Deus, que é rico em misericórdia, premido pelo excessivo amor com
que nos amou, quando éramos mortos pelos nossos pecados,
nos deu a vida em Jesus Cristo (Ef 2,4).
Considera
que a morte da alma é o pecado, pois esse inimigo de Deus nos tira a graça, que
é a vida de nossa alma. Em consequência de nossas culpas, estávamos todos
mortos e condenados ao inferno; e Deus, movido de extremo amor por nossas
almas, quis restituir-nos a vida. E que fez? enviou à terra seu unigênito
Filho, a fim de que por sua morte nos
fosse recuperada a vida.
O
apóstolo tem, pois razão de chamar essa obra divina um excesso de amor: Nimiam caritatem; pois o homem nunca poderia
esperar lhe fosse restituída a vida de maneira tão amorosa, se, segundo uma
outra expressão de S. Paulo, Deus não tivesse encontrado esse meio de resgate. Todos
os homens estavam mortos, e não havia remédio para eles; mas o Filho de Deus,
movido pelas entranhas de sua misericórdia, desceu do céu e deu-nos a vida. Com
justiça, pois o apóstolo chama Jesus Cristo a nossa Vida.
Eis
pois esse divino Redentor revestido da nossa carne e feito menino por nós: Eu
vim, diz Ele, para que minhas ovelhas tenham a vida e uma vida mais abundante. Ele
veio tomar para si a morte a fim de nos dar a vida. Não é, pois justo que vivamos
unicamente para esse Deus que quis morrer por nós? Cristo morreu por todos, a
fim de que os que vivem, não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que
morreu por eles. Não é justo que Jesus Cristo seja o único Senhor de nosso coração,
Ele que deu seu sangue e sua vida para conquistá-lo? O Cristo morreu e
ressuscitou, ajunta o mesmo, a fim de reinar sobre os mortos e os vivos. Oh!
Deus, qual seria o ingrato e o infeliz que, crendo pela fé que um Deus morreu
para obter o seu amor, recusaria amá-lo e, renunciando a sua amizade, quereria
tornar-se voluntariamente escravo do inferno?
Afetos e Súplicas.
Ó meu Jesus, se não
tivésseis aceito e sofrido a morte por mim, eu permaneceria na morte do pecado,
sem esperança de salvar-me nem de poder jamais amar-vos. Por vossa morte me
restituístes a vida; mas eu a perdi depois voluntariamente e muitas vezes,
tornando a pecar. Morrestes para ganhar o meu coração, e eu, com minhas
rebeliões, o fiz escravo do demônio; eu vos tenho desprezado e recusado
reconhecer-vos por meu Senhor. Tudo isso é verdade, mas é verdade também que
não quereis a morte do pecador, mas que se converta e viva, e morrestes para
dar-nos a vida. Arrependo-me de vos haver ofendido, meu caro Redentor; perdoai-me
pelos méritos de vossa Paixão. Dai-me a vossa graça, dai-me a preciosa vida que
me adquiristes com a vossa morte e reinai de hoje em diante plenamente em meu
coração. Não quero mais estar sob o poder do demônio: ele não é o meu Deus, ele
não me ama, ele nada sofreu por mim. O demônio nunca foi o legítimo possuidor
do meu coração, ele o roubou; vós só, meu Jesus, vós só sois o seu verdadeiro
dono, vós que me criastes e me resgatastes com o vosso sangue; só vós me tendes
amado, e a que ponto! É, pois justo que vos consagre sem reserva o resto de
minha vida. Dizei o que quereis de mim, quero satisfazer-vos em tudo.
Castigai-me como vos aprouver, submeto-me a tudo; poupai-me somente o castigo
de viver sem o vosso amor: fazei que vos ame e disponde de mim como vos
aprouver.
Ó Maria, meu refúgio e
minha consolação, recomendai-me a vosso divino Filho: a sua morte e a vossa
intercessão são todas as minhas esperanças.
(Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo – Santo Afonso
Maria de Ligório)
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