O Senhor operou na terra um prodígio novo (Jr 31,22).
Antes
da vinda do Messias, o mundo estava sepultado numa noite tenebrosa de
ignorância e iniquidade. O verdadeiro Deus era apenas conhecido em um só canto
do globo terrestre, isto é, na Judéia. Em toda parte adoravam-se como
divindades os demônios, os animais e as pedras. Em toda parte reinava a noite
do pecado, que cega as almas, enche-as de vícios, e as impede de ver o
miserável estado em que vivem, inimigas de Deus, condenadas ao inferno: Espalhastes
as trevas, e fez-se a noite; é então que se põem em movimento todos os animais
da selva. Jesus veio libertar o mundo dessas trevas: Aos que habitavam na
região da sombra nasceu-lhes a luz. Libertou-o da idolatria, esclarecendo-o
sobre o verdadeiro Deus, e o libertou do pecado pela luz da sua doutrina e de
seus divinos exemplos: Para destruir as obras do demônio é que o Filho de Deus
veio ao mundo. O profeta Jeremias anunciou que Deus iria criar o Redentor dos
homens. Essa criação nova foi Jesus Cristo, o Filho de Deus, as delícias do
paraíso e o amor de seu Pai, que disse dele: Eis o meu Filho dileto, no qual
pus as minhas complacências. Foi o Unigênito de Deus que se fez homem. É uma
criação nova, pois desde o primeiro momento de sua existência, rendeu mais
glória e honra a Deus do que o fizeram e o farão todos os anjos e santos juntos
durante toda a eternidade. Eis por que os anjos cantaram no nascimento de
Jesus: Glória a Deus no mais alto dos céus. O Menino Jesus glorificou mais a Deus do que o desonraram todos os
pecados dos homens.
Tenhamos
pois coragem, nós pobres pecadores: ofereçamos esse divino Menino ao Pai
eterno; apresentemos-lhe as lágrimas, a obediência, a humildade, a morte e os
méritos de Jesus que assim repararemos toda a desonra que lhe causamos com as
nossas ofensas.
Afetos e Súplicas.
Ah! Deus eterno, eu vos
tenho desonrado preferindo tantas vezes a minha vontade à vossa, e as minhas
vis e miseráveis satisfações à vossa santa graça. Que esperança de perdão
haveria para mim se me não houvéreis dado Jesus Cristo precisamente para Ele
ver, segundo a palavra de S. João, nossa vítima propiciatória, e a esperança
dos pecadores? Sim, porque Jesus Cristo oferecendo-vos o sacrifício de sua vida
para expirar nossos ultrajes a vossa divina Majestade, vos rendeu mais honra do
que nós vos causamos desonra com os nossos pecados. Recebei-me, pois, meu Pai,
por amor de Jesus Cristo. Arrependo-me de vos haver ultrajado. Pequei contra o
céu e contra vós, já não sou digno de ser chamado vosso filho; não mereço
perdão, mas Jesus merece que o atendais. Ele pediu por mim na cruz, dizendo: Pai,
perdoai-lhes; e agora ainda no céu vos pede me recebais no número dos vossos
filhos. Recebei este filho ingrato, que vos deixou outrora, mas que hoje se torna
a vós resolvido a amar-vos. Sim, meu Pai, eu amo e quero amar-vos sempre. Ah!
Pai amável, conhecendo agora o amor que me tendes e a paciência com que me
tendes esperado durante tantos anos, não posso mais viver sem vos amar. Dai-me
um grande amor que me faça chorar incessantemente as minhas ofensas para com um
Pai tão bom; fazei que eu arda sempre de amor por vós, que sois um Pai tão
amante. Ó meu Pai, amo-vos, amo-vos, amo-vos.
Ó Maria, Deus é meu Pai, e
vós sois a minha Mãe. Vós podeis tudo junto de Deus: obtende-me seu santo amor
e a santa perseverança.
(Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo – Santo Afonso
Maria de Ligório)
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