JESUS NASCE MENINO.
Considera que a primeira indicação
dada pelo anjo aos pastores para reconhecerem o Messias recém-nascido, foi que
o acharam sob a forma duma criança: Achareis um menino envolto em paninhos e reclinado num presépio. A
pequenez das crianças é um grande atrativo para os corações; mas esse atrativo
deve ser bem maior e poderoso para nós em Jesus, que, sendo Deus infinito, se
fez pequeno por nosso amor, como observa S. Agostinho.
Adão apareceu no
mundo em estado de homem perfeito; mas o Verbo eterno quis nascer criança:
Parvulus natus est nobis;
e isso a fim de atrair mais fortemente nossos corações a seu amor. “Assim quis
nascer, diz S. Pedro Crisólogo, Aquele que queria ser amado”. Não vem à terra
espalhar o terror, mas conquistar o amor; eis porque quer mostrar-se primeiro
como uma pobre e tenra criança. O
Senhor é grande e infinitamente digno de louvores, exclama S.
Bernardo, com o profeta-rei; mas considerando em seguida a Jesus feito uma
criancinha no estábulo de Belém, o santo ajunta com ternura: “Esse Deus tão
grande, meu soberano Senhor, se fez pequeno para mim, e se tornou
excessivamente amável”.
Ah! Quem olha com fé um Deus feito
menino a chorar e gemer sobre a palha, numa gruta, por amor de nós, como poderia
deixar de amá-lo e convidar a todos a amá-lo, como fazia S. Francisco de Assis
que dizia: Amemos o Menino de Belém, amemos o Menino de Belém! É uma criança,
não fala, só solta vagidos, que são outros tantos gritos de amor com que nos
convida a amá-lo e a dar-lhe o nosso coração.
Considera ainda que as crianças
ganham o afeto por sua inocência. Todavia todas as outras crianças vêm ao mundo
com a mancha do pecado original, ao passo que Jesus nasce em perfeita
santidade, sem mancha alguma. O meu Dileto, dizia a Esposa sagrada, é todo
rubro de amor e branco de inocência e pureza. Esse celeste Menino constitui as
delícias do Padre eterno, porque, como diz S. Gregório, é o único absolutamente
puro a seus olhos.
Mas, consolemo-nos, embora sejamos
pobres pecadores; esse divino Infante veio do céu para comunicar-nos a sua inocência
por sua Paixão. Os seus méritos, se deles soubermos aproveitar-nos, podem
mudar-nos de pecadores em santos. Ponhamos pois toda a nossa confiança nos
méritos de Jesus Cristo; peçamos sempre por eles ao Pai eterno as graças que
desejamos, e tudo nos será concedido.
Afetos e Súplicas.
Pai
celeste, eu miserável pecador digno do inferno, nada tenho para oferecer-vos as
lágrimas, as penas, o sangue, a morte desse Menino inocente, que é vosso Filho,
e peço-vos misericórdia por seus méritos. Se não tivesse esse divino Filho para
vo-lo oferecer, estaria perdido, e não haveria mais esperança para mim; mas vós
mo destes a fim que, oferecendo-vos os seus méritos, tenha esperança de
salvação. Senhor, bem grande foi minha ingratidão, porém maior ainda é a vossa
misericórdia. E que maior misericórdia podia eu esperar de vós que de me dardes
o vosso próprio Filho por Redentor e como vítima que eu vos pudesse oferecer
por meus pecados? Pelo amor de Jesus Cristo, perdoai as minhas ofensas;
arrependo-me de todo o coração de vos haver desgostado, Bondade infinita! E
também pelo amor de Jesus dai-me a santa perseverança. Ah! meu Deus, se
tornasse a ofender-vos depois que me esperastes com tantas paciência. me
aclarastes com tantas luzes, e me perdoastes com tanto amor, não mereceria um
inferno criado expressamente para mim? Ah! meu Pai, não me abandoneis; tremo ao
pensar nas infidelidades de que me tornei culpado para convosco; quantas vezes
vos voltei as costas depois de ter prometido amar-vos! Ó meu Criador, não
permitais tenha eu a deplorar a desgraça de ver-me de novo privado da vossa
graça e separado de vós. Não permitais me separe de vós! não permitais me
separe de vós! Repito essa prece e quero repeti-la até o derradeiro suspiro de
minha vida; mas dai-me a graça de repeti-la sem cessar Não permitais me separe
de vós! Meu Jesus, ó caro Infante, prendei-me a vós pelas cadeias do vosso
amor; amo-vos e quero amar-vos eternamente; não permitais me separe jamais de
vosso amor.
Amo-vos
também, Maria, minha Mãe; dignai-vos amar-me também, e como penhor de amor,
obtende-me a graça de não cessar jamais de amar o meu Deus.
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