Padre Emmanuel de Gibergues
A última educação do moço, não é a menos importante. Trata-se de premuni-lo contra os perigos que vai encontrar na vida; contra os assaltos, até aí desconhecidos, das suas próprias paixões, contra o arrebatamento de tudo o que é novo e sedutor.
Mas ainda não é o momento de dizer: Tudo está concluído; não resta senão rezar. Sem dúvida; é preciso que redobrem as orações, mas é também preciso agir, não ficar em inação.
A autoridade deverá ser exercida com mais brandura, com mais ponderação e deve revestir-se de mais doçura, tato e circunspeção; mas deverá conservar-se vigilante e firme, não se conformar com o mal, dizendo: todo o mundo faz assim é preciso passar a mocidade; mas dizer, pelo contrário: “Não! o meu filho, não será como toda essa gente: é preciso que a sua mocidade, o seu sangue e a sua virtude se conservem intactos, para Deus, para a pátria e para a família que, por sua vez, há de constituir”.
Falai-lhe dos seus futuros deveres, de sua família, de seus filhos e de sua esposa! Em tudo isto há uma fonte de sentimentos nobilíssimos, muito poderosos, que, maravilhosamente, hão de vir em socorro da religião, que há de sustentá-lo nas terríveis lutas que vai sofrer e assegurar-lhe e vitória. Fazei pairar, com antecipação, sobre a sua vida, a imagem da terna e inocente donzela e a dessas nobres criatura que se lhe assemelharão, e das quais ele será pai.
Dar-lhe-eis deste modo, força maravilhosa, e assim o protegereis e o preservareis...
Se cair, não penseis que está tudo perdido; não desespereis, para que não fique com vontade de desesperar-se também. Sede bons, perdoai-lhe, levantai-o; nunca o façais perder a confiança em vós, em vosso coração.
Mas sede firmes e sem fraquezas. Há horas em que só o pai pode salvar o filho; só ele é que terá bastante autoridade e força para isso. Só a voz da natureza e do sangue será bastante poderosa para ser atendida.
Enfim, ajudai vossos filhos na questão grave do futuro, que não podem decidir a sós. Tratando-se de vocação religiosa, sondai-lh'a com prudência; mas não lhe ponhais obstáculos. Se a vocação não for de Deus, cairá por si perante estas prudentes medidas. Se for de Deus, que mal e que erro seria a vossa oposição a Deus! Que consequências para o futuro de vossos filhos!
Tratando-se de casamento, ponde de parte a ambição, a avareza, o egoísmo, e colocai-vos francamente sob o ponto de vista do verdadeiro bem de vossos filhos, e sob o ponto de vista cristão. Assegurai-vos da moralidade e sentimentos religiosos, da saúde, do caráter, do gênero de educação e da família. Tomai bem as informações, nunca serão demasiadas; sede desconfiados e não crédulos.
Em seguida, deixai a palavra ao interessado; não precipiteis nada; dai tempo para se verem e tornarem a ver: para se conhecerem, para saberem se são do agrado um do outro; nunca forceis um coração; as consequências poderiam ser desastrosas.
Tratando-se, finalmente, duma carreira a seguir, esclarecei e auxiliai-o com os vossos conselhos, mas guiai-vos sempre por vistas elevadas e por motivos nobres e cristãos; depois deixai o rapaz seguir livremente a sua inclinação e as suas aptidões; não lhe imponhais nunca a vossa vontade pessoal.
É na Escritura Sagrada, meus senhores, que deveríeis ler a importância do pai, e de seus deveres, as bênçãos permitidas aos que os cumprem, as infelicidades e os castigos dos que os desprezam. Deixo isto ao vosso cuidado. Vereis que não há palavras mais surpreendentes em qualquer outro assunto, do mesmo modo que não há palavra mais temível do que a que o Salvador dirige aqueles que fazem mal às crianças: “Aquele que houver escandalizado um destes pequenos, seria melhor que lhe atassem uma pedra ao pescoço e fosse lançado ao fundo do mar”.
Como será terrível no dia do juízo a responsabilidade dos pais! Ah! que bênçãos para aqueles que houverem compreendido os seus deveres, e os tiverem preenchido digna e corajosamente, para aqueles que tiverem sido os salvadores de seus filhos, e, por eles, de inúmeras gerações!
Mas que maldições cairão sobre aqueles que tiverem desprezado os mais santos e mais sagrados de todos os deveres; sobre aqueles que tiverem sido o escândalo e a perdição de seus filhos, e, por eles, de muitos outros!
Se, em nossos dias, há um espetáculo que entristeça profundamente os que se importam com a virtude e o bem, com o futuro da religião e do país, é o espetáculo da decadência da autoridade paterna. Têm-se atacado a autoridade e os direitos de Deus, a paternidade divina; têm-se exaltado os direitos do homem, o direito dos filhos, nos escritos, nos discursos, nas leis, de todos os modos. Um sopro forte de independência passou sobre as novas gerações. A autoridade paterna tem sido profundamente abalada nos costumes e nas leis, minada pela base, descoroada, desarmada! Os mais ilustres pensadores disseram-no, e soltaram o brado de alarma.
Os filhos já não querem obedecer: querem mandar antes do tempo; elevam-se acima dos pais, e acham-se superiores em tudo. Acabou-se a autoridade, acabou-se o respeito, acabou-se a submissão, acabou-se a família. É o individualismo excessivo; é a sociedade que se pulveriza.
Quem nos tornará a dar homens? Quem tornará a fazer cristãos, para que a sociedade se erga? São as famílias cristãs, os lares cristãos, os únicos capazes de fazerem reflorescer ainda a autoridade, o respeito, a obediência.
São os guardas do lar, os chefes de família; são os pais!
Disseram bem: “Os filhos são a colheita dos pais.” Se já não temos homens, ou pelo menos se não temos bastantes; se a colheita é demasiadamente rara, se os celeiros da França estão vazios, é porque nos faltam pais, pais cristãos.
E eis porque, na tormenta que nos agita, todos os que, pensando no futuro não se querem desanimar, todos os que guardam no coração uma confiança invencível e esperanças imortais, se voltam para os pais, e lhes rogam que se conheçam a si mesmos, para compreenderem a grandeza de seus deveres e a sua influência soberana, e para lhes dizerem: “É de vós, ó chefes de família, ó representantes de Deus, ó dispensadores da vida, ó guardas da infância, é de vós, ó pais cristãos que dependem neste mundo, os bens e os males, a virtude e o vício, a grandeza e a decadência, a vida e a morte da família e da sociedade, dos indivíduos e do Estado, da Igreja e da França!"
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