"Podemos, portanto, conforme os sentimentos dos Santos
e de muitos homens célebres, dizer-nos e tornar-nos
escravos de amor de Maria Santíssima, para ser, assim,
mais perfeitamente escravos de Jesus Cristo." (São Luís Maria Grignion de Montfort)
A intenção reparadora, chave desta devoção.
Respondamos, primeiramente, a uma objeção que muitas vezes escutamos da parte de pessoas pouco esclarecidas no domínio da fé. Essas pessoas contestam esta devoção afirmando que ela se opõe à perseverança na vida cristã: com efeito, dizem, bastaria praticar uma só vez na vida a devoção reparadora para ter assegurado sua salvação eterna; depois, as almas poderiam fazer o que quisessem, deixar a prática religiosa e cair nos piores pecados, pois estariam de qualquer maneira salvos para a eternidade! É fácil refutar esta objeção: uma alma que cumprir a devoção reparadora com tal espírito não obteria a graça da perseverança final, ligada por Nossa Senhora a esta prática, já que ela não a faria com reta intenção (condição indispensável a todos nossos atos religiosos e de devoção, para receber as bênçãos e graças de Deus) nem com o cuidado de reparar e consolar o Coração de Maria! Tal prática equivaleria, ao contrário, em abusar gravemente da misericórdia de Deus, utilizando a promessa da salvação eterna feita por Nossa Senhora para legitimar todos os pecados que fossem cometidos em seguida; isto é o pecado de presunção de sua salvação que é um dos sete pecados contra o Espírito Santo!
Reparar pelos pecadores.
As almas que querem praticar a devoção dos primeiros sábados do mês conforme a vontade do Céu, devem fazê-la na intenção geral de reparar e consolar Nossa Senhora, em substituição dos pobres pecadores que ultrajam e blasfemam contra ela: trata-se, por caridade fraterna, de “implorar o perdão e a misericórdia em favor das almas que blasfemam contra Nossa Senhora porque, a essas almas, a misericórdia divina não perdoa sem reparação”. Foi isso que afirmou Nosso Senhor a Lúcia em 29 de maio de 1930, depois de ter revelado as cinco espécies de ofensas e de blasfêmias que se trata de reparar (infra):
“Eis, minha filha, porque motivo o Imaculado Coração de Maria me inspirou para pedir esta pequena reparação e em consideração a ela, comover minha misericórdia para perdoar às almas que tiveram a infelicidade de ofendê-lo. Quanto a ti, procure sem cessar, por tuas orações e teus sacrifícios, comover minha misericórdia em relação às pobres almas.”
Esta intenção reparadora, movida pela caridade fraterna, deveria nos dar um grande zelo para cumprir a devoção dos primeiros sábados não apenas cinco vezes em nossa vida, para assegurar a salvação pessoal, mas cada primeiro sábado, a fim de permitir a salvação eterna do maior número possível de pecadores. Porque aí está um dos grandes objetivos da devoção reparadora ao Imaculado Coração de Maria: “salvar almas, muitas almas, todas as almas”.
Ora, o conjunto de acontecimentos sobrenaturais de Fátima, Pontevedra e Tuy nos mostra claramente e repetidas vezes, que são muitas as almas condenadas à eternidade:
- A 13 de julho de 1917, os três pastorinhos têm a visão do inferno, que está longe de ser um lugar vazio:
Nossa Senhora mostrou-nos um grande mar de fogo [...]. Mergulhado nesse fogo, os demônios e as almas [...] almas flutuavam no incêndio, levadas pelas chamas, que delas mesmas saíam, com nuvens de fumo caindo para todos os lados, semelhante ao cair das fagulhas nos grandes incêndios, sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e de desespero que horroriza e fazia estremecer de pavor.
- A 19 de agosto de 1917, no fim da aparição, Nossa Senhora diz aos três videntes:
Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores; que vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas.
- A 13 de junho de 1929, na aparição de Tuy, Nossa Senhora concluiu a teofania trinitária com a qual Lúcia foi gratificada, por essas terríveis e surpreendentes palavras:
São tantas as almas que a Justiça de Deus condena por pecados contra mim cometidos que venho pedir reparação. Sacrifica-te por esta intenção e reza.
Irmã Lúcia sempre afirmou que o número de almas danadas era muito grande. Ela conclui assim sua carta para um jovem, tentado a abandonar o seminário: “Não se surpreenda se falo tanto do inferno. Esta é uma verdade que é necessária lembrar muito nos tempos presentes, porque é esquecida: é um turbilhão de almas que caem no inferno. Então, o senhor não acha que são bem empregados todos os sacrifícios que é preciso fazer para não ir para lá e para impedir que muitos outros caiam lá?”. E ao Padre Lombardi que, em outubro de 1953, a interrogou sobre o inferno, ela respondeu: “Padre, numerosos são aqueles que são condenados.[...] Padre, muitos, muitos se perderão.”
Obter a conversão de um pecador
É também louvável e frutífero praticar esta devoção para obter a conversão desse ou daquele grande pecador de nossas relações. A carta da irmã Lúcia ao bispo titular de Gurza, de 27 de maio de 1943, já citada, esclarece muito bem sobre o poder e eficácia sobrenatural da devoção aos Santíssimos Corações de Jesus e Maria:
“Os Santíssimos corações de Jesus e Maria amam e desejam este culto [para com o Coração de Maria] porque dele se servem para atrair todas as almas a eles e isto é tudo o que desejam: salvar as almas, muitas almas, todas as almas”. Nosso Senhor me dizia, há alguns dias: “Desejo ardentemente a propagação do culto e da devoção ao Coração de Maria porque este Coração é o ímã que atrai as almas para mim, a fornalha que irradia na terra os raios de minha luz e de meu amor, fonte inesgotável de onde brota na terra a água viva de minha misericórdia”.
Pondo toda sua confiança no Imaculado Coração de Maria, muitos católicos portugueses praticaram a devoção reparadora dos cinco primeiros sábados em favor de um próximo, grande pecador e bem afastado da vida cristã. Entre outros, este belo testemunho de uma senhora de Guimarães (norte de Portugal), publicado no boletim de agosto de 2001 da Cruzada Eucarística das crianças de Portugal: esta mulher conta que ela tinha um irmão repatriado de Moçambique, que era um revoltado e um blasfemador. Tinha abandonado a esposa legítima para viver com outra mulher, da qual tinha dois filhos. Para obter do Imaculado Coração de Maria a sua conversão, sua irmã fez por ele e em seu lugar, a devoção dos cinco primeiros sábados do mês:
“No começo de agosto de 1981, meu irmão estava muito mal. Quando lhe perguntaram se queria ver um padre, proferiu blasfêmias contra os padres. Como a doença se agravava, deu entrada em um hospital de Braga. Os outros doentes diziam que ele não tinha um momento de repouso, nem de dia, nem de noite e que não deixava ninguém em paz. Para grande estupefação de todos, em 18 de agosto de 1981, pediu várias vezes um padre. Dois padres vieram administrar os últimos sacramentos. Imediatamente depois que eles saíram inclinou a cabeça para o lado e morreu. Sem dúvida, foi o Coração Imaculado de Maria que salvou meu pobre irmão, que fora tão pecador. Não queria olhar para ele depois de morto, temendo ver seu rosto deformado como o tinha durante sua doença. Mas não pude resistir e me aproximei durante a missa, que teve lugar na capela do hospital. Ele não parecia o mesmo homem! Estava tão bonito, sorridente. Parecia que sua amargura se transformara em alegria”.
O que é preciso fazer
Uma alma cristã que deseje realizar perfeitamente a devoção reparadora dos primeiros sábados do mês deve fazer, durante cinco primeiros sábados consecutivos, na intenção geral de reparar seus próprios pecados e os de toda a humanidade, junto ao Coração Imaculado de Maria, quatro atos diferentes de piedade:
1 - A confissão, que pode ser antecipada, até mesmo mais de oito dias, se for impossível ou muito difícil se confessar no primeiro sábado. O mais importante é ter a intenção, se confessando, de reparar o Coração Imaculado de Maria. (É preciso também, naturalmente, estar em estado de graça no primeiro sábado do mês a fim de fazer uma boa e frutífera comunhão.) A intenção reparadora deve ser dita ao confessor? Irmã Lúcia nunca mencionou se é preciso dizer alguma coisa ao padre. Uma formulação interior, puramente mental, é suficiente. Nosso Senhor até mesmo acrescentou que aqueles que esquecessem de formular a intenção reparadora “poderão formulá-la na confissão seguinte, aproveitando a primeira ocasião que tiverem para se confessar.”
2 – Recitação do terço: Nossa Senhora, em Fátima, insistiu muito na recitação quotidiana do terço. Foi esse o único pedido que ela repetiu para as crianças em todas as seis aparições, de 13 de maio a 13 de outubro de 1917: nesse dia revelou aos pastorinhos sua identidade: “Sou Nossa Senhora do Rosário”. Não é, pois, de espantar que a recitação do rosário seja encontrada na devoção reparadora dos primeiros sábados . Além disso, como não existe oração vocal mais mariana do que o terço, convém que este seja integrado a essa devoção já que se trata de reparar as ofensas feitas à Nossa Senhora e a seu Coração Imaculado.
3 – Os 15 minutos de meditação sobre os 15 mistérios do rosário: Trata-se de “fazer companhia a Nossa Senhora durante15 minutos, meditando sobre os 15 mistérios do rosário, em espírito de reparação”. Isto não quer dizer que se deva meditar todo primeiro sábado sobre os 15 mistérios em sua totalidade, passando um minuto em cada mistério. Ao contrário, cada alma está livre para organizar seu quarto de hora de meditação como entender, desde que o objeto da meditação seja os mistérios do rosário. Algumas almas preferirão meditar o mesmo mistério durante vários primeiros sábados, outras um mistério diferente cada primeiro sábado, outras ainda três mistérios cada primeiro sábado (cinco minutos por mistério), etc. Sendo as almas diferentes umas das outras, é normal que tenham gostos e necessidades espirituais diferentes; é por isso que a Igreja sempre teve o cuidado de deixar aos fiéis uma grande amplidão para cada um organizar sua vida espiritual.
4 – A comunhão, que é o ato essencial da devoção reparadora. Para compreender bem toda sua importância, convém colocá-la em paralelo com a comunhão das nove primeiras sextas-feiras do mês, pedidas pelo Sagrado Coração em Paray-le-Monial e com a comunhão milagrosa dos três pastorinhos de Fátima, no outono de 1916: o Anjo da Guarda de Portugal deu então a esta comunhão um espírito eminentemente reparador, repetindo seis vezes com as crianças (três vezes antes da comunhão e três vezes depois) as palavras que são chamadas a segunda oração do Anjo:
“Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu vos adoro profundamente e vos ofereço o preciosíssimo Corpo, Sangue Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que ele mesmo é ofendido; e pelos méritos infinitos de seu Sacratíssimo Coração e do Imaculado Coração de Maria, peço-vos a conversão dos pobres pecadores.”
No contexto da atual crise da Igreja é certo que esta intenção reparadora toma uma nova dimensão: quantas irreverências, sacrilégios são causadas pela reforma litúrgica de Paulo VI: não apenas pela comunhão dada na mão, como também distribuída a todos os assistentes sem nunca lembrar a necessidade do estado de graça; pela supressão das marcas de adoração ao Santíssimo Sacramento, etc. Hoje, a comunhão dos primeiros sábados deve ser feita para reparar todas essas profanações.
Um último ponto importante: a prática da devoção reparadora em seu conjunto “será aceita no domingo que segue o primeiro sábado, quando meus padres, por motivos justos, o permitirem às almas.”
É pois, aos padres, e não à consciência individual de cada um, que Jesus confia o cuidado de conceder esta facilidade suplementar, tão misericordiosa. Por essa concessão, talvez Nosso Senhor fizesse alusão a estes tempos em que estamos, onde não é sempre fácil aos fiéis assistir à verdadeira missa no sábado. Em todo caso, esta disposição torna mais fácil a prática da comunhão reparadora para os católicos fiéis de hoje.
[Continua]
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