de todo o vento de doutrina, pela malignidade dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro, mas, praticando a verdade na caridade, cresçamos em todas as coisas naquele que é a cabeça, o Cristo» (Efés., IV, 13-15).

            Acontece com a vida interior o mesmo que acontece com a vida vegetal e os cuidados que esta requer: é preciso eliminar todas as excrescências adventícias ou anormais que fariam desviar o seu impulso e ameaçariam o seu fruto. Daí o conselho para visarmos a única coisa necessária, para não nos perdermos no que é meramente acidental. Para levar até à sua plenitude a obra que Deus começou em nós, precisamos de ter uma consciência delicada, que compreenda logo as sugestões de Deus, e uma coragem viril para as seguir sem compromissos. Que seja Deus a única razão profunda e o motivo de todas as nossas ações! Nenhuma autoridade no mundo tem            o direito de nos desviar. Lutaremos sempre para manter a nossa intenção pura e agradável a Deus. «Se o teu olho for simples, todo o teu corpo terá luz» (Mat., VI, 22).

            O Salvador diz que são bem-aventurados os pobres em espírito, que não estão presos às coisas deste mundo, e não querem possuir mais nada senão Ele. Não têm o coração fechado no horizonte duma riqueza terrestre: têm-no aberto para o céu. Não estão à espera dos privilégios dos primeiros lugares, nem das vantagens da fortuna: não procuram parecer grandes aos olhos do mundo, sabem que não são nada diante de Deus, que distribui pelos humildes as suas riquezas e lhes revela os seus segredos. Foi para nos advertir que Cristo proferiu estas ameaças: «Ai de vós, ricos! porque tendes a vossa consolação neste mundo! Ai de vós, os que estais saciados! Ai de vós quando os homens vos louvarem!» (Luc., VI, 24-26).

A renúncia àquilo a que os homens chamam riqueza é uma das primeiras garantias da liberdade interior. Bem-aventurados os que se despojam e se deixam despojar em espírito de fé! A sua pobreza de um dia transformar-se-á em riqueza duradoura e alcançarão a paz. Eles não a trocariam por todos os tesouros do mundo: são as arras da eternidade. «Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus!» (Mat.,V, 12).

Conservarmo-nos voltados para Deus em todas as nossas ocupações não significa, de nenhum modo, abandonar o próximo, ignorar as realidades que nos cercam. O dever mais elevado não exclui a fidelidade às ocupações secundárias; pelo contrário, inspira-a e exige-a. Aqueles cujo espírito se volta para a verdade primária são os que se entregam às tarefas mais insignificantes: encontram nelas o clarão da glória divina, tão puro como nas ocupações que - sem razão - costumam ser consideradas como nobres ou importantes. Ouvem constantemente as palavras de Cristo: «Tudo o que fizeste a um dos meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes» (Mat., XXV, 40). «E todo o que der a beber um único copo de água fria a um destes pequeninos só a título de ser meu discípulo, na verdade vos digo que não perderá a sua recompensa» (Mat., X, 42).

            O crescimento e o desabrochar da semente divina nas almas fiéis é um espetáculo que os anjos contemplam. Ultrapassa o horizonte dum destino pessoal: ressoa na harmonia dos mundos, a quem esta sagração de uma criatura confere uma nova beleza. Se a história registrasse os acontecimentos segundo a sua importância real, uma alma que se torna filha de Deus ocuparia um lugar muito mais importante do que as coroações e as conquistas. Assim como o pecado perturbou todo o universo, assim também o regresso do homem à intimidade divina restitui à criação a ordem e o brilho perdidos. Um inimigo de Deus que se torna Seu amigo é uma aurora mais luminosa do que a de um novo sol no firmamento. «Os justos brilharão como o sol no reino do seu Pai» (Mat., XIII, 43).

            Logo que o homem, vivendo da fé, renuncia generosamente a si próprio, fica inundado de luz e transformado pelo amor. Mas primeiro é necessário que à nossa volta o mundo se tenha reduzido ao silêncio, ou pelo menos que a sua voz seja dominada pelo sim e pelo amor da alma que responde à graça divina. É este diálogo interior que dá sentido ao universo e habitua o homem à condição eterna. «Vós já não sois hóspedes, nem adventícios, mas sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus» (Efés., II, 19).

            A criatura entra assim na mais íntima relação com o Criador, que Se inclina para ela com terna solicitude para satisfazer os seus desejos. «Conforme a determinação eterna que ele realizou em Jesus Cristo Nosso Senhor, no qual temos segurança e acesso a Deus com confiança, por meio da fé nele» (Efés., III, 11-12).

            O amor não escolhe palavras, exprime-se sem se importar com fórmulas ou convenções: «A boca fala da abundância do coração» (Mat., XII, 34). De resto, quando dois corações que se amam se encontram um com o outro, o silêncio é muitas vezes mais expressivo do que as palavras: traduz melhor a comunicação imediata duma plenitude. Que alegria entregarmo-nos totalmente a Jesus e pertencermos-Lhe sem condições! E que enriquecimento para nós se, recolhendo-nos, soubermos dar lugar ao Espírito de Cristo, num consentimento de todo o nosso ser, numa comunhão muda de alma com alma! É isto que o Mestre espera de nós: quer-nos unidos a Ele com toda a simplicidade, para que o nosso coração no meio das preocupações e dos deveres de estado, não se afaste um só instante da Sua presença. «É preciso orar sempre e não cessar de o fazer» (Luc., XVIII, 1).

            É uma coisa que ultrapassa as nossas capacidades naturais, mas se, ajudados pela Sua graça, cumprirmos fielmente as condições enunciadas no Evangelho de Cristo, podemos estar certos de que Ele Se antecipará aos nossos desejos. Pois Ele tem sede de Se dar e de espalhar o Seu amor sobre os homens, que se mostram tão ingratos para com a caridade infinita e parecem desprezar as Suas tentativas de aproximação. Até mesmo entre aqueles que parecem querer dedicar-se ao Seu serviço de coração sincero, encontramos muitas vezes uma imperfeita consciência das exigências e dos dons do amor: o próprio zelo que os leva à ação parece tornar impossível o calmo abandono em que estabeleceria com Deus uma relação interior, pessoal e viva. Contudo, esta união não poria o mínimo obstáculo à sua atividade, e nada os desculpa de não fazerem caso da fonte mais rica que o Criador fez brotar: Ele quer agir pelas nossas mãos, quer que sejamos instrumentos ao Seu serviço, instrumentos dotados de liberdade e de vida sobrenaturais, na medida em que se prestam à vontade divina. É assim que o homem se realiza e se ultrapassa. «Todos aqueles que são conduzidos pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus» (Rom., VIII, 14).

            Deixarmo-nos armar cavaleiros de Cristo é entrarmos na família divina: já não estarmos sós, estamos acompanhados pelo céu que trazemos dentro de nós. «Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e nós viremos a Ele, e faremos nele morada» (João, XIV, 23).

            Tal é a abundante recompensa que nos traz a fé vivida no amor os horizontes humanos foram ultrapassados; doravante é com Deus que contamos para nos guiar: Ele ilumina os nossos passos e mostra-nos o caminho. A única coisa que precisamos fazer é segui-lO: a noite acabou, a luz da alvorada anuncia-nos o dia eterno. A terra ainda está na sombra, é verdade, mas ela diminui cada vez mais e desaparece ante a pureza da manhã. A própria sombra é testemunha da aproximação da luz que a projeta. A verdadeira luz revelou-se aos nossos olhos e apareceu-nos. «Naquele dia vós conhecereis que eu estou em meu Pai, e vós em mim e eu em vós» (João, XIV, 20). 

O celibato dos homens


São Luiz Gonzaga - exemplo de pureza


Há o celibato que se inspira no egoísmo e o celibato que se funda no amor da virgindade e no espírito de sacrifício e de abnegação.

O primeiro é desprezível e vergonhoso, tanto quanto o segundo é sublime e digno de todo o nosso respeito e admiração. 
“Há um celibato vergonhoso, que entrego ao vosso desprezo mais justificado e à maldição dos economistas, que reclamam vidas fecundas para a sociedade. É o celibato dos covardes, que não querem casar, para se entregarem à devassidão com mais liberdade e sem os encargos e deveres da família. Tal sistema de vida constitui o opróbrio, a vergonha e é o pior cancro da sociedade.
“Já a Roma pagã havia estigmatizado os que a ele se entregavam, com a nota da infâmia e da desonra e suas leis vingadoras relegavam-nos para os últimos lugares, nos jogos públicos; diminuíam-lhes a autoridade do voto, nas assembléias do senado; privavam-nos do direito de herança, confiscavam-lhes qualquer legado com que houvessem sido contemplados transferindo-os aos parentes casados. 
“De nada valeu, porém, toda essa severidade e, esses celibatários, auxiliados pelo divórcio, aceleraram a queda do grande império. É a sorte que aguarda as sociedades modernas. 
“Mas, terei eu o direito de chamar celibato ao que, na realidade, não passa do mais desenfreado egoísmo, da mais detestável libertinagem? Não é a castidade fria ou indiferente que repele o matrimônio; é a imoralidade mais requintada e miserável, que pretende multiplicar e variar prazeres, sem responsabilidades, sem encargos. 
“Se, por ventura, esses miseráveis se abstêm de desonrar lares e seduzir a virtude, não fazem mistério de suas torpes e escandalosas relações, até que enfim, fartos de aventuras, caem extenuados pela crápula, pela devassidão, pela libertinagem, sob o jugo vergonhoso de alguma mulher mercenária e infame como eles, que lhes cobrará as condescendências com roubar-lhes a herança que ambiciona. Já que as leis humanas não ousam descarregar suas justas vinganças contra esses eunucos do vício, que se vejam ao menos sepultados sob o vosso desprezo e asco; bem o merecem.” 
Esse celibato desprezível e vergonhoso de uma mocidade sem brio, sem dignidade e sem vergonha, ainda encontra defensores, entre os partidários da famosa divisa: “Deixem que a mocidade se divirta!”

O verdadeiro celibato, o celibato digno de todos os encômios, é o daquele, que se inspiram no amor de Deus e que, para se consagrarem sem reserva ao serviço dEle e das almas, renunciam ao matrimônio; vivem na mais perfeita continência, o que lhes vale as execrações mais rancorosas e os ataques mais furiosos dos ímpios e libertinos.

O mundo e os mundanos acham muito natural que a mocidade se extravie e se desonre. Desculpam-na, e, quiçá, acham até que assim deve ser, porque assim o exige a saúde. Se, ao menos, aconselhassem a essa mocidade, tristemente celibatária e egoísta, a que se regenerasse e fundasse uma família numerosa e sã, em lugar de desperdiçar assim as energias! Mas, nem por sonho.

Quando, porém, se trata do sacerdote, o caso muda de figura.

Porque o sacerdote leva uma vida casta, porque não constitui família, é tratado como adversário dela, como inimigo da sociedade e malfeitor público. Ele, que tanto prega contra a diminuição da natalidade, contra a depopulação pelo vício, porque se não casa?

Querem a todo transe padres casados.

Vamos examinar brevemente o que se há de pensar dos pretextos que se inventam para justificar e autorizar a libertinagem dos pseudocelibatários e dos ataques que se dirigem contra o celibato sacerdotal. 

"Deixem que a mocidade se divirta" diz-se por aí comumente; "a própria saúde assim o exige". O demônio não se poderia expressar melhor. Isso não é desculpar, é legitimar; é tornar necessária a devassidão, é proclamá-la indispensável para quem quiser gozar boa saúde. 

O celibato, no entender desses libertinos, é uma instituição contra a natureza, que leva a monstruosas aberrações. Alguns médicos, obcecados pelo anticlericalismo, fizeram-se cúmplices dessa teoria difamatória, alegando que a própria higiene condena o celibato. 

Afirmações dessas, principalmente quando se pretende falar em nome da ciência, são altamente perniciosas para a moral pública. Nunca se fará demais, para defender a mocidade honesta, contra a influência desses princípios deletérios e corruptores e prepará-la para resistir às sugestões do meio imoral em que vive. Em 1902, o Boletim da Sociedade de Moralidade Pública reproduzia, sobre o assunto, uma conferência de L. Comte, refutando estes sofismas da perversidade moderna, com o testemunho das mais altas autoridades científicas. 

Aqui vão as palavras de James Paget, uma das glórias ela medicina: 
"A castidade, tão pouco prejudica a alma como ao corpo, ela é altamente recomendável. Entre os numerosos neuropatas e hipocondríacos que me vieram consultar, a respeito das relações imorais, nunca lhes ouvi dizer que tivessem melhorado com essas relações ilícitas". 
O Dr. Perier não é menos categórico: 
"Há uma opinião, diz ele, singularmente falsa e que importa muito combater, porque ascendia a mocidade, e até os pais chegam a se tornar cúmplices da devassidão dos rapazes: é a opinião de perigos imaginários, provenientes da continência absoluta. A continência e a virgindade são a salvaguarda física, moral e intelectual da mocidade; é preciso, portanto, tratar de conservá-la, para reconduzi-la aos antigos e austeros costumes gauleses, de que fala Montaigne." 
O fisiologista Kraft e os doutores Lionel Beale, Acton, Mantegazza, Good exprimem-se com singular energia, no mesmo sentido. Ouçamos o que diz o Dr. Surbled: 
"O celibato, como necessário que é não pode ser impossível nem perigoso. Todos conhecem as misérias da incontinência; as que se pretendem atribuir à castidade perfeita, são supostas e imaginárias. A prova aí está: enquanto se escrevem obras monumentais e sem número, para descrever os desastrosos resultados da incontinência, os inconvenientes da castidade esperam ainda a história e descrição. A esse respeito, há apenas vagos argumentos, que se insinuam torpemente nas conversações, mas que não dariam matéria para um tratado qualquer e não suportam a luz da publicidade." 
Vale a pena deixar consignada aqui a opinião da faculdade de medicina de Cristiania: 
"A Faculdade de Medicina da Universidade de Cristiania tem a honra de declarar o seguinte: a afirmação de diversas pessoas, reproduzida nos jornais e assembléias públicas, de que uma vida pura e moral seria nociva à saúde, não tem fundamento algum, segundo as experiências unanimemente provadas. Nunca descobrimos qualquer prejuízo, proveniente de uma vida absolutamente pura e moral." 
Assinada: J. Nicolayson, E. Winge, Jockmann, J. Heiberg, J. Ijort, T. Wann, Müller, E. Schönberg, professores de medicina da Universidade de Cristiania. 

Good em seu tratado: Higiene e Moral, escreve: 
"Ide consultar os professores mais eminentes de todas as Universidades da Europa e, se me trouxerdes uma única declaração, com a assinatura de algum nome respeitável, uma única citação, de um livro de autoridade, sob o ponto de vista médico, no qual se estude ou descreva uma enfermidade qualquer, proveniente da continência, ou uma afirmação demonstrada, a respeito de algum fato preciso e bem constatado de que a continência pode, quando menos, ser causa agravante de alguma moléstia, queimarei, no mesmo instante, estas páginas e me condenarei ao silêncio, para o resto dos meus dias. E, se tomo a precaução de falar em livro sério e em médicos dignos desse nome, é porque, infelizmente, existe uma completa literatura que se diz médica, cujos autores, abusando da curiosidade malsã de muita gente que assim é levada a esquadrinhar um ponto tão delicado da medicina, dão-se ares de desvendar mistérios que só existem na imaginação deles, ou valem-se de aforismos, em conformidade com os preconceitos populares a que nos referimos astúcias indignas, para lisonjear tendências secretas de seus leitores e aumentar a tiragem de seus livros. É o que se pudera chamar a pornografia médica; mas, seus autores são indignos do título que se arrogam, de servidores da ciência." 
Na conferência a que nos referimos acima, L. Comte dá os seguintes conselhos à mocidade: 
"Guardai puro o corpo e a alma; abstendo-vos de tudo quanto possa enfraquecer a resistência às tentações; fugi dos divertimentos preferidos da maior parte dos rapazes; fora com os jornais e romances que possam enervar os sentidos; submetei a inteligência a uma severa ginástica; não vos demoreis em conversações livres; formai um ideal mais elevado, pensando naquela que talvez: não conheçais ainda, porém, que será mais tarde vossa esposa; entrincheirai-vos nesse amor, como em uma fortaleza de marfim, que não deixa penetrar as manchas da imoralidade. Proponde-vos um ideal, mas não um ideal egoísta e sim desinteressado, que vos acompanha nas lidas quotidianas e consagrai-lhe todo o vosso afeto, todas as vossas energias, todos os tesouros de um coração puro." 
Os jovens que puserem em prática estes conselhos, serão maridos exemplares; mas, é preciso que a donzela escolhida para esposa, mais tarde, tenha as qualidades que se requerem em uma mulher boa, ativa, piedosa, capaz de dirigir por si mesma um lar, em suas múltiplas e variadas exigências. Se, hoje em dia, jovens honestos e virtuosos, não se atrevem a arcar com os riscos do matrimônio, é porque não encontram ou temem não encontrar aquela que o coração lhes pede e o lar exige. 

Um jornal norte-americano prometera um prêmio aquele de seus assinantes, que melhor respondesse a esta pergunta: 

Que faremos de nossas filhas? 

Aí vai a resposta premiada, que muitas mães poderão meditar com proveito: 
"Primeiramente faremos delas boas cristãs e depois, dar-lhes-emos uma boa instrução elementar. Ensine-se-lhes a preparar convenientemente um jantar, a cerzir meias, a pregar botões, a fazer uma camisa e a confeccionar os próprios vestidos. Saibam elas fazer pão e lembrem-se de que, uma cozinha bem dirigida, poupa muitas despesas de farmácia. Ensine-se-lhes que um mil réis tem dez tostões e que, para poupar, é preciso gastar menos e que a miséria é fatal, quando os gastos são maiores do que as rendas; que um vestido de algodão pago, é melhor que um de seda que se fica devendo.  
"É preciso que aprendam, desde cedo, a fazer compras e a dar contas do que gastaram. Repita-se-lhes que vale muito mais um operário à mesa de trabalho e em mangas de camisa, ainda que sem um vintém no bolso, do que meia dúzia de imbecis e vadios.  
"Ensinai-lhes a cultivar as flores e a ver a Deus em todas as criaturas. Feito isto, proporcionai-lhes algumas lições de piano e pintura, se as vossas condições o permitirem, advertindo, porém, que estas artes ocupam lugar secundário e são de pouco proveito no lar. Ensinai-lhes a desprezar as vãs aparências e acostumai-as a guardarem a palavra empenhada e os bons propósitos; que o sim delas seja sim e o não seja não. Quando chegar o tempo de casá-las, inculcai-lhes bem que a felicidade no casamento não depende da fortuna que lhes há de trazer o marido, nem da posição que ele ocupar na sociedade, mas do caráter, dos dotes e virtudes da alma. Com esses princípios bem ensinados e aprendidos, ficai certos de que vossas filhas serão felizes, no caminho que escolherem; quanto ao mais, deixemo-lo a Deus. 
"E, se depois de tudo isso, um rapaz achar que a vossa filha não corresponde às suas aspirações, não se vos dê com isso; é a melhor prova de que esse rapaz é destituído de bom senso e não merece a confiança de uma moça bem educada. Melhor é ficar solteira, do que fazer a desgraça própria e alheia.  
"Mas, pelo amor de Deus, procurai que as vossas filhas possuam as virtudes e conhecimentos necessários à vida e que sejam capazes de inspirar a um rapaz honesto e virtuoso, atrativos pelo casamento. Há tantas que lhes metem medo!" 
Quem não conhece as tradicionais recriminações contra o celibato eclesiástico?

O celibato eclesiástico, dizem, torna a vida de um homem incompleta; reprime e atrofia nele os mais belos e naturais sentimentos, impedindo-o de expandir-se, no matrimônio. A sociedade precisa de cidadãos vigorosos, fortes e inteligentes e o sacerdote, com seu voto de castidade, vai de encontro ao crescite et multiplicamini do Gênesis e nega o seu concurso à geração.

Nas estradas de ferro, nos “cafés”, nas tabernas e oficinas, nas horas de descanso, no teatro e os jornais anticlericais, proferem-se estas acusações, com acentos de indignação.

A Igreja, que sabe que seus ministros são e devem ser homens de Deus, que hão de pairar acima de qualquer sensualidade, inteiramente devotados ao ministério sagrado, quer o sacerdote livre dos encargos da família, encargos muito respeitáveis e legítimos, para os que são chamados ao casamento, mas incompatíveis com o ministério sublime e três vezes santo, que exercem no sacerdócio.

Contemplai o sacerdote no altar; ele representa a pessoa de Jesus Cristo que foi virgem e quis nascer Ele uma Virgem. No tribunal da penitência, recebe as revelações íntimas das consciências mais delicadas e de todos os que vão procurar a paz da alma e um coração discreto a quem possam confiar, com segurança, seus segredos.

Representai-vos, no altar ou no confessionário, um sacerdote com mulher e filhos...; adeus respeito, veneração e confiança dos fiéis.

O sacerdote com família, terá de viver como um pai e marido devem viver; terá de sustentar os seus e preocupar-se com o futuro deles, defender-lhes os interesses, economizar, etc. e tudo isso, em detrimento do ministério sacerdotal, da administração dos sacramentos, da pregação bem preparada, do cuidado dos pobres, dos enfermos e de todos os que têm necessidade de recorrer a seus conselhos e à sua direção.

(...) Ouvi o que diz um homem que não é dos nossos e, portanto, está fora de qualquer suspeita, em sua História de França:

“Há, no matrimônio, por mais santo que seja, há na mulher e na família mais bem organizada, algo que faz perder o vigor e a energia, um quê, capaz de romper o ferro e fazer vergar o aço. Os caracteres mais bem temperados, firmes e inflexíveis, perdem nele alguma coisa”. E conclui que sem o celibato, a Igreja não teria um Santo Tomás, um São Bernardo, nem a abobada do templo de Colônia ou a torre de Strassburgo.

E nós acrescentaremos; sem o sacerdócio, quem haveria capaz de fazer sobressair a dignidade da família e inculcar as obrigações que Deus e a natureza impõem aos casados, obrigações pelas quais terão de responder um dia, perante o tribunal supremo e sem apelação

O sacerdote prega com o exemplo de sua vida casta, mortificada e consagrada à salvação das almas e mostra como a vontade auxiliada pela graça, pode cumprir os deveres que o mundo proclama inexeqüíveis.

Uma luta sem quartel trava-se em nossa natureza decaída, entre a carne e o espírito, luta que importa que acabe pelo triunfo do espírito sobre os sentidos; está nisso empenhada a nossa honra e mais ainda a nossa salvação eterna.

Ora, senhores, esse triunfo nunca é tão completo como na virgindade perfeita. O matrimônio é uma concessão que se faz à parte inferior da natureza, mas a virgindade não quer saber de concessões. Empresa heróica, lhe chama S. Crisóstomo e prossegue: 
"Conheço-lhe as dificuldades e a violência dos ataques, o peso deste fardo, desta guerra de extermínio sem tréguas nem compaixão; é preciso dispor de uma alma de rija tempera, de um coração grande, como de grande aversão ao vicio impuro, para vencê-las. Pó e cinza que somos, propusemo-nos rivalizar com os anjos do céu; é o mortal a porfiar com a própria imortalidade; luta sublime, em que, a virgindade leva a palma para tornar-se a luz do mundo: Virginitas est splendor. A todos aqueles que sofrem, no calor da refrega, da luta de que se queixava o grande Apóstolo, a virgindade brada-lhes, que a alma cristã tem forças suficientes para, com a graça de Deus, disciplinar e subjugar a vida dos sentidos." 
Fazendo mais do que Deus exige, ela lhe defende a autoridade e proclama a sabedoria de seus mandamentos; o seu exemplo é, para os covardes e efeminados, uma contínua e viva censura e para as almas boas, um estímulo que os desprende da terra e lhes facilita o vôo em demanda do céu. Ânimo e coragem, lhes diz ela; quem se atreverá a dizer que não pode regular e santificar os prazeres que Deus permite, quando eu deles me soube livrar sempre?

Crede-me senhores, já não é pouco que o mundo atormentado por tantas paixões tenha sempre diante dos olhos a personificação do triunfo do espírito sobre a carne.

Aí vai mais um testemunho insuspeito de Foerster professor da Universidade de Zurich:

“É preciso desconhecer a verdadeira natureza do homem a sua fisiologia e as leis da história, para dissimular a importância das ordens monásticas e os motivos que temos para desejar que se conservação sempre... são elas uma força civilizadora de primeira ordem.”

(...) O mundo não simpatiza com a continência, que forma a base do celibato. Mas que importa? O mundo passará e as palavras de Jesus Cristo não passarão:

“Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus.”

(Excerto de Quando eu for moça..., de J. Nysten, Centro da Boa Imprensa, Porto Alegre 1925, com imprimatur) 




terça-feira, 29 de maio de 2012

Oração a Santa Rita de Cassia




Ó Poderosa e gloriosa Santa Rita,
eis a vossos pés uma alma desamparada que necessitando de auxílio,
a vós recorre com a doce esperança de ser atendida por vós
que tem o título de Santa dos Casos Impossíveis e Desesperados
Ó cara santa interessai-vos pela minha causa,
intercedei junto a Deus para que me conceda
a graça que tanto necessito (faça o pedido)
Não permitais que tenha de me afastar de vossos pés sem ser atendido.
Se houver em mim algum obstáculo que me impessa 
de alcançar a graça que imploro, auxiliai-me para que o afaste
Envlovei o meu pedido em vossos preciosos méritos
e apresentai-o a vosso celeste esposo, Jesus, em união com a vossa prece.
Ó Santa Rita, eu ponho em vós toda a minha confiança
Por vosso intermédio, espero tranquilamente a graça que vos peço.
Santa Rita, Advogada dos Impossíveis, rogai por nós.

domingo, 27 de maio de 2012

Sinfonia No. 9 ( partes finais) Ludwig van Beethoven


9ª Sinfonia
É a da "Sublimação".
Para motivar-nos a escalar os degraus dos sentimentos de espiritualidade, de devoção.









A VOCAÇÃO PARA UM ESTADO DE VIDA


A vida é um grande campo para o qual Deus chama operários. Tem ela muitas quadras, diversas no tamanho e várias na qualidade. Cada cristão, ao nascer, recebe do Senhor uma nesga desse campo. Assim, pois, a leitora também há de ter a sua porção determinada.

É quase infinita a variação quanto à qualidade e quanto à cultura do campo. Para uns o terreno é fértil, bem situado, favorecido com aguadas. Já outros o recebem arenoso, exposto aos ventos, ressecado. Uns têm a ordem de ará-lo, deitar-lhe a semente e depois esperar pacientemente pela colheita. Outros, porém, hão de convertê-lo, digamos, num pomar frondoso. Por fim, não faltam os que recebem a incumbência de formar um belo jardim sobre o campo entregue. Cada um recebe, pois, de Deus uma tarefa especial na vida, tem um estado de vida designado por Ele.

Nós conhecemos na vida três estados particulares e para um deles está destinada a leitora. Esses três estados formam a terceira vocação.
             
O primeiro consiste no casamento. Em si, sob o ponto de vista religioso, está ele abaixo dos outros, mas é ao mesmo tempo o mais indispensável à obra de Deus. Sobejam vocações para o claustro e para a virgindade no mundo, porque, pelo casamento, há fiéis na terra. Não deixa de ser nobre a vocação do casamento, já pelos deveres que impõe, como pelos heroísmos que exige e pelas virtudes que pode formar. Nobilíssima é a finalidade que Deus lhe deu: a de povoar o céu com os eleitos da graça.

Vem em seguida o celibato, que livra a criatura dos cuidados da família. Pode assim a moça consagrar-se ao serviço de Deus, à caridade para com o próximo, com um coração mais desafogado e mais leve. Também o celibato lhe põe, em geral, muito tempo à disposição e muitas forças às ordens.

O terceiro estado é o da religião. Por ele fica o cristão todo entregue a Deus, a cuja glória consagra seu espírito, seu coração, seu corpo e todos os instantes de sua vida. A vocação religiosa é mais nobre, tanto por suas grandezas como por seus benefícios. Acima dela só há o estado sacerdotal, como exigência da religião, como conseqüência do culto público devido ao Altíssimo. A estrada que a moça na vida religiosa trilha é a
da perfeição, pela observância dos conselhos evangélicos.

Uma grande verdade vale a respeito destes estados. É que Deus tem para cada cristã uma escolha feita. Determina para cada uma o lugar, a vocação, o gênero de vida. Que assim seja no-lo garantem a sabedoria, a providência e a bondade de Deus. O Criador tem no Seu mundo uma ordem admirável. Para cada coisa reserva um lugar e quer cada ser no seu posto. A harmonia desta ordem O preocupa e na sua execução mete Deus Seu bondoso coração. Um grãozinho de areia no mar, a flor sorrindo numa rocha, o inseto que baila e zumbe aos raios do sol estão na Sua mente ordenadora.
A música do mar e o murmúrio dos regatos, a luz cigana do vagalume e o clarão dos relâmpagos, tudo é objeto de Sua providência. Traçou para o infusório, na gota de água, para os astros, no firmamento, as órbitas que descrevem. Até nem cai de nossa cabeça sequer um cabelo sem que Ele o saiba e permita. Mas seria admissível numa tão vasta sabedoria ignorar por completo o lugar que uma cristã haja de ocupar na vida?

Poderia a bondade divina entregar ao acaso aquilo que mais vivamente se prende à felicidade do homem e regula sua salvação eterna? Impossível. Mais do que a ave do céu, que o lírio do campo, é-Lhe a alma cristã objeto de amorosas providências. A ninguém confia Seu carinho paternal pela alma remida com as dores de Seu Filho na cruz.

Vai uma comparação enriquecer a verdade. No corpo humano quis a sabedoria divina estabelecer uma ordem é harmonia admiráveis. Tudo aí está no seu lugar, com sua determinada função. É justamente o corpo místico de Seu Filho, que é a Igreja, seria descuidado? Deixaria, pois, de marcar a cada cristão seu lugar e função? Contra tal hipótese protestam nossa razão e nossa fé.

Por sua vez, a ciência e o poder de Deus lhe asseguram a competência para marcar a vocação da cristã.

Só Ele conhece perfeitamente nossa natureza, aptidões, inclinações, talentos e forças. Estão patentes a Seus olhos as disposições presentes e futuras de cada criatura. Dele é que podem vir os socorros, todas as necessárias graças para o fiel cumprimento dos deveres de estado. E, de fato, o bondoso Pai procede de acordo com Sua ciência. Chamando-nos a determinada feição de vida, prepara e destina as graças reclamadas pela vocação. Marcando o fim, oferece também os meios adequados; mostrando o caminho, aplaina as dificuldades.

Ao lado da razão vem a fé garantir a existência da vocação para cada cristã. "Cada um permaneça na vocação em que foi chamado - eis a ordem de S. Paulo. E adiante o apóstolo consagrado a Deus ajunta: "Porque o meu desejo é que todos sejais tais como eu mesmo; porém cada um tem de Deus seu dom próprio, um realmente de um modo e outro de outro" (1 Cor 7, 7).

Com grato coração creia, portanto, a leitora estar sua vida sob os amorosos olhos de Deus. Já o Pai celeste lhe tem marcado um estado de vida e preparado as graças dos compromissos. Não fale em acaso num assunto de tanta importância. Se cada flor tem sua haste e perfume, cada estrela seu cantinho no céu, mais ainda "o encanto da casa" (assim Deus chama a moça) possui sua haste e seu luminoso cantinho na vida.

Note-se também uma outra coisa. Não pertence aos pais ou aos diretores de consciência marcar o estado de vida de uma cristã. Deles pode servir-se o Senhor e geralmente o faz. Quer que os filhos consultem os pais, se orientem com esclarecidos diretores. Mas nunca consente neles o direito de arbitrariamente marcarem o estado de vida a seus tutelados. Pois nenhum deles pode dar os auxílios necessários para a vocação que impõem. Neste ponto tenha a leitora idéias claras e positivas. Embora acate e respeite a opinião, a experiência dos mais velhos, a autoridade paterna, conserve, todavia, bem claros os limites dos direitos de Deus. Pode ficar descansada. Está em muito boas mãos, em mui bondoso coração a sorte da cristã. Pode ficar tranqüila quanto aos dias venturosos dependentes da sua vocação.

De fato, Deus tem páginas cheias de carinho usado na vida de seus servos e servas. As delicadezas paternas do Altíssimo repetem-se, clamam e comovem.

O jovem Tobias precisava acertar com a vocação e com a escolha da noiva. Do céu lhe vem um companheiro, o Arcanjo Rafael. O gesto de Rebeca, oferecendo água aos camelos de Eliezer, era a amável senha aceita por Deus para designar a esposa de Isaac. Outras vezes a criatura escolhe um estado e o Senhor a demove por várias circunstâncias. José Martin, moço esbelto, apresenta-se no mosteiro de São Bernardo. Quer ser monge. Mas o prior descobre a falta de um requisito muito simples: o moço não completara seus estudos de latim. Reenvia-o, portanto, ao mundo. Lá José desposa mais tarde a Zélia Guerin, moça que fora também pedir admissão no convento de religiosas, mas não obtivera seu intento. Era o amável desígnio de Deus, que destinara a ambos para autores da vida de Santa Teresinha.

A missão de José e Zélia era muito diferente.

Aleixo não tinha intenções de casar-se. Instado pelos pais, reza muito, e por fim se resolve a atendê-los. O casamento foi realizado com a pompa conveniente ao filho de um senador riquíssimo. Na mesma tarde sentiu nosso jovem um impulso irresistível de abandonar sua esposa, os pais e a casa paterna. Procurou a esposa, fez-lhe presente de mui ricas jóias, pedindo-lhe as aceitasse como penhor de seu amor a ela. Sem nada dizer a ninguém, abandona em seguida a casa e parte para a Síria. Após longos anos regressa e vive durante 17 anos como pobre agasalhado na própria casa paterna, à vista dos pais e da esposa. Deus marcara para Aleixo vocação tão original e tão edificante.

O príncipe Eugênio de Savóia era piedosíssimo e seus pais queriam-no sacerdote, consagrado a Deus. Mas o moço relutava contra tal intento, alegando sua inclinação e paixão pela vida militar. Segue-a e torna-se depois o célebre marechal esmagador dos turcos em Zenta, batalha que livrou a cristandade.

Francisca Romana, às ocultas, nutria, como moça, a intenção de consagrar-se a Deus no convento. Mas o Senhor a queria primeiro esposa santa, depois mãe cristã e por fim religiosa virtuosa.

Na Escritura Deus chega mesmo a dizer que nos tomará sobre Seu ombro, como um pai toma seu filho para vencer qualquer dificuldade no caminho. Garante-nos que mandará em nossa frente seu anjo para remover toda pedra de tropeço. Está claro que tais delicadezas são usadas com quem é também delicado para com Deus e atento às inspirações que dEle promanam.

Se a gentil leitora procura ser assim para com Deus, pode contar com igual proteção na escolha do estado. Do contrário, permite o Senhor que a “tal independente” faça lá suas experiências bem amargas e bem caras.

(Escolha do futuro pelo Padre Geraldo Pires de Souza, 1946)