sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Meditações para o tempo de Natal (III)



JESUS ENVOLTO EM PANOS.



Representai-vos Maria que, tendo dado à luz seu divino Filho, o toma respeitosamente em seus braços e, depois de adorá-lo como seu Deus, o envolve em panos. Assim atesta o Evangelho, e a Santa Igreja o repete em seus cânticos:

Membra pannis involuta
Virgo Mater alligat.

Vede a Jesus Menino que, obediente, oferece suas mãozinhas, estende seus pezinhos e se deixa envolver. Considerai como cada vez que sua Mãe o apertava assim nos paninhos, o santo Menino pensava nas cordas com que seria ligado um dia no jardim das Oliveiras, depois atado a uma coluna, e nos cravos que deviam prendê-lo na cruz; e como, assim pensando, Ele sofria voluntariamente aqueles laços a fim de livrar nossas almas das cadeias do inferno. Jesus, estreitamente apertado nos paninhos, dirige-se a nós e convida a nos unirmos estreitamente a Ele pelos doces vínculos do amor; e voltando-se a seu Pai eterno, diz-lhe: Meu Pai, os homens abusaram de sua liberdade e, revoltando-se contra vós, tornaram-se escravos do pecado; para expiar a sua desobediência consinto em ser ligado e apertado nestes panos. Nesse estado, faço-vos o sacrifício de minha liberdade, a fim de que o homem seja libertado da escravidão do demônio. Aceito estes panos; são-me caros, e tanto mais caros porque representam as cordas com as quais me ofereço a ser um dia atado e conduzido à morte para a salvação dos homens.

Os seus vínculos, os de Jesus, são ligadura salutar para curar as chagas de nossa alma. — Meu Jesus, quisestes, pois ser ligado em paninhos por amor de mim. Ó divina caridade, direi com S. Lourenço Justiniano, só tu pudeste fazer meu Deus meu prisioneiro. — E eu, Senhor, recusaria ainda deixar-me unir a vós por vosso santo amor? teria ainda a triste coragem de romper vossas doces e amáveis cadeias, e isso, para tornar-me escravo do inferno? Meu Jesus, estais ligado no presépio por meu amor; quero permanecer sempre preso a vós.

S. Maria Madalena de Pazzi dizia que esses panos significam para nós a firme resolução de nos unirmos a Deus pelos laços do amor e de nos desapegarmos de tudo que não é Deus. Para esse mesmo fim, como é evidente, e para ver as almas diletas enlaçadas pelos vínculos de seu amor, é que nosso amantíssimo Jesus quis ficar nos altares como ligado e preso sob as espécies do Santíssimo Sacramento. 


Afetos e Súplicas.

Querido Menino, como poderia eu temer os vossos castigos quando vos vejo enfaixado, privado, por assim dizer, do poder de levantar a mão para punir-me? Com isso dais-me a entender que não tendes a intenção de castigar-me, se eu quiser sacudir o jugo de minhas paixões e prender-me a vós. Sim, meu Jesus, quero libertar-me dele. Arrependo-me profundamente de me haver separado de vós abusando da liberdade que me destes. Ofereceis-me uma outra liberdade, uma liberdade mais bela, e que me deve livrar das cadeias do demônio e colocar-me no número dos filhos de Deus. Deixastes-vos aprisionar nesses paninhos humildes por seu amor; quero ser prisioneiro do vosso grande amor. Ó felizes cadeias, belos laços de salvação, que prendeis as almas a Deus, vinculai também meu pobre coração; cingi-o tão fortemente que não possa mais separar-me do amor desse bem supremo. Meu Jesus, amo-vos, uno-me a vós, dou-vos todo o meu coração, toda a minha vontade. Meu amado Senhor, estou resolvido a nunca mais deixar-vos. Ah! meu doce Salvador, vós que, para apagar minhas dívidas, quisestes não só vos deixar enfaixar por vossa santa Mãe, mas também ser maltratado como um criminoso pelos algozes e nesse estado arrastar-vos pelas ruas de Jerusalém para serdes em fim conduzido à morte como um inocente cordeiro que se leva ao matadouro; vós que quisestes ser pregado na cruz e que não deixastes senão com a vossa morte, eu vos conjuro, não permitais tenha eu ainda a infelicidade de separar-me de vós e de me ver privado da vossa graça e do vosso amor.

Ó Maria, que outrora enfaixastes em paninhos o vosso Filho inocente, prendei também a mim pecador, prendei-me a Jesus, a fim que não mais me afaste de seus pés, que viva sempre preso a Ele e que morra unido a Ele, para ter a felicidade de entrar um dia na pátria bem-aventurada, onde estarei fora do perigo e do temor de separar-me ainda de seu santo amor.

(Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo – Santo Afonso Maria de Ligório)

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