quarta-feira, 9 de maio de 2012

Hugo de S. Vitor



OPÚSCULO SOBRE O MODO DE 
APRENDER E DE MEDITAR 

A humildade é necessária ao que deseja aprender. 
A humildade é o princípio do aprendizado, e sobre ela, muita coisa tendo sido escrita, as três seguintes, de modo principal, dizem respeito ao estudante. 
A primeira é que não tenha como vil nenhuma ciência e nenhuma escritura. 
A segunda é que não se envergonhe de aprender de ninguém. 
A terceira é que, quando tiver alcançado a ciência, não despreze aos demais. 
Muitos se enganaram por quererem parecer sábios antes do tempo,   pois com isto envergonharam-se de aprender dos demais o que   ignoravam. Tu, porém meu filho, aprende de todos de boa vontade aquilo que desconheces. Serás mais sábio do que todos, se quiseres    aprender de todos. Nenhuma ciência, portanto, tenhas como vil,   porque toda ciência é boa. Nenhuma Escritura, ou pelo menos, nenhuma Lei desprezes, se   estiver à disposição. Se nada lucrares, também nada terás perdido. Diz, de fato, o Apóstolo: "Omnia legentes, quae bona sunt tenentes" (I Tess 5, 21). 
O bom estudante deve ser humilde e manso, inteiramente alheio aos cuidados do mundo e às tentações dos prazeres, e solícito em   aprender de boa vontade de todos. 
Nunca presuma de sua ciência; não queira parecer douto, mas sê-lo; busque os ditos dos sábios, e procure ardentemente ter sempre os seus vultos diante dos olhos da mente, como um espelho. 

Três coisas necessárias ao estudante. 

Três coisas são necessárias ao estudante: a natureza, o exercício e a disciplina. 
Na natureza, que facilmente perceba o que foi ouvido e firmemente retenha o percebido. 
No exercício, que cultive o senso natural pelo trabalho e diligência. 
Na disciplina,  que vivendo louvavelmente, componha os costumes     com a ciência. 


Prime pelo engenho e pela memória. 



Os que se dedicam ao estudo devem primar simultâneamente pelo engenho e pela   memória,  ambos os quais em todo estudo estão de   tal modo unidos entre si que, faltando um, o outro não poderá   conduzir ninguém à perfeição, assim como de nada aproveitam os lucros onde faltam os vigilantes, e em vão se fortificam os tesouros quando não se tem o que neles guardar. 
O engenho é um certo vigor naturalmente existente na alma, importante em si mesmo. 
A memória é a firmíssima percepção das coisas, das palavras, das sentenças e dos significados por parte da alma ou da mente. 
O que o engenho encontra, a memória custodia. 
O engenho provém da natureza, é auxiliado pelo uso, é embotado pelo trabalho imoderado e aguçado pelo exercício moderado. 
A memória é principalmente ajudada e fortificada pelo exercício de reter e de meditar assiduamente. 


( continua )







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