Ele nos amou e se entrou por nós (Ef 5,2).
Considera
que o Verbo eterno é Deus, o Ser infinitamente feliz em si mesmo, de sorte que
não podia ser maior a sua felicidade: a salvação de todos os homens não podia
aumentá-la nem diminuí-la; e não obstante Ele tanto fez e padeceu para salvar a
nós, miseráveis vermes, que não podia fazer nem padecer mais, diz S. Tomás, se
a sua felicidade dependesse da do homem. E de fato, se Jesus Cristo não tivesse
podido ser feliz sem remir-nos, como poderia humilhar-se mais do que se
humilhou, chegando a tomar sobre si as nossas enfermidades, os abaixamentos da
infância, as misérias da vida humana, e uma morte tão cruel e ignominiosa?
Só
um Deus era capaz de amar-nos com tal excesso, a nós miseráveis pecadores, tão
indignos de amor. Se Jesus Cristo, diz um piedoso autor, nos permitisse
pedir-lhe as maiores provas de seu amor, quem jamais ousaria pedir-lhe que se
fizesse criança como nós, se revestisse de todas as nossas misérias, se
tornasse o mais pobre, o mais desprezado e o mais maltratado de todos os
homens, até a morrer pela mão dos carrascos e à força de tormentos num patíbulo
infame, amaldiçoado e abandonado por todos, mesmo por seu Pai eterno que
abandonou o Filho para não nos abandonar em nossa ruína? Mas o que nós nem
ousaríamos pensar, o Filho de Deus pensou e fez. Desde a infância se sacrificou
por nós às penas, aos opróbrios e à morte. Ele nos amou e como penhor desse
amor deu-se a nós, a fim de que, oferecendo-o como vítima a seu Pai para expiar
nossas faltas, pudéssemos por seus méritos obter da bondade divina todas as
graças que desejamos, pois essa Vítima é mais agradável aos olhos de Deus
Padre, do que o seria o sacrifício da vida de todos os homens e de todos os
anjos. Ofereçamos, pois sempre a Deus os méritos de Jesus Cristo, e por eles
peçamos e esperemos todos os bens.
Afetos e Súplicas.
Meu Jesus, eu seria muito
injusto para com a vossa misericórdia e o vosso amor, se, após tantas provas de
vosso afeto e da vontade que tendes de me salvar, eu desconfiasse do vosso amor
e da vossa misericórdia. Meu amado Redentor, sou um pobre pecador; mas viestes procurar
não os justos mas os pecadores. Sou um pobre doente; mas viestes curar os enfermos:
Os sãos não têm necessidade de médico, mas sim os enfermos, dissestes vós. Eu
me perdi por meus pecados; mas viestes, vós mesmo no-lo garantis, para salvar
os que estavam perdidos. Que tenho, pois a temer se quero emendar-me e ser
vosso? Só posso desconfiar de mim mesmo, da minha fraqueza, mas minha fraqueza
e minha miséria devem aumentar minha confiança em vós, que vos dizeis o refúgio
dos pobres e que prometestes atender os seus desejos. A graça pois que vos peço
é a de pôr minha confiança em vossos méritos e de nunca cessar de me recomendar
a Deus em vosso nome. — Padre eterno, pelo amor de Jesus Cristo, salvai-me do
inferno, e acima de tudo do pecado; pelos méritos desse amado Filho,
iluminai-me para cumprir a vossa vontade, fortificai-me contra as tentações,
dai-me o dom do vosso amor. Porém mais do que tudo peço-vos a graça de suplicar
sempre o vosso socorro139 pelo amor de Jesus Cristo, que prometeu que
atendereis todas as súplicas de quem vos pede em seu nome. Se eu continuar a
pedir-vos assim, serei certamente salvo; do contrário perder-me-ei certamente.
Santíssima Virgem,
obtende-me a grande graça da oração e da constância em recomendar-me sempre a
Deus e também a vós, que obtendes de Deus tudo o que desejais.
(Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo – Santo Afonso
Maria de Ligório)
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