A minha dor está sempre ante os meus olhos (Is 37,18).
Considera
que todas as penas e todas as ignomínias sofridas por Jesus Cristo durante sua
vida e sua morte, estava sempre presentes a seu espírito desde o primeiro
momento de sua existência: A minha dor está sempre diante dos meus olhos;
começou desde então a oferecê-las em satisfação dos nossos pecados, agindo já
como nosso Redentor. Segundo revelação feita por Ele a um dos meus servos, Ele
sofreu sem cessar desde o começo de sua vida até a morte e sofreu tanto por
causa de cada pecado que, se tivesse tido tantas vidas quantos são os homens,
Ele teria outras tantas vezes sofrido e morrido de dor, se Deus lhe não houvera
conservado a vida para sofrer ainda mais.
Ah!
que martírio para o coração tão terno de
Jesus ter continuamente diante dos olhos todos os pecados dos homens! Já no
seio de Maria, viu sempre em particular, diz S. Bernardino de Sena, toda falta
de cada um de nós, e cada uma dessas faltas o afligia imensamente. Segundo S.
Tomás, a dor que Jesus provou à vista das injúrias feitas a seu Pai e do dano
causado pelo pecado às almas por Ele amadas, excedeu a dor de todos os
pecadores contritos, mesmo dos que morreram de pura dor. E de fato, jamais
pecador algum amou a Deus e a sua alma como Jesus amava a seu Pai e as nossas
almas; por isso a cruel agonia que
sofreu no jardim das Oliveiras à vista de todas as nossas iniquidades, que se
encarregara de expiar, Ele a sofreu desde o seio de sua Mãe. Sou pobre e em
trabalhos desde a minha mocidade. Assim pela boca de Davi o nosso Salvador
predisse que toda a sua vida devia ser um sofrimento contínuo. Daí deduz S.
João Crisóstomo que não devemos contristar-nos senão do pecado, e já que os
pecados afligiram Jesus durante toda a sua vida, assim nós, que o temos cometido,
devemos ter deles dor contínua, lembrando-nos de haver ofendido um Deus que nos
amou tanto. — S. Margarida de Cortona não cessava de deplorar suas faltas; o
seu confessor disse-lhe um dia: “Margarida, basta, não chores mais; Deu já te
perdoou”. — “Ah! meu pai, respondeu, como posso deixar de chorar esses pecados,
pelos quais Jesus Cristo se afligiu toda a sua vida?”
Afetos e Súplicas.
Eis, meu Jesus, a vossos
pés o ingrato, o perseguidor que encheu de amargura toda a vossa vida. Mas
dir-vos-ei com Ezequias: E tu livrastes a minha alma para ela não perecer, lançaste
para trás das vossas costas todos os meus pecados. Eu vos ofendi e vos feri com
numerosos pecados, e vós não recusastes carregar-vos de todas as minhas iniquidades;
lancei voluntariamente minha alma ao fogo do inferno, cada vez que consenti em
ofender-vos gravemente, e vós não deixastes de libertá-la com vosso sangue e de
retirá-la do abismo. — Meu amado Redentor, agradeço-vos. Quisera morrer de dor
quando penso que tenho maltratado tanto a vossa bondade infinita. Ó meu Amor,
perdoai-me e vinde tomar posse de todo o meu coração. Dissestes que vos não
dedignais de entrar na casa de quem vos abre a porta e de morar com ele: Se
alguém me abrir a porta, entrarei e cearei com ele. Se outrora vos repeli, agora
vos amo e nada mais desejo do que a vossa graça. A porta está aberta, entrai em
meu pobre coração para dele nunca mais sair. É pobre, mas a vossa presença o
tornará rico: sim, serei rico enquanto vos possuir, ó Bem supremo!
Ó Rainha do céu, Mãe dolorosa
desse Filho cheio de dores, eu também vos tenho causado dores, pois que participastes
em grande parte das dores de Jesus; perdoai-me, pois, minha Mãe, e obtende-me a
graça de ser fiel, agora que, como espero, Jesus entrou em minha alma.
(Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus
Cristo – Santo Afonso Maria de Ligório)
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