sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Meditações para o Natal (XII)



A minha dor está sempre ante os meus olhos (Is 37,18).


Considera que todas as penas e todas as ignomínias sofridas por Jesus Cristo durante sua vida e sua morte, estava sempre presentes a seu espírito desde o primeiro momento de sua existência: A minha dor está sempre diante dos meus olhos; começou desde então a oferecê-las em satisfação dos nossos pecados, agindo já como nosso Redentor. Segundo revelação feita por Ele a um dos meus servos, Ele sofreu sem cessar desde o começo de sua vida até a morte e sofreu tanto por causa de cada pecado que, se tivesse tido tantas vidas quantos são os homens, Ele teria outras tantas vezes sofrido e morrido de dor, se Deus lhe não houvera conservado a vida para sofrer ainda mais.

Ah! que martírio para o coração tão terno de Jesus ter continuamente diante dos olhos todos os pecados dos homens! Já no seio de Maria, viu sempre em particular, diz S. Bernardino de Sena, toda falta de cada um de nós, e cada uma dessas faltas o afligia imensamente. Segundo S. Tomás, a dor que Jesus provou à vista das injúrias feitas a seu Pai e do dano causado pelo pecado às almas por Ele amadas, excedeu a dor de todos os pecadores contritos, mesmo dos que morreram de pura dor. E de fato, jamais pecador algum amou a Deus e a sua alma como Jesus amava a seu Pai e as nossas almas; por isso a cruel agonia que sofreu no jardim das Oliveiras à vista de todas as nossas iniquidades, que se encarregara de expiar, Ele a sofreu desde o seio de sua Mãe. Sou pobre e em trabalhos desde a minha mocidade. Assim pela boca de Davi o nosso Salvador predisse que toda a sua vida devia ser um sofrimento contínuo. Daí deduz S. João Crisóstomo que não devemos contristar-nos senão do pecado, e já que os pecados afligiram Jesus durante toda a sua vida, assim nós, que o temos cometido, devemos ter deles dor contínua, lembrando-nos de haver ofendido um Deus que nos amou tanto. — S. Margarida de Cortona não cessava de deplorar suas faltas; o seu confessor disse-lhe um dia: “Margarida, basta, não chores mais; Deu já te perdoou”. — “Ah! meu pai, respondeu, como posso deixar de chorar esses pecados, pelos quais Jesus Cristo se afligiu toda a sua vida?”

Afetos e Súplicas.

Eis, meu Jesus, a vossos pés o ingrato, o perseguidor que encheu de amargura toda a vossa vida. Mas dir-vos-ei com Ezequias: E tu livrastes a minha alma para ela não perecer, lançaste para trás das vossas costas todos os meus pecados. Eu vos ofendi e vos feri com numerosos pecados, e vós não recusastes carregar-vos de todas as minhas iniquidades; lancei voluntariamente minha alma ao fogo do inferno, cada vez que consenti em ofender-vos gravemente, e vós não deixastes de libertá-la com vosso sangue e de retirá-la do abismo. — Meu amado Redentor, agradeço-vos. Quisera morrer de dor quando penso que tenho maltratado tanto a vossa bondade infinita. Ó meu Amor, perdoai-me e vinde tomar posse de todo o meu coração. Dissestes que vos não dedignais de entrar na casa de quem vos abre a porta e de morar com ele: Se alguém me abrir a porta, entrarei e cearei com ele. Se outrora vos repeli, agora vos amo e nada mais desejo do que a vossa graça. A porta está aberta, entrai em meu pobre coração para dele nunca mais sair. É pobre, mas a vossa presença o tornará rico: sim, serei rico enquanto vos possuir, ó Bem supremo!

Ó Rainha do céu, Mãe dolorosa desse Filho cheio de dores, eu também vos tenho causado dores, pois que participastes em grande parte das dores de Jesus; perdoai-me, pois, minha Mãe, e obtende-me a graça de ser fiel, agora que, como espero, Jesus entrou em minha alma.

(Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo – Santo Afonso Maria de Ligório)

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