JESUS ENVOLTO EM PANOS.
Representai-vos
Maria que, tendo dado à luz seu divino Filho, o toma respeitosamente em seus
braços e, depois de adorá-lo como seu Deus, o envolve em panos. Assim atesta o
Evangelho, e a Santa Igreja o repete em seus cânticos:
Membra
pannis involuta
Virgo
Mater alligat.
Vede
a Jesus Menino que, obediente, oferece suas mãozinhas, estende seus pezinhos e
se deixa envolver. Considerai como cada vez que sua Mãe o apertava assim nos
paninhos, o santo Menino pensava nas cordas com que seria ligado um dia no
jardim das Oliveiras, depois atado a uma coluna, e nos cravos que deviam
prendê-lo na cruz; e como, assim pensando, Ele sofria voluntariamente aqueles
laços a fim de livrar nossas almas das cadeias do inferno. Jesus, estreitamente
apertado nos paninhos, dirige-se a nós e convida a nos unirmos estreitamente a
Ele pelos doces vínculos do amor; e voltando-se a seu Pai eterno, diz-lhe: Meu
Pai, os homens abusaram de sua liberdade e, revoltando-se contra vós,
tornaram-se escravos do pecado; para expiar a sua desobediência consinto em ser
ligado e apertado nestes panos. Nesse estado, faço-vos o sacrifício de minha
liberdade, a fim de que o homem seja libertado da escravidão do demônio. Aceito
estes panos; são-me caros, e tanto mais caros porque representam as cordas com
as quais me ofereço a ser um dia atado e conduzido à morte para a salvação dos
homens.
Os
seus vínculos, os de Jesus, são ligadura salutar para curar as chagas de nossa
alma. — Meu Jesus, quisestes, pois ser ligado em paninhos por amor de mim. Ó
divina caridade, direi com S. Lourenço Justiniano, só tu pudeste fazer meu Deus
meu prisioneiro. — E eu, Senhor, recusaria ainda deixar-me unir a vós por vosso
santo amor? teria ainda a triste coragem de romper vossas doces e amáveis
cadeias, e isso, para tornar-me escravo do inferno? Meu Jesus, estais ligado no
presépio por meu amor; quero permanecer sempre preso a vós.
S.
Maria Madalena de Pazzi dizia que esses panos significam para nós a firme
resolução de nos unirmos a Deus pelos laços do amor e de nos desapegarmos de
tudo que não é Deus. Para esse mesmo fim, como é evidente, e para ver as almas
diletas enlaçadas pelos vínculos de seu amor, é que nosso amantíssimo Jesus
quis ficar nos altares como ligado e preso sob as espécies do Santíssimo
Sacramento.
Afetos e Súplicas.
Querido Menino, como
poderia eu temer os vossos castigos quando vos vejo enfaixado, privado, por
assim dizer, do poder de levantar a mão para punir-me? Com isso dais-me a
entender que não tendes a intenção de castigar-me, se eu quiser sacudir o jugo
de minhas paixões e prender-me a vós. Sim, meu Jesus, quero libertar-me dele.
Arrependo-me profundamente de me haver separado de vós abusando da liberdade
que me destes. Ofereceis-me uma outra liberdade, uma liberdade mais bela, e que
me deve livrar das cadeias do demônio e colocar-me no número dos filhos de
Deus. Deixastes-vos aprisionar nesses paninhos humildes por seu amor; quero ser
prisioneiro do vosso grande amor. Ó felizes cadeias, belos laços de salvação,
que prendeis as almas a Deus, vinculai também meu pobre coração; cingi-o tão
fortemente que não possa mais separar-me do amor desse bem supremo. Meu Jesus,
amo-vos, uno-me a vós, dou-vos todo o meu coração, toda a minha vontade. Meu
amado Senhor, estou resolvido a nunca mais deixar-vos. Ah! meu doce Salvador,
vós que, para apagar minhas dívidas, quisestes não só vos deixar enfaixar por
vossa santa Mãe, mas também ser maltratado como um criminoso pelos algozes e
nesse estado arrastar-vos pelas ruas de Jerusalém para serdes em fim conduzido
à morte como um inocente cordeiro que se leva ao matadouro; vós que quisestes
ser pregado na cruz e que não deixastes senão com a vossa morte, eu vos
conjuro, não permitais tenha eu ainda a infelicidade de separar-me de vós e de
me ver privado da vossa graça e do vosso amor.
Ó Maria, que outrora enfaixastes
em paninhos o vosso Filho inocente, prendei também a mim pecador, prendei-me a
Jesus, a fim que não mais me afaste de seus pés, que viva sempre preso a Ele e
que morra unido a Ele, para ter a felicidade de entrar um dia na pátria
bem-aventurada, onde estarei fora do perigo e do temor de separar-me ainda de
seu santo amor.
(Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo – Santo Afonso
Maria de Ligório)
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