Achareis um menino reclinado num presépio (Lc 2,12).
Um
Deus nascido num estábulo!... Tomada de admiração ao contemplar esse prodígio, a
Santa Igreja exclama: “Ó grande mistério,
ó estupenda maravilha! animais veem o seu Deus, o Senhor do universo, recém-nascido
e reclinado num presépio!”
Para
contemplarmos com amor e ternura o nascimento de Jesus Cristo, devemos pedir ao
Senhor nos dê uma fé viva. Se entrarmos sem fé na gruta de Belém, tudo se nos
reduzirá a um sentimento de compaixão à vista duma criancinha tão pobre, que,
nascendo no coração do inverno, está reclinada num presépio, sem lume, numa
caverna fria. Ao contrário, se entrarmos com fé, consideraremos maduramente por
que excesso de bondade e amor, um Deus quis humilhar-se ao ponto de aparecer
como uma criança envolta em paninhos, reclinada sobre palha, chorando e
tremendo de frio, sem poder mover-se e necessitada de leite para viver: e então
como não nos sentirmos atraídos e docemente constrangidos a dar todos os nossos
afetos a esse Deus-Menino que se reduziu a tal estado para se fazer amar?
Depois
de haverem visitado a Jesus no estábulo, narra S. Lucas, os pastores voltaram
glorificando e louvando a Deus por tudo quanto tinham ouvido e visto. Mas que
haviam eles visto? Nada mais que uma pobre criança a tremer de frio sobre um
pouco de palha; mas aclarados pela fé, reconheceram naquela criança o excesso
do amor divino e, inflamados desse amor, foram-se louvando e bendizendo o
Senhor, que lhes havia dado a graça de ver um Deus humilhado, aniquilado por
amor dos homens.
Afetos e Súplicas.
Ó doce e amável Menino,
embora vos veja tão pobre sobre a palha, reconheço-vos e adoro-vos como meu
Senhor e Criador. Sei quem vos reduziu a tão miserável estado: foi o vosso amor
por mim. Recordando-me, pois, meu Jesus, da maneira com que vos tratei no
passado, das injúrias que vos fiz, admiro-me de me haverdes suportado. — Ah!
pecados malditos, que fizestes? Enchestes de amargura o coração do meu amado
Senhor! — Ah! meu caro Salvador, pelas dores que suportastes e pelas lágrimas
que derramastes no estábulo de Belém, dai-me lágrimas, dai-me uma grande dor
que me faça chorar toda a minha vida os desgostos que vos dei. Dai-me amor para
convosco, mas um amor que compense as ofensas que vos fiz. Amo-vos, meu
pequenino Salvador, amo-vos, meu Deus-Menino, amo-vos, meu amor, minha vida,
meu tudo; prometo não amar doravante senão a vós. Ajudai-me com a vossa graça
sem a qual nada posso.
Maria, minha esperança,
obtendes tudo o que quereis de vosso Filho; pedi-lhe me conceda seu santo amor.
Ó minha Mãe, atendei-me.
(Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus
Cristo – Santo Afonso Maria de Ligório)
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