Vós tirareis com gosto águas das fontes do Salvador (Is 12,3).
Considera
as quatro fontes de graças que temos em Jesus Cristo, contempladas por S.
Bernardo.
A
primeira é uma fonte de misericórdia, em que podemos
purificar-nos de todas as manchas do pecado. Essa fonte foi para nós formada
com as lágrimas e o sangue do nosso Redentor: Ele nos amou e nos lavou dos
nossos pecados com seu sangue.
A
segunda é uma fonte de paz e de consolação em nossas penas.
Invocai-me no dia da aflição, diz-nos Jesus, e eu vos consolarei. Se alguém tem
sede das verdadeiras consolações possíveis nesta vida, venha a mim, que eu o
contentarei. Quem bebe da água que eu darei, já não terá sede: virá a ser nele
uma fonte de água que salte para a vida eterna. Isto é: Quem provar as águas do
meu amor desprezará para sempre as delícias do mundo; ficará plenamente
satisfeito quando entrar na mansão dos eleitos, porque a água da minha graça o
levará ao céu. A paz que o Senhor dá às almas que o amam, não é a paz que o
mundo nos promete quando nos convida aos prazeres sensuais; estes deixam após
si mais amargura do que paz; a paz que Deus dá excede todos os prazeres dos
sentido. Bem-aventurados os que tem sede das águas dessa fonte divina.
A
terceira é uma fonte de devoção. Oh! como se torna devoto e
pronto para obedecer à voz de Deus, como cresce sem-pre em virtudes, quem a
miúdo medita o que Jesus Cristo fez por amor de nós! Será como uma árvore
plantada junto às correntes das águas.
A
quarta é uma fonte de amor. A meditação acenderá o fogo na
minha alma. Não é possível que, quem medita os padecimentos e as humilhações
que Jesus suportou por nosso amor, não se sinta inflamado do belo fogo que Ele
veio trazer à terra.
Assim
se verifica perfeitamente a palavra do profeta, que quem se aproveita dessas
felizes fontes abertas para nós em Jesus Cristo, delas tira sem cessar águas de
alegria e salvação: Vós tirareis com gosto águas das fontes do Salvador.
Afetos e Súplicas.
Ó doce e caro Salvador meu,
quanto vos devo! quanto me tendes obrigado a amar-vos, já que por mim fizestes
o que não faria um servo para o seu senhor nem um filho para seu pai! Se, pois
me tendes amado mais do que qualquer outro, é justo que vos ame mais do que
todos os outros. Quisera morrer de dor, quando penso que tanto padecestes por
mim, que levastes o amor a aceitar a morte mais cruel e mais ignominiosa que
possa um homem sofrer, e que eu tantas vezes tenho desprezado a vossa amizade.
Quantas vezes me perdoastes e eu tornei a desprezar-vos! Mas os vossos méritos
são a minha esperança. Agora prefiro a vossa graça a todos os reinos da terra.
Amo-vos, e por amor de vós aceito qualquer espécie de pena e de morte. Se sou
indigno de morrer pela mão dos algozes para glória vossa, aceito ao menos de
coração a morte que me destinastes; aceito-a da maneira e no tempo que haveis
determinado.
Maria, minha Mãe,
obtende-me a graça de passar toda a minha vida e de morrer no amor de Jesus.
(Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus
Cristo – Santo Afonso Maria de Ligório)
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