segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Últimas Horas de Santa Terezinha




Para terminarmos e mostrar como ela edificava todos os que a rodeavam até no último momento de sua vida, traduzimos aqui o relato do seu último dia na terra, numa quinta-feira do dia 30 de setembro de 1897, feito pela irmã Inês de Jesus:

“Durante a manhã eu (irmã Inês) a (Santa Terezinha) vigiava durante a Missa. Ela não me dizia nada. Ela estava esgotada, ofegante; seus sofrimentos, eu presumia, eram inexprimíveis. Num determinado momento, ela juntou as mãos e olhando à estátua da Virgem Maria disse:

- Oh! Eu rezei a ela com grande fervor! Mas é uma agonia pura, sem mistura alguma de consolação.

Eu lhe disse algumas palavras de compaixão e de afeição e acrescentava que ela tinha bem me edificado durante sua convalescência.

- E você, as consolações que tinha me dado! Ah! Como elas são enormes!
Durante todo o dia, sem um instante de trégua, ela permaneceu, podemos dizer sem exageros, sob verdadeiros tormentos. Ela parecia estar no fim de suas forças e, todavia, para nosso espanto, ela podia se mexer, se sentar no seu leito.

- …Veja, nos dizia ela, como tenho forças hoje! Não, eu não vou morrer! Eu ainda tenho forças por vários meses, talvez até mesmo vários anos!
E se o bom Deus o quisesse, diz a Nossa Madre, você o aceitaria?

Ela começou a responder, na sua agonia:

- Seria bem necessário…

Mas se corrigindo na mesma hora, ela diz com um tom de resignação sublime e caindo novamente sobre seu travesseiro:

- Eu quero com certeza!

Eu pude recolher essas exclamações, mas é bem difícil de transmitir o seu tom:

- Eu não creio mais na morte para mim… Eu creio apenas no sofrimento… melhor assim!

- Ó meu Deus!… Eu amo o bom Deus! O minha boa Virgem Maria, venha em meu socorro!

- Se isso é a agonia, o que é então a morte?!…

- Ah! Meu bom Deus!… Sim, ele é muito bom, eu o vejo muito bom…

E olhando para a Virgem Maria:

- Oh! A senhora sabe que estou me sufocando!

Para mim:

- Se você soubesse o que é se sufocar!

O bom Deus vai ajudá-la, minha pobrezinha, e terminará logo mais.

- Sim, mas quando?

- …Meu Deus, tenha piedade de vossa pobre menina! Tenha piedade!

Para Nossa Madre:

- Ó minha Madre, eu vos garanto que o cálice está cheio até a boca!…

- …Mas o bom Deus não vai me abandonar, certamente… …Ele nunca me abandonou.

- …Sim, meu Deus, tudo o que quiser, mas tenha piedade de mim!

- …Minhas irmãzinhas! Minhas irmãzinhas rezem por mim!

- …Meu Deus! Meu Deus! Vós que sois tão bom!!!

- …Oh! Sim, vós sois bom! Eu o sei…

Depois do ofício de Vésperas, Nossa Madre colocou sobre seus joelhos uma imagem de Nossa Senhora do Monte Carmelo. Ela olhou por um instante e disse o quanto Nossa Madre lhe tinha garantido que ela logo mais iria acariciar Nossa Senhora como também o Menino Jesus nessa imagem:

- Ó minha Madre, apresentai-me logo à Virgem Maria, eu sou um bebê que não agüenta mais! … Prepare-me para bem morrer.

Nossa Madre lhe respondeu que tendo sempre compreendido e praticado a humildade, sua preparação já estava feita. Ela refletiu por um instante e pronunciou humildemente essas palavras:

- Sim, me parece que nunca busquei outra coisa senão a verdade; sim, eu compreendi a humildade de coração… parece-me que sou humilde.

Ela repetiu ainda:

- Tudo o que escrevi sobre meus desejo de sofrimento. Oh! É bem verdadeiro!

- Eu não me arrependo de me ter entregado ao Amor.

Com insistência:

- Oh! Não, eu não me arrependo, muito pelo contrário!

Um pouco depois:

- Eu nunca teria crido que era possível sofrer tanto [nota: nunca aplicamos nela injeção alguma de morfina]! Nunca! Nunca! Eu não posso compreender tal coisa senão pelos desejos ardentes que tive de salvar as almas.

Por volta das 5 horas, eu estava sozinha perto dela. Seu rosto mudou de repente, compreendi que era a última agonia. Quando a Comunidade entrou na enfermaria, ela acolheu todas as irmãs com um doce sorriso. Ela segurava seu Crucifixo e o olhava constantemente. Durante mais de duas horas, a respiração rouca arranhava seu peito. Seu rosto estava congestionado, suas mãos roxas, ela tinha os pés congelados e tremia todos seus membros. Um suor abundante caia em gotas enormes sobre seu rosto e inundava suas bochechas. Ela estava sob uma opressão cada vez maior e lançava às vezes pequenos gritos involuntários para respirar. 

Durante esse tempo tão cheio de agonia para nós, escutávamos pela janela – e eu sofria bastante – o canto de vários pássaros, mas tão fortemente, de tão perto e durante tanto tempo! Eu rezava para o bom Deus de os fazer calar, esse concerto me perfurava o coração e tinha medo que ele cansasse nossa Terezinha.

Durante outro momento, ela parecia ter a boca tão ressecada que a irmã Genevieve, achando que a aliviaria, lhe colocava nos lábios um pequeno pedaço de gelo.Ela o aceitou lhe fazendo um sorriso que nunca me esquecerei. Era como um supremo adeus.

Às 6 horas o Angelus soou, ela olhou longamente para a estátua da Virgem Maria.
Enfim, às 7 horas e pouco, Nossa Madre tendo despedido a Comunidade, ela suspirou:

- Minha Madre!? Não é isso a agonia?… Não irei morrer?…

Sim, minha pobrezinha, é a agonia, mas o bom Deus quer talvez prolongá-la por algumas horas. Ela retoma com coragem:

- Ora bem!… Vamos!… Vamos!… Oh! Eu não quereria sofrer menos tempo…

E olha seu Crucifixo:

- Oh! Eu o amo!…………………………. Meu Deus… Eu vos amo………………………….

De uma hora para outra, após ter pronunciado essas palavras, ela caiu suavemente para trás, com a cabeça inclinada para a direita. Nossa Madre fez soar imediatamente o sino da enfermaria para chamar a Comunidade. “Abram-se todas as portas” dizia a Madre no mesmo instante. Essas palavras tinha algo de solene, e me fizeram pensar que no Céu o bom Deus o dizia também a seus anjos.

As irmãs tiveram o tempo de se ajoelhar em torno do leito e foram testemunhas do êxtase da pequena Santa que morria. Seu rosto tinha tomado a cor de uma flor-de-lis que tinha quando em plena saúde, seus olhos estavam fixados no alto, brilhantes de paz e de alegria. 

Ela fazia alguns movimentos de cabeça, como se Alguém a tivesse divinamente ferido com uma flecha de amor, depois retirado a Flecha para a ferir novamente… A irmã Maria da Eucaristia se aproximou com uma vela para ver de mais perto seu olhar sublime. Diante da luz dessa vela, não houve movimento algum de suas pálpebras. Esse êxtase durou o tempo de um “Credo”, e ela deu seu último suspiro.

Após sua morte, ela conservou um sorriso celeste. Ela estava com uma beleza encantadora. 

Ela segurava tão forte seu Crucifixo que foi necessário arrancá-lo de suas mãos para enterrá-la. A irmã Maria do Sagrado-Coração e eu fizemos tal serviço, com a irmã Amada de Jesus, e notamos que ela não parecia ter mais do que 12 ou 13 anos. Os membros do seu corpo permaneceram flexíveis até o dia do seu enterro, numa segunda-feira, no dia 4 de outubro de 1897.


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